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Produção industrial cai 1,1% em 2019 após dois anos de alta

Resultado foi afetado pelo rompimento da barragem da Vale em Brumadinho; indústria extrativa encolheu 9,7% no ano, o pior desempenho da série histórica iniciada em 2003

Por Daniela Amorim (Broadcast)
Atualização:

RIO - A indústria brasileira interrompeu em 2019 a trajetória de recuperação iniciada após a recessão econômica. A produção encolheu 1,1%, depois de dois anos consecutivos de avanços, segundo os dados da Pesquisa Industrial Mensal divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta terça-feira, 4.

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A queda já era estimada por analistas do mercado financeiro ouvidos pelo Projeções Broadcast. O resultado foi fortemente afetado pelo rompimento da barragem da mineradora Vale na região de Brumadinho, em Minas Gerais, em janeiro do ano passado. A produção das indústrias extrativas encolheu 9,7% em 2019, pior resultado da série histórica iniciada em 2003.

“É minério de ferro. Petróleo e gás teve resultado positivo, apesar de ter começado o ano com tendência de queda, com uma frequência maior de paralisação de plataformas para manutenção, mas foi apresentando recuperação ao longo do ano”, disse André Macedo, gerente na Coordenação de Indústria do IBGE.

No entanto, houve perdas também na maioria das atividades da indústria de transformação, que teve alta de apenas 0,2% no ano.

“No ano, Brumadinho afeta o resultado. Para além disso, tem predomínio de atividades em queda. Das 26 atividades investigadas, 16 estão no campo negativo”, afirmou Macedo. “Expurgado o desempenho das extrativas, a transformação está muito próxima da margem, não posso chamar de um crescimento claro. Mesmo no campo positivo, tenho 15 das 25 atividades da transformação com queda”, completou o pesquisador do IBGE.

A indústria alimentícia foi a que mais ajudou a evitar uma queda ainda maior na indústria em 2019, graças à demanda por carnes.

Produção de minério de ferro em 2019 foi fortemente afetada pela tragédia de Brumadinho. Foto: Fabio Motta/Estadão

Entre as categorias econômicas, apenas os bens de consumo escaparam do vermelho, com avanço de 1,1%, ajudados pela liberação de saques de contas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e pelo aumento no número de pessoas trabalhando, o que elevou a massa de salários em circulação na economia, mencionou o pesquisador.

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A fabricação de bens de consumo duráveis subiu 2,0%, impulsionada pela maior produção de eletrodomésticos da “linha branca”, que incluem geladeira e máquina de lavar (10,7%). Os bens de consumo semi e não-duráveis cresceram 0,9%.

Por outro lado, os bens intermediários encolheram 2,2%, pressionados, sobretudo, pela redução nas indústrias extrativas. Bens de capital, que indicam investimentos, diminuíram 0,4%.

“Bens de capital têm comportamento predominantemente negativo desde maio. Tem a ver com esse ambiente de incertezas elevadas. Muito dessa leitura negativa para bens de capital guarda relação com a decisão de adiar investimentos, com a redução do nível de confiança do empresariado”, justificou Macedo.

Queda em dezembro

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De novembro para dezembro, a indústria recuou 0,7%, o segundo mês consecutivo de perdas, eliminando assim os avanços obtidos nos três meses anteriores. A produção industrial brasileira está no pior patamar desde maio de 2018, quando houve a greve dos caminhoneiros.

O gerente do IBGE acredita que houve antecipação da produção para atender às datas importantes do comércio, como Black Friday e Natal, o que levou a um aumento nos estoques. Como houve piora nas exportações em 2019, especialmente para a Argentina, os empresários se viram obrigados a conceder férias coletivas e cortar a produção na reta final do ano, uma vez que o consumo doméstico não deu conta de reduzir o volume estocado.

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