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Produção industrial encolhe 8,9% em julho, na 17ª queda seguida

Intensidade do recuo surpreende e dados vêm pior do que as projeções; produção de bens de capital cai quase 30% ante 2014 

Por Idiana Tomazelli
Atualização:

Atualizado às 11h15

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RIO - A produção industrial caiu 8,9% em julho ante o mesmo mês do ano passado, resultado pior do que o esperado pelos analistas e a 17ª taxa negativa consecutiva nesta comparação. As estimativas do AE Projeções, serviço da Agência Estado, variavam de queda de 7,30% a uma retração de 5%, com mediana negativa de 6,30%.

Já na comparação com junho, o recuo foi de 1,5%, também pior do que as expectativas e o segundo resultado negativo seguido nesse confronto. Os analistas esperavam de declínio de 0,60% a avanço de 0,60%, com mediana de -0,10%. No ano, a produção do setor acumula queda de 6,6% até julho. Já em 12 meses, o recuo é de 5,3%. 

"Começamos o terceiro trimestre com o pé esquerdo. Os empresários continuam sem confiança na economia brasileira e a tendência é de a atividade industrial só piorar", afirmou o economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito. 

Ele acredita que nesta quarta-feira o Comitê de Política Monetária (Copom) irá decidir por elevar em 0,25 ponto porcentual a taxa de juros básica (Selic), mesmo que os dados da produção industrial estejam muito ruins e que o setor tenha conclamado a interrupção do movimento de alta do indicador. "Os olhos estão voltados para 2016 e agora com a informação de que há a possibilidade de não termos superávit primário no ano que vem, a decisão será pelo aumento dos juros. Além disso, o Copom, com esse novo aumento, tentará ancorar um pouco as expectativas para 2016", avaliou.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a indústria encontra-se 14,1% abaixo do nível recorde alcançado em junho de 2013. O índice de média móvel trimestral também registrou queda, de -0,6%, no trimestre encerrado em julho em relação aos três meses anteriores até junho - mantendo, assim, a trajetória descendente iniciada em setembro de 2014.

Com isso, o setor industrial brasileiro opera em patamar semelhante ao de maio de 2009, afirma André Macedo, gerente da Coordenação de Indústria do órgão. "São situações que têm similaridade e também diferenças. A situação atual está muito calcada no mercado doméstico", disse Macedo. "Esses fatores que a gente vem colocando que afetam o consumo das famílias, como mercado de trabalho e crédito, são importantes para entender por que o mercado doméstico está evoluindo de forma mais lenta, impactando setores que em 2009 vinham tendo trajetória ascendente após a queda em 2008."

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A desvalorização do real já tem mostrado seus primeiros efeitos positivos sobre alguns segmentos, mas ainda é insuficiente para impulsionar a retomada da atividade como um todo. Apenas o setor de celulose e alguns segmentos de metalurgia e de outros produtos químicos, já com viés para exportação, conseguiram se beneficiar do real mais desvalorizado.

"Efeitos do câmbio são pouco perceptíveis, são efeitos pequenos dentro desse contexto, totalmente incapazes de reverter essa queda na produção industrial, que tem perfil disseminado", afirmou Macedo. "Essa posição do câmbio não tem reflexos imediatos, os contratos são de longo prazo, e isso não tem efeito tão rápido, tão instantâneo", acrescentou.

O gerente do IBGE lembrou que os problemas da indústria também são internos, diante da desaceleração do consumo das famílias, renda menor, inflação elevada e crédito mais caro. "O câmbio sozinho é totalmente incapaz de recuperar o ritmo da indústria, que vem operando num ritmo menor", reforçou Macedo. 

Na comparação anual, houve um perfil disseminado de resultados negativos. Entre as atividades, a de veículos automotores, reboques e carrocerias, que recuou 19,1%, e a de produtos alimentícios (-7,2%) exerceram as maiores influências negativas. Já entre as grandes categorias econômicas, bens de capital (-27,8%) e bens de consumo duráveis (-13,7%) assinalaram as reduções mais acentuadas. O recuo na produção de bens de capital foi o mais intenso desde o início da série histórica do IBGE, em janeiro de 2003. 

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Já no confronto com junho, a produção de alimentos caiu 6,2% e exerceu a principal influência negativa. Ao todo, 14 dos 24 ramos investigados pelo órgão tiveram retração nessa comparação. Outros destaques negativos foram bebidas (-6,2%), produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-1,7%), indústrias extrativas (-1,5%), produtos de madeira (-7,6%) e produtos de metal (-1,8%). Por outro lado, tiveram crescimento: máquinas e equipamentos (6,5%), veículos automotores (1,4%) e equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (3,2%). 

(Com informações de Suzana Inhesta, de O Estado de S. Paulo)

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