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Produção industrial recua 0,2% em novembro, na 6ª queda seguida

A última vez que em que a indústria recuou por seis meses seguidos foi entre fevereiro e julho de 2015

Foto do author Cicero Cotrim
Por Daniela Amorim (Broadcast), Cicero Cotrim (Broadcast) e Marianna Gualter
Atualização:

RIO E SÃO PAULO - O desempenho da indústria brasileira em novembro permaneceu negativo, afetado tanto por problemas de oferta quanto de demanda. A produção industrial recuou 0,2% em relação a outubro, de acordo com os dados da Pesquisa Industrial Mensal, divulgada nesta quinta-feira, 6, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O setor acumula perda de 4% em seis meses de recuos consecutivos.

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O resultado reforça a percepção de que a atividade econômica no País tem perdido ímpeto mais rapidamente do que o esperado, opinou o economista-chefe da gestora de recursos Kínitro Capital, Sávio Barbosa. Após a retração industrial, os cálculos preliminares da gestora para o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) do quarto trimestre, com base em indicadores antecedentes, cedeu de uma elevação de 0,2% para 0,1%.

"Ainda é um ligeiro crescimento, só que está mais próximo de estagnação", ponderou Barbosa. "Esse número ainda pode surpreender para baixo e podemos até ter um trimestre de ligeira contração, a depender dos dados do varejo e dos serviços, que estão em dinâmica negativa", completou.

Funcionários trabalham; produção industrial caiu 0,2% em novembro ante outubro Foto: Taba Benedicto/Estadão

De janeiro a novembro de 2021, a produção industrial cresceu apenas em dois meses: janeiro (0,2%) e maio (1,3%). A queda de novembro foi a menos acentuada do período, possivelmente graças a uma recente melhora relativa do mercado de trabalho e ao acesso a insumos industriais que ainda estão escassos, avaliou André Macedo, gerente da Coordenação de Indústria do IBGE.

“São fatores que ainda precisam de melhora substancial”, frisou Macedo.

A última vez que em que a indústria recuou por seis meses seguidos foi entre fevereiro e julho de 2015. O nível atual de produção é semelhante ao de dezembro de 2008, apontou o pesquisador.

“É uma construção de anos e anos, em que essa indústria vem mostrando perdas importantes”, resumiu Macedo.

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A sequência de quedas da produção industrial deve ser interrompida no início de 2022, prevê o economista da consultoria GO Associados Lucas Godoi.

"Em dezembro ainda é difícil de acontecer, mas em janeiro já teria uma maior esperança", apontou Godoi, que se baseia na perspectiva de ligeira melhora nos gargalos de insumos e de aumento da demanda pela produção de estoques. "É um processo contínuo, mas esse 'virar de chave' deve ocorrer ainda no primeiro trimestre", estimou.

Oferta e demanda

Pelo lado da oferta, a indústria enfrenta o encarecimento de custos de produção e dificuldades de obter matérias-primas e insumos, ainda como reflexo da pandemia sobre o desarranjo do setor produtivo em escala mundial.

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“Pelo lado da demanda, os preços mais elevados que diminuem a renda disponível das famílias para o consumo. A elevação de juros vem encarecendo o crédito. O mercado de trabalho, longe de uma melhora consistente na sua trajetória, ainda tem muitas pessoas de fora dele. A precarização do emprego leva a uma massa de rendimentos que tampouco avança. São fatores que nos levam a entender não só a característica do mês de novembro, mas o ano de 2021”, enumerou André Macedo, do IBGE.

O gerente da pesquisa do IBGE acrescenta ainda que há outros fatores pontuais que ajudaram a tornar mais aguda a perda de fôlego do setor industrial ao longo do ano, como as condições climáticas desfavoráveis afetando culturas importantes, como a cana-de-açúcar; o “ambiente de incertezas fazendo as famílias adiarem decisões de consumo e empresas adiarem decisões de investimentos”; e o auxílio emergencial “pago num valor menor” em relação ao concedido em 2020.

Com o desempenho negativo de novembro, a indústria brasileira passou a operar em patamar 4,3% inferior ao de fevereiro de 2020, no pré-pandemia de covid-19. Apenas oito das 26 atividades investigadas se mantinham operando em nível superior ao pré-crise sanitária. Quando ainda crescia, em janeiro de 2021, a indústria alcançou um saldo positivo de 3,7% em relação ao pré-covid.

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Em novembro de 2021, a produção industrial estava 20,4% abaixo do patamar recorde alcançado em maio de 2011.

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