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Produtor de milho estima perda de US$ 1,8 bi no ano com tabelamento de frete

Em vez de exportar 32 milhões de toneladas, como era estimado no início do ano, as vendas chegarão a 20 milhões de toneladas, segundo o diretor-geral da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), Sérgio Mendes

Por Lu Aiko Otta
Atualização:

BRASÍLIA - A elevação de custos logísticos por causa do tabelamento do frete rodoviário mostrará seu reflexo mais claro na balança comercial com as vendas de milho. Em vez de exportar 32 milhões de toneladas, como era estimado no início do ano, as vendas chegarão a 20 milhões de toneladas, segundo o diretor-geral da Associação Nacional dos Exportadores de Cereais (Anec), Sérgio Mendes. Com isso, a perda de receitas será de US$ 1,8 bilhão só neste ano.

Em vez de exportar 32 milhões de toneladas, como era estimado no início do ano, as vendas chegarão a 20 milhões de toneladas Foto: Thiago Silva/Estadão

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Com o tabelamento do frete, a logística do grão ficou mais cara do que o próprio produto. Transportar para o porto uma tonelada de milho produzido em Rio Verde (GO), que vale R$ 140,00, custa R$ 236,00.

Diante desse quadro, disse ele, algumas tradings avaliam parar. "As empresas podem parar de transportar", informou. "O problema é tão grande que é plausível que elas parem. Se não podem assumir passivo, param." Ele, porém, não detalhou que empresas e em qual magnitude isso ocorreria. 

Esse prejuízo está no mercado desde a paralisação dos caminhoneiros. O prejuízo só não apareceu nas exportações de soja porque as empresas prosseguiram com seus negócios na expectativa de uma rápida reversão do tabelamento. Além disso, a guerra comercial entre Estados Unidos e China abriu uma oportunidade para a exportação brasileira do grão, que precisou ser aproveitada mesmo com um custo adicional. "Nossas obrigações com a China aumentaram em função do problema com os Estados Unidos", disse. 

Por causa disso, as exportações de soja até aumentaram neste ano, de 67 milhões de toneladas para 74 milhões de toneladas. Mas por trás desse desempenho positivo, está um aumento de custo de US$ 2,4 bilhões.

"Tenho receio que as autoridades, ao verem esses números, achem que está tudo normal", disse Mendes. "Mas as empresas assumiram o prejuízo."

O executivo comentou que a situação no mercado brasileiro é motivo de preocupação no exterior. "Não cabe na cabeça deles (clientes) que um regime ditado por bolsa de valores possa sofrer esse tipo de interferência", contou. Com a guerra comercial, disse ele, era hora de os produtores brasileiros estarem acelerando os negócios para exportar para a China, e não fazendo contas para saber se sua operação é ou não viável.

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Segundo o executivo, o ganho das empresas do agronegócio decorre da movimentação de volumes "fantásticos", mas a margem de lucro delas é muito estreita. Nos últimos anos, ficou na casa de 1%. "Qualquer coisa, bate no prejuízo", comentou. O tabelamento do frete, diz ele, trouxe um aumento de custo insustentável. "Ele introduz um passivo que as empresas não têm condição de pagar."

Se o tabelamento for mantido no ano que vem, a estimativa é que ele represente um custo extra de US$ 5 bilhões na logística da soja e do milho. Para se ter uma ideia, a receita com as exportações de grãos do Brasil é de cerca de US$ 40 bilhões ao ano. "O aumento que pedem é de mais de 10% de toda a balança", calculou Mendes. "Daí se vê o absurdo."

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