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Programa incentiva empresas químicas a tratar resíduos

Avaliações independentes atestam cumprimento de metas socioambientais. Akzo Nobel foi a primeira indústria verificada. A próxima é a Basf.

Por Agencia Estado
Atualização:

Apenas um dos três tanques de tratamento de efluentes líquidos da indústria química Akzo Nobel, em Itupeva, interior de São Paulo, está em uso. Dos demais, um ficará como reserva e o outro servirá, em breve, para armazenar água. Somados, os três tanques têm capacidade para 900 mil litros, mas nunca chegaram a operar em plena carga, porque a empresa fez ajustes no seu processo industrial, adotando tecnologias mais limpas e reduzindo a produção de resíduos. No ano passado, foram enviadas ao aterro industrial 319 toneladas de resíduos sólidos, resultantes do tratamento dos efluentes. Quase 100 a menos do que as 407 toneladas de 1999. Estes são os resultados mais visíveis do programa de Atuação Responsável adotado pela Akzo Nobel desde 1994. O programa é uma iniciativa da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), e é um compromisso assinado por todas as 150 empresas químicas a ela associadas. Trata-se de uma série de normas, recomendações e procedimentos relativos a qualidade, saúde, segurança e meio ambiente, com o objetivo de mudar a imagem da indústria química a partir de ações práticas. O programa dá ênfase à prevenção de poluição, redução do consumo de insumos, redução da produção de resíduos, prevenção de acidentes com produtos químicos perigosos, integração com as comunidades do entorno das fábricas e comunicação com a sociedade civil. E isso em toda a cadeia industrial, ou seja, do fornecimento de matérias primas até a destinação final dos resíduos, passando pelo transporte, processamento e venda ou exportação. "As mudanças começaram com a adoção das ISO 9000 e 14000 (padronização de qualidade e gestão ambiental) e passaram por programas como o Total Quality e Total Safety, até chegar ao Atuação Responsável", comenta Antonio Rollo, diretor superintendente da unidade de polímeros químicos da Akzo Nobel, que é uma multinacional com sede na Holanda. "Mas ainda precisávamos de uma espécie de auditoria independente para atestar se os compromissos socioambientais assumidos estão sendo cumpridos". Para isso foi criado, na Abiquim, o VerificAR, um sistema de avaliação independente aplicado por equipes compostas de técnicos do Bureau Veritas Quality International (BVQI), representantes de outras indústrias químicas e da sociedade civil. O primeiro processo de verificação foi o de Itupeva, onde existem 4 unidades industriais: três da Akzo Nobel, que produzem surfactantes (matéria prima de amaciantes de roupas), peróxidos orgânicos (iniciadores de polimerização) e fungicidas; e a indústria Flexsys - associação da Akzo Nobel com a Solutia que produz enxofre insolúvel (entra no processo de fabricação de pneus). Além da avaliação dos diversos setores - administração, compras, vendas, meio ambiente, saúde e logística - foram entrevistadas 60 pessoas, escolhidas pelos verificadores entre os 400 funcionários, estagiários, menores e terceiros, que circulam pela empresa, nos vários turnos. Na próxima semana, a Basf deve passar por um processo semelhante. E a expectativa é de avaliar todas as empresas associadas à Abiquim, em 3 a 4 anos. A adesão das indústrias ao processo de verificação é voluntária. Segundo a Akzo Nobel, participaram, como representantes da sociedade civil, dois membros das associações de moradores dos bairros São Roque da Chave (1.500 habitantes) e Mina (500 habitantes), vizinhos às fábricas, em Itupeva. A empresa já trabalha com estas comunidades há alguns anos, tanto em projetos sociais profissionalização de menores, capacitação de professores do ensino público e estudantes - como nos planos de Defesa Civil e simulações de evacuação em caso de emergência. A principal substância perigosa com a qual a Akzo trabalha é a amônia, um gás sufocante, usado como matéria prima na unidade de surfactantes. Os peróxidos orgânicos também requerem cuidados e são mantidos sempre a temperaturas inferiores a 10º C, mas somente devido à sua instabilidade (decompõem-se com facilidade). Apesar de lidar com estas substâncias perigosas, a Akzo Nobel está há 5 anos sem acidentes de trabalho, incluindo acidentes com o transporte rodoviário dos produtos químicos. E vem contabilizando os ganhos indiretos da adoção de sistemas de gestão ambiental e produção mais limpa, como a redução no consumo de energia de 18 para 14 mil MW e o aumento da eficiência de conversão das matérias primas, na unidade de peróxidos orgânicos, que subiu de 92% para 97%, resultando em economia de custos e redução de resíduos.

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