Produtores paulistas de suínos e frangos mantêm cautela

Suinocultores veem a chance de recuperar os prejuízos, mas, por enquanto, preferem conter o otimismo

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Por José Maria Tomazela
3 min de leitura

SOROCABA -- Os produtores paulistas de suínos e frangos continuam cautelosos, apesar do aumento das exportações brasileiras de suínos registrado em abril, em razão da peste suína que atingiu a China e outros países asiáticos. A suinocultura vem de um ano difícil em 2018, com queda das exportações e preços baixos. Os produtores veem a chance de recuperar os prejuízos, mas preferem conter o otimismo. “Temos um cenário que parece animador, mas não dá para comemorar nada ainda”, afirma o suinocultor Antonio Ianni, da Ianni Agropecuária, em Itu, interior de São Paulo.

Peste se propaga nas pequenas criações de suínos da China Foto: REUTERS

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Segundo Ianni, a peste suína na China, por ora, só está ajudando as grandes empresas que já estariam exportando com preços mais elevados. “Nós, suinocultores independentes, não temos o benefício imediato da maior demanda do setor de carnes mundial, pois não fazemos exportação direta. As grandes empresas que dominam o mercado operam com baixo custo, têm informação privilegiada e ganham dinheiro com a exportação. Vai demorar para os efeitos da peste suína na Ásia chegarem até o suíno na granja.”

Para Ianni, uma possível elevação no preço do suíno vivo seria bem-vinda, pois o suinocultor precisa se recuperar dos prejuízos que sofreu em 2018. 

Ianni faz parte da terceira geração de uma família de suinocultores e emprega 140 pessoas. O criador não acredita que a suinocultura brasileira vá crescer muito em função da peste suína na Ásia. “Se eu invisto para aumentar a produção, vou levar dois anos para ter o primeiro porco pronto, pois é um processo que passa por genética, instalações, mão de obra, e o custo é alto. Neste momento, o suinocultor não tem capital para investir.”

Frango

O produtor rural Alcides Pavan, dono da Granja Roseira, que há quase 50 anos produz suínos e frangos de corte em Pereiras (SP), também não acredita que a peste suína na China vá produzir alterações significativas no mercado brasileiro. “O preço do frango subiu, mas em função do surto de salmonela que atingiu aviários de matrizes no ano passado. Os produtores de pintinhos foram obrigados a antecipar o descarte de matrizes e, com a redução na oferta, tivemos queda na produção de frangos.”

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O preço do quilo de frango vivo no mercado paulista, que estava em R$ 2,80 há dez meses, chegou a R$ 3,60 na semana passada. Para o criador, dificilmente o consumidor chinês de carne suína vai migrar para o frango. “Pode aumentar o consumo aqui, se o preço da carne suína subir muito.” 

O presidente da Associação Paulista de Criadores de Suínos, Valdomiro Ferreira, afirma que os estragos causados pela peste suína na Ásia ainda estão sendo dimensionados e, por ora, é preciso cautela. “A expectativa é de que o suinocultor brasileiro seja beneficiado, mas ainda não sabemos em que proporção. O que deve acontecer de imediato é a melhora da exportação, o que pode reduzir a oferta interna da carne.”

Para Ferreira, este ano o Brasil deve repetir as exportações de 2016, quando o País vendeu 720 mil toneladas. No ano passado, quando o setor foi afetado pela greve dos caminhoneiros, as vendas externas foram de 646 mil toneladas. Segundo ele, embora tenha tradição de reagir rápido às crises, a China deve levar até cinco anos para restabelecer a produção interna. Até quinta-feira, o preço do suíno nas principais regiões de criação em São Paulo não tinha reagido às notícias que chegavam da Ásia. O quilo do porco abatido estava em R$ 6,60 e do animal vivo, a R$ 4,20. 

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