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Produtos ‘verdes’ esbarram no preço

Apesar de maioria dos brasileiros estar disposta a pagar mais por esses produtos, mercado de itens certificados no País ainda é restrito

Por Natália Cacioli
Atualização:

Da madeira que reveste o piso e estrutura o telhado à embalagem do leite servido quente com café: a responsabilidade do consumidor em proteger o meio ambiente está presente em pequenas decisões do dia a dia, mas faltam engajamento e informação para transformar o discurso ambiental em uma prática, de fato, sustentável.

A parcela da população afinada com o discurso do consumo consciente diz estar disposta a dar sua contribuição para salvar o planeta. Entre os brasileiros, 59% se dizem dispostos a pagar mais por um produto verde, mas na hora de investir tempo ou dinheiro, esse número cai para 22%. Na média de 11 países, esse engajamento é de 52%, segundo estudo da FSC.

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A FSC é uma organização não-governamental presente em mais de 70 países. Com mais de uma centena de critérios ambientais e sociais, certifica boas práticas na produção de madeira e extrativismo em florestas plantadas e nativas. “Estar disposto é um passo importante, mas o Brasil ainda não é um mercado pronto para pagar o custo social e ambiental que as cadeias verdes internalizam”, diz a diretora executiva do FSC Brasil, Fabíola Zerbini. 

Ter a certeza de que um produto comprado não é fruto de desmatamento e que a empresa cumpriu a legislação trabalhista tem seu custo, por mais básicos que sejam esses preceitos. Só a maior oferta e concorrência são capazes de ajustar os preços. É o caso do setor de papel e celulose no Brasil, que tem aproximadamente 65% das florestas certificadas pela FSC. 

Segundo Fabiola, como a certificação na cadeia de produção de papel e celulose é ampla, os produtos são oferecidos em larga escala por várias empresas, o que torna o custo imperceptível para os consumidores.

Líder na fabricação de papéis e embalagens no Brasil, a Klabin foi a primeira empresa da América Latina a receber o selo FSC, em 1998. Com forte presença no mercado, passou a apoiar a certificação de seus fornecedores. Em um dos projetos voltados para conscientização ambiental, a empresa apoiou a certificação de 42 pequenos produtores rurais no Paraná – e quer expandir essa prática.

“Trabalhamos para que os pequenos proprietários percebam a importância das áreas de preservação permanente”, diz Ivone Satsuki Namikawa, coordenadora de sustentabilidade da Klabin. 

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Embora grandes empresas sejam capazes de influenciar as cadeias produtivas no Brasil, elas também sofrem pressão de outros países ao exportar seus produtos. A indústria do café, por exemplo, enfrenta este problema.  O volume de café arábica certificado no Brasil pelo selo Rainforest Alliance chegou a 8% do total produzido em 2014 e, em cinco anos, a área plantada de café certificado cresceu 2,5 vezes.

Segundo Maurício Voivodic, secretário executivo do Imaflora, instituto brasileiro de certificação florestal e agrícola, a demanda no Brasil também é crescente. “O consumidor está mais atento e as empresas querem associar suas marcas a práticas ambientalmente corretas”. Segundo a Imaflora, McDonald’s, Três Corações, Nespresso e Café do Centro são marcas que estão expandindo a demanda por café certificado no País.

A reclamação mais recorrente dos produtores certificados é que os consumidores não conhecem os benefícios do selo e, por isso, não se mostram dispostos a pagar por ele. O diretor de sustentabilidade do Carrefour, Paulo Pianez, diz que os grandes varejistas têm um papel a cumprir na mudança deste quadro: “Uma grande rede funciona como ponte entre o produtor e o consumidor.” 

Preço justo. Segundo Pianez, o consumidor busca qualidade, segurança e preço justo. “Agora, além disso, vou informá-lo que aquele produto não fez mal ao planeta”, explica.

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Em 2012, o Carrefour iniciou no Brasil a venda inédita de cortes de carne certificada pela Rainforest Alliance, em uma iniciativa única no mundo. São 136 critérios que, além de garantir a procedência da carne, impedem o desmatamento ilegal e controlam as emissões de gás carbônico. Mesmo com um preço maior – a carne está classificada no segmento premium –, as vendas são um sucesso. Inicialmente oferecidas em 13 lojas, os cortes estão atualmente disponíveis em todo o País.

Essa certificação foi concedida para apenas cinco fazendas de um produtor no Mato Grosso. No entanto, o Carrefour incentiva boas práticas ambientais e sociais com o selo “Garantia de Origem”. 

“É importante que o consumidor nos pressione, pois isso faz com que toda a cadeia se movimente”, diz Pianez. “Suponho que muito em breve não haverá mais espaço para produtos que não preservem o meio ambiente e não proporcionem condições sociais decentes”.

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