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Produtores de petróleo seguram oferta e cobram fim da especulação

Reunidos na Arábia Saudita, produtores e consumidores só chegaram a um consenso: o preço está alto demais

Por Jeddah e Arábia Saudita
Atualização:

Reunidos em Jeddah, na Arábia Saudita, às margens do Mar Vermelho, os países produtores e os grandes consumidores de petróleo chegaram a um consenso: o preço do petróleo está alto demais. Mas a solução para o problema está longe de um acordo. Os produtores consideram que a oferta é suficiente para atender à demanda e que a disparada atual dos preços se deve à especulação, à fraqueza do dólar e à instabilidade geopolítica em algumas regiões. Já os grandes consumidores, principalmente os Estados Unidos, sustentam que o principal problema é a oferta insuficiente. Produtores e consumidores já haviam se reunido há dois meses, em Roma, para discutir a situação. Mas, naquela reunião, não conseguiram chegar a um acordo nem mesmo de que os preços estavam altos. "O que temos aqui, pela primeira vez, é uma concordância de que o preço do petróleo está alto demais", disse o primeiro-ministro britânico, Gordon Brown. Esse consenso, no entanto, de nada vai servir para baixar os preços. Nas discussões de ontem, os países membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) defenderam o controle sobre os fundos de investimento, como forma de barrar a especulação. Eles acreditam que o grande aumento do fluxo de investimentos para o setor é que tem fomentado a alta do petróleo e das commodities. Já o secretário de Energia dos EUA, Sam Bodman, discorda. "Não há nenhuma evidência de que é a especulação financeira que está elevando os preços futuros." Países consumidores da Ásia, incluindo a China, segundo maior consumidor de petróleo, já começaram a reduzir os subsídios para aumentar os preços no mercado doméstico, numa tentativa de conter a demanda no longo prazo. O preço do petróleo dobrou no último ano e atingiu a marca de US$ 140 o barril na semana passada. A escalada de preços tem alimentando a alta da inflação em todo o mundo, causando protestos da Ásia à Europa. Bancos centrais de diversas nações já começam a falar em aumento do juro para conter a alta do petróleo e dos alimentos. A anfitriã Arábia Saudita se comprometeu a extrair mais petróleo como resposta a uma demanda dos países consumidores, mas disse que seu esforço isolado não será suficiente para acalmar o mercado. O país assumiu o compromisso de aumentar sua produção para 9,7 milhões de barris por dia a partir de julho - seu maior nível em décadas -, e disse que poderá aumentá-la ainda mais. Entretanto, o ministro do Petróleo saudita disse que a medida não deverá ter nenhum impacto nos preços. "Estou convencido de que a oferta e a demanda estão equilibradas e que o nível de produção não é a principal causa da alta dos preços", disse Ali al-Naimi. O comunicado divulgado ao final do encontro (ler ao lado) enfatizou a necessidade de se aumentar a transparência no mercado e de mais investimentos em produção. "O encontro foi um pouco frustrante", disse um diplomata europeu. "O único produtor que apareceu com propostas concretas foi a Arábia Saudita - todos os demais deram declarações vazias." "Há muito boas idéias, mas nada que vá afetar o preço do petróleo na segunda-feira", disse o presidente da anglo-holandesa Shell, Jeroen van der Veer. Um novo encontro para tratar da questão será realizado em Londres até o fim do ano. O rei saudita Abdullah conclamou os presentes a fazer parte de uma iniciativa de "energia para os pobres". Ele prometeu US$ 500 milhões em empréstimos para os países pobres e convocou os países da Opep a contribuir para um fundo de US$ 1 bilhão para ajudar esses países a lidar com o impacto do petróleo. AGÊNCIAS INTERNACIONAIS DECLARAÇÃO FINAL Reservas: As reservas de petróleo são importantes para a estabilidade do mercado global. Por isso é necessário aumentar os investimentos em todas as fases da cadeia produtiva e assegurar que os mercados sejam abastecidos de forma adequada Mais informação: A transparência e a regulação dos mercados financeiros devem ser aperfeiçoadas por meio de medidas que capturem mais informação sobre as atividades dos fundos Dados anuais: A Join Oil Data Initiative (Jodi) deverá iniciar um trabalho com o objetivo de obter dados anuais sobre capacidades de produção da cadeia (desde a extração até o refino e distribuição) e planos de expansão Mercado financeiro: Os secretariados do IEA, Opep e IEF deverão preparar análises sobre tendências no mercado de petróleo, além de estudos sobre o impacto dos mercados financeiros no nível e na volatilidade dos preços Assistência: O auxílio a instituições nacionais, regionais e internacionais financeiras e de assistência deve ser intensificado para aliviar as conseqüências da alta do preço do petróleo sobre os países menos desenvolvidos Cooperação: A cooperação entre companhias de todos os países produtores e consumidores para o desenvolvimento de tecnologia, recursos humanos e investimentos será aumentada Sinais do mercado: A eficiência de energia será promovida em todos os setores, por meio do repasse de sinais dos preços de mercado, transferência de tecnologia e compartilhamento das melhores práticas em produção de energia e consumo

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