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Produção de caminhões cai e arrasta a indústria

Dados da Anfavea apontam recuo de 28,8% na produção de fevereiro; resultado deve impactar a atividade da indústria nos próximos meses 

Por Daniela Amorim (Broadcast) e da Agência Estado
Atualização:

A queda na produção de caminhões ameaça voltar a impactar forte a produção da indústria nacional pelos próximos meses. Dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) apontam recuo de 28,8% no número de caminhões produzidos em fevereiro, na comparação com o mesmo mês do ano passado. Diante da demanda menos aquecida, montadoras já preveem novas férias coletivas a partir de abril.

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Em janeiro, o resultado da produção industrial já tinha sido prejudicado por férias coletivas em quase todo o setor. A paralisação teve o intuito de adequar o parque industrial à exigência prevista na legislação de mudança do motor para o modelo Euro 5, com tecnologia menos poluente. O segmento contribuiu para a queda de 2,1% na produção total do País de janeiro em relação a dezembro e de 3,4% na comparação com janeiro de 2011.

A Mercedes-Benz já anunciou férias coletivas de 2 a 11 de abril, o equivalente a sete dias úteis. "Por conta da recente queda da demanda por veículos comerciais no mercado brasileiro no curto prazo, estamos ajustando nosso volume de produção à realidade de demanda do mercado no momento", disse Mário Laffitte, diretor de Comunicação da Mercedes-Benz.

A Scania informou que está negociando com o sindicato dos metalúrgicos uma nova paralisação de dez dias, sendo quatro deles entre abril e maio. As datas ainda não foram definidas. A montadora negocia uma flexibilização do período, porque os funcionários não têm saldo disponível, após as férias coletivas de 30 dias concedidas em janeiro.

De acordo com o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, a Ford também estaria planejando dez dias de férias coletivas em julho e os funcionários não teriam voltado com força total ao trabalho após a paralisação de janeiro. "Na Ford, os empregados estão trabalhando apenas três dias por semana desde fevereiro, porque a produção está menor", alertou Sérgio Nobre, presidente do sindicato.

A Ford confirmou que os funcionários estão trabalhando menos em março, mas com expediente de quatro dias na semana, não três. Em fevereiro, a jornada de trabalho teria sido cumprida normalmente. Por e-mail, a montadora disse que "não confirma neste momento paralisação em sua fábrica de caminhões e afirma que seu volume de produção está ajustado às condições de mercado".

Contaminação. A Anfavea aponta que foram produzidos 11.974 caminhões em fevereiro de 2012, ante 16.806 em fevereiro de 2011. A fabricação de veículos responde por 10% a 11% da taxa da produção industrial; os caminhões têm fatia de 1,5%. Se as novas paralisações nas linhas de montagem ocorrerem de fato, podem contaminar a fabricação de peças, motores e chassis.

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"Há um encadeamento da produção. Em janeiro, o restante da cadeia teve produção menor com a produção final parada", explicou André Macedo, gerente da Coordenação de Indústria do IBGE.

O sindicato teme que a queda leve ainda a um corte de pessoal. "O saldo de fevereiro foi abaixo das expectativas e prevemos que abril será um mês ruim. Claro que começa a pressão por demissões", disse Nobre.

As perdas em março podem ser de intensidade inferior às de fevereiro por conta do efeito calendário, lembra Silvio Sales, consultor do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV).

"Em 2011, o carnaval ocorreu em março e em 2012, em fevereiro. E o carnaval é um feriado forte. Então a perda pode ser devolvida em alguma medida em março", previu Sales. 

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