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"Profecia" de Greenspan pode ser sinal do "triunfalismo" americano

Por Agencia Estado
Atualização:

Chegamos, então, ao fim da recessão? Os consumidores voltarão às compras e a indústria retomará a produção? É o que deixa transparecer, ainda que com muita prudência, o venerável Alan Greenspan, presidente do Fed, o banco central americano. Um leve suspiro de Greenspan, ou um mero levantar de suas sobrancelhas, são suficientes para inflamar os mercados e a economia. Para a Europa, a notícia é boa. Não é segredo algum que o bom funcionamento das economias do velho mundo depende da "locomotiva" americana. Essa "máquina", contudo, já vinha dando sinais de fraqueza bem antes dos atentados de 11 de setembro, que em nada lhe ajudaram. Agora, porém, os EUA estão de volta aos trilhos, assim como os europeus, embora com alguns meses de atraso. Acontece que, por mais estranho que pareça, o prognóstico alvissareiro de Greenspan não teve muita repercussão na Europa. Pior do que isso: alguns financistas vêem na profecia de Greenspan um novo sinal do "triunfalismo" americano, bem como de sua arrogância. Seria nada mais do que uma nova tentativa de convencer os europeus das virtudes da livre empresa, da "globalização", e da "cultura do lucro". Para alguns banqueiros franceses, porém, toda cautela é pouca. Tomam-se como exemplo as desgraças que assolam o Japão, que são também atribuídas à economia dos EUA, supostamente tão enfermiça quanto a japonesa, a despeito do viço que exibia em fins de 1989. Hoje, o país é terra arrasada, vítima de uma recessão incurável. A economia americana, segundo esses analistas, estaria terrivelmente doente. Os EUA foram vítimas do colapso da Nasdaq e do estouro da bolha da bolsa de valores. Sabemos que a descida do Japão aos infernos começou também com o estouro de uma bolha especulativa na bolsa. Um outro ponto em comum seria o fato de que, a exemplo do que ocorria no Japão há dez anos, os EUA assistem hoje também à destruição de suas riquezas, à queda dos preços dos produtos industriais, ao recuo da demanda no setor privado e à retração do crédito bancário. De resto, se o iene estava sobrevalorizado nos anos 80, o dólar, hoje, também está. Portanto, o perigo de uma longa deflação é mais do que hipotético. Em torno dessas teses, os especialistas divergem: Patrick Artus, da Caixa de Depósitos e Consignações, acredita que a posição americana continua sólida. A política monetária do país é pujante e ágil. Os balanços dos bancos americanos são sólidos. Os preços dos serviços não despencaram e, por último, não se viu nos EUA nenhuma queda de preços como, por exemplo, a que se viu no Japão no setor imobiliário. Um outro banqueiro francês, Pascal Blanqué, do Crédit Agricole, é francamente pessimista. Ele critica o que considera um enorme erro do Fed, que teria demorado demais a aumentar suas taxas de juros básicas. Outro fator de desequilíbrio seria a forma escolhida pelos americanos para marcar presença na "nova economia". Fizeram-se investimentos altíssimos cujos resultados, salvo poucas exceções foram nulos. O caminho rumo à nova economia revelou-se caro demais. Esta é a razão por que os banqueiros não se mostram tão inflamados quanto diversos outros setores financeiros. Para estes segmentos, eles mandam o seguinte recado: vai demorar muito tempo, talvez anos, para que a economia americana recupere o mesmo ritmo que tinha antes da crise. Os dirigentes da economia americana devem ter sempre presente em algum lugar de sua memória, o calvário sem fim por que passa a possante economia japonesa.

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