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Produtividade e saúde mental

Por Sérgio Amad Costa
Atualização:

Fala-se muito sobre a baixa capacidade produtiva das empresas em nosso país, explicando-a principalmente pelo parco investimento em novas tecnologias e pela educação de pouca qualidade. Trata-se de uma assertiva, porém falta incluir, nela, questões relativas à saúde, principalmente à saúde mental, destacando-se o estresse e a depressão.A Organização Mundial de Saúde define a doença mental como um conjunto de condições médicas que afetam o pensamento, o sentimento, o humor, a capacidade de se relacionar com os outros e a eficiência nas atividades da vida diária. Ela tem sido pauta dos principais fóruns econômicos mundiais, para análise e discussões de como tratá-la nos próximos anos. No Fórum Econômico de Davos, na Suíça, ocorrido em janeiro deste ano, foram realizados vários debates sobre questões relativas à saúde mental, devido ela ser uma das principais causas das faltas ao trabalho, gerando queda na produtividade e custos altíssimos para as empresas e para a sociedade.Estudo realizado pela Escola de Saúde Pública de Harvard traz uma série de projeções, até 2030, a respeito de questões relativas à saúde mental ligadas à economia. As condições relacionadas a esse campo da saúde serão responsáveis pela perda adicional, no mundo, de US$ 16,1 trilhões nos próximos 20 anos, com impacto dramático na produtividade econômica dos países e na qualidade de vida das pessoas. A quantia que custará a saúde mental para os países, nesse período projetado, será maior do que a soma dos custos de todas as demais doenças.Vejo, porém, com otimismo o futuro do trabalho relacionando-o com os cuidados devidos pela empresa com a saúde mental de seus empregados. Companhias de ponta no País, cientes das perdas de produtividade geradas, principalmente, pelo estresse e pela depressão de seus colaboradores e preocupadas com a qualidade de vida desses, vêm implementando programas visando a combater essas enfermidades. Mudanças têm ocorrido nessa direção, nas empresas que estão se sobressaindo economicamente, e, no futuro, essas mudanças vão se difundir para as demais companhias. Não será o trabalho, em boa parte dos casos, o ocasionador de doenças mentais.Estudo também feito pela Escola de Saúde Pública de Harvard revela que dentre nações ricas, que possuem políticas e programas para combater as doenças mentais, 32% das empresas praticam atividades para eliminar o estresse de seus colaboradores. No caso das nações de baixa renda ainda são apenas 14% das suas companhias que estão nesse caminho. Embora baixa, a porcentagem já demonstra uma conscientização. É um começo, diria até expressivo, de um processo irreversível para se combater o absenteísmo e a falta de concentração no trabalho.Não consigo ser otimista, porém, no que tange ao futuro de outro grande ocasionador do estresse e da depressão no Brasil, que é a crescente urbanização e suas consequências: trânsito, ausência de equipamentos públicos eficientes, burocracias, insegurança nas ruas, custo de vida, etc. É aqui que reside agora e no futuro o grande problema do aumento das perdas econômicas em razão das enfermidades de saúde mental. Os trabalhadores, nos próximos 20 anos, período projetado pelo estudo, estarão estressados ou deprimidos mais pelas condições de citadinos do que de empregados.Para se combater os males provocados pela saúde mental, como a perda de qualidade de vida das pessoas e a baixa na produtividade das empresas e do País, é preciso investir mais nesse campo. Infelizmente, apenas 2,3% do orçamento do SUS é destinado à saúde mental. Além disso, é insignificante o número de agentes comunitários que atendem as famílias que têm, entre seus membros, pessoas com problemas de estresse ou de depressão. O fato é que as empresas já estão se mexendo. Falta o governo fazer a parte dele. Pois, como diz uma máxima entre profissionais da área médica, é impossível ter saúde sem ter saúde mental.*Sérgio Amad Costa é professor de Recursos Humanos e Relações Trabalhistas da FGV-SP.

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