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Produtor espera aumento para breve, mas sem sustos

Superoferta de arroz deverá ser enxugada até pela compras do governo

Por Elder Ogliari e PORTO ALEGRE
Atualização:

Com quedas próximas de 6% entre seus momentos de pico no ano e no mês de maio, o preço do arroz ajudou a conter o aumento médio do custo da cesta básica em cidades como São Paulo, maior centro de consumo, e Porto Alegre, capital do maior produtor do grão no País. Mas nem por isso o produto será responsável pela eventual redução dos índices inflacionários. A atual baixa, provocada pela grande oferta do final da colheita no Sul do País, está com dias contados, acreditam dirigentes de entidades, analistas e produtores, convictos de que os preços vão subir já nas próximas semanas e serão percebidas pelos consumidores nos próximos meses. A recuperação das cotações será provocada pelos mecanismos de enxugamento da oferta e pelo apertado estoque de passagem para a próxima colheita. Os preços ao consumidor pesquisados pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) indicam que o quilo do arroz chegou a R$ 2,11 em março e caiu para R$ 1,98 em maio, em São Paulo. Em Porto Alegre, a média mensal recuou de R$ 1,99 em fevereiro para R$ 1,87 em maio. Mesmo com a queda, os preços de maio desde ano superam nominalmente os do mesmo mês do ano passado, quando estavam em R$ 1,94 na capital paulista e R$ 1,77 na capital gaúcha. Para o produtor, no entanto, a variação foi maior. No Rio Grande do Sul, que colhe 60% da safra nacional, o preço médio da saca de 50 quilos ficou em R$ 25,86 na primeira semana de junho, segundo pesquisa da Emater, ante R$ 27,60 em 7 de maio deste ano e R$ 35,55 em 5 de junho de 2008. O preço de comercialização não cobre o custo médio de produção, estimado em R$ 33. A primeira explicação para isso é que este é o momento de maior oferta do ano, já que a colheita terminou em maio. Mas outros fatores também interferem. Segundo o coordenador da Comissão do Arroz da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Francisco Schardong, muitos produtores estão descapitalizados por prejuízos em série sofridos nos últimos anos e se obrigam a vender o grão logo, com cotação baixa, para quitar dívidas. O assessor de mercado do Instituto Rio-grandense do Arroz (Irga) e vice-presidente de mercado da Federação dos Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz), Marco Aurélio Tavares, acredita que o produtor também é prejudicado por movimentos especulativos na cadeia da lavoura até a gôndola do supermercado. Ele observa que de junho de 2008 para maio de 2009 o preço ao consumidor de São Paulo caiu 7,5%, de R$ 2,14 ao quilo para R$ 1,98. Ao mesmo tempo, o produtor viu o valor que recebia pela saca de 50 quilos murchar de R$ 33,20 para R$ 25,86, uma variação negativa de 22%. "Haveria margem na cadeia para aumento de preço ao produtor sem correspondente aumento de preço ao consumidor", avalia. Os preços de 2008, no entanto, não chegam a ser referência porque houve "um fenômeno nunca visto". Naquele ano, em plena safra no Hemisfério Sul houve escassez do produto no Hemisfério Norte. Ao mesmo tempo, ocorreu a supervalorização mundial de diversos produtos agrícolas. A cotação do arroz atingiu US$ 1.024 a tonelada, a maior da história. Hoje está em US$ 540, mas ainda supera a média dos últimos 20 anos, de US$ 300. A soma desses fatores deu bons resultados no ano passado e, reconhece Tavares, permitiu que os arrozeiros ganhassem algum fôlego. "Há uma recuperação, mas ainda está longe do ideal e não permite falar em investimentos, como troca do maquinário", comenta o presidente do Sindicato Rural de Itaqui, Pedro d''Alcântara Monteiro Neto. "Quem sobreviveu na atividade ainda tem passivos e não consegue armazenar gordura para as crises." Para este ano, pelo menos, não há desenho de crise para os produtores. "Agora é o fundo do poço, mas a perspectiva é de rápida recuperação", avalia o consultor Carlos Cogo, da Carlos Cogo Consultoria Agroeconômica. Fatores como a grande safra e o recuo do dólar podem atrapalhar um pouco, mas a análise dos demais forma um cenário positivo. Nas contas dos arrozeiros, o ano começa em março, com a colheita. Em números arredondados, naquele mês o Brasil tinha como estoque de passagem da safra anterior 1,1 milhão de toneladas, aos quais são acrescidos 12,7 milhões de toneladas da estimativa da produção e mais 800 mil de importações do Mercosul. Como o consumo esperado para o ano é de 13 milhões de toneladas e a expectativa de exportação varia de 450 mil a 600 mil toneladas, o estoque de passagem em 2010 será próximo ou inferior ao deste ano, num volume que o setor considera adequado. A perspectiva de uma recuperação de preços nas próximas semanas nasce da sazonalidade, à medida em que se avança para a entressafra, e do enxugamento de cerca de 1 milhão de toneladas por mecanismos oferecidos pelo governo federal em épocas de grande oferta. Um deles são os leilões de contratos de opção, que permitem que o produtor se afaste da necessidade de comercializar o grão imediatamente e possa entregá-lo em data futura ao governo, por valor previamente estipulado, ou ao mercado, se conseguir cotação melhor. O outro são as Aquisições do Governo Federal (AGFs) feitas diretamente pela Conab. Embora ainda lutem por outros mecanismos, como o Prêmio pelo Escoamento do Produto (PEP), para transferência da produção de uma região para outra ou mesmo exportações, os arrozeiros revelam algum otimismo para os próximos meses. "Tudo conspira para termos bons preços no segundo semestre", diz Monteiro Neto. Apesar disso, o consumidor não precisa se assustar. "Dá para dizer que ele vai pagar mais do que paga agora em 40 ou 60 dias, mas não vai pagar mais do que no ano passado", diz Cogo. "O arroz não será astro e nem vilão da inflação."

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