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Com pandemia e guerra, voltar a produzir o próprio insumo se tornou necessidade, diz BID

Para Mauricio Claver-Carone, o Brasil poderia passar a exportar para os Estados Unidos 15% do que a China vende atualmente para os norte-americanos

Foto do author Célia Froufe
Por Célia Froufe (Broadcast)
Atualização:

Brasília - Repatriar a cadeia de fornecimento é uma forma de impulsionar a atividade doméstica, colaborar para a economia verde e evitar a superdependência de insumos, cuja produção foi transferida a outras partes do globo nos últimos anos. A ideia de que muitas das soluções para a América Latina e Caribe podem estar em casa é do presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Mauricio Claver-Carone, que nos últimos dias conversou com a mídia da região e, no Brasil, escolheu o Estadão/Broadcast para expor seus pontos antes da Reunião Anual 2022 da instituição, que começa na segunda-feira, 28. 

Para ele, por ser a maior economia local, o Brasil pode ser um dos principais beneficiários desse retorno, com a identificação de quase uma centena de oportunidades no País feita pela entidade.

Para Mauricio Claver-Carone, presidente do BID, o Brasil poderia passar a exportar para os Estados Unidos 50% do que a China vende atualmente para os norte-americanos Foto: Banco Interamericano de Desenvolvimento

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O americano admite que esta vem sendo sua “obsessão” desde que assumiu o comando do banco em outubro de 2020. A expulsão de parte das fases de produção para lugares distantes, segundo ele, foi um erro evidenciado durante a pandemia de coronavírus e, agora, com a invasão da Ucrânia pela Rússia, com a escassez de insumos. Carone defende que se faça agora o "nearshoring", um processo que pode ser pensado como a antítese do "off shore".

Nas últimas décadas, em busca de mão-de-obra e ambiente de negócios mais baratos, muitas empresas transferiram parte de suas produções ou optaram por contratação de terceiros para outras partes do mundo, em especial a Ásia. Além da sujeição de produtos, a prática, de acordo com Carone, aumentou desnecessariamente a emissão de poluentes com o trânsito dos navios.

“Estamos vivendo um período que talvez a gente nunca veja mais novamente nas Américas: nos dois últimos anos, com a covid, começamos a ver o maior realinhamento das cadeias de fornecimento da nossas vidas para o Ocidente”, disse. “Agora, por causa da invasão da Ucrânia pela Rússia estamos vendo outro massivo realinhamento, particularmente na cadeia de commodities. Então estamos enfrentando não um, mas dois grandes realinhamentos da cadeia de insumos”, continuou.

Carone admite que o "nearshoring" não é apenas uma questão de querer. É preciso que haja instrumentos para auxiliar a indústria no processo. No ano passado, segundo ele, o BID destinou quase US$ 4 bilhões para financiar o "nearshoring". Metade dos recursos foi aplicada em desenvolvimento de ecossistemas dos países, como melhoria da logística e diminuição da burocracia. A outra parte foi investida no próprio deslocamento das atividades da China e região para locais mais próximos da produção principal.

O banco fez um trabalho para identificar oportunidades nesse sentido na América Latina e Caribe. No Brasil, são 98, conforme o presidente do BID, que vão de aparelhos médicos a desenvolvimento de software e turbinas eólicas. “É uma grande oportunidade”, previu. Para Carone, o Brasil poderia, por exemplo, passar a exportar para os Estados Unidos 15% do que a China vende atualmente para a maior potência econômica do globo. “Estamos falando em um incremento de US$ 10 bilhões por ano do Brasil apenas para os Estados Unidos”, calculou.

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A maior economia da América Latina tem tudo para canalizar a produção localmente, segundo o primeiro norte-americano a liderar o BID em 61 anos. Além do tamanho e da competitividade de custo, conta com uma ampla gama de recursos naturais. Conta ainda com a vantagem de fuso-horário, distâncias mais curtas e cultura similar. “O Brasil é um lugar único e deve estar preparado para essas compensações de realinhamentos. Também podemos fazer isso na área de commodities, podendo preencher o gap de commodities globais que a Rússia deixou”, considerou.

Ao lado das commodities minerais, a área de alimentos é, sem dúvida, um destaque do País, na avaliação de Carone. Ele disse estar ciente do problema pelo qual o Brasil passa com fertilizantes e disse estar trabalhando junto com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) em alternativas, como Canadá e Israel antes do início da próxima safra. “A comida do Brasil é a chave para lidar com a crise atual, mas tem a questão com os fertilizantes... O Brasil é o maior importador mundial de fertilizantes, e importa muito da Rússia. Mas estamos buscando novos instrumentos financeiros e preços competitivos com o Canadá para trazer a produção até setembro.”