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Proibição do álcool líquido vai mudar hábito dos brasileiros

Por Agencia Estado
Atualização:

O mercado de produtos de limpeza doméstica está prestes a sofrer uma reviravolta. Com a retirada do álcool líquido das prateleiras, a partir de agosto, fica a expectativa de que seus consumidores, que o consagraram em décadas de utilização dentro dos lares brasileiros, migrem para outras categorias de limpadores. O pulverizado setor dos engarrafadores de álcool etílico, composto por empresas de pequeno e médio porte, aposta que os altos custos inerentes à produção do álcool em gel - única forma que poderá ser comercializada - levará o consumidor a optar pelos limpadores multiusos. Diante dessa possibilidade, as multinacionais já estão se movimentando para tentar abocanhar a maior fatia possível desse mercado, que em 2001 movimentou US$ 200 milhões. A inglesa Reckitt Benckiser parece ser a mais bem posicionada para isso. Além de manter a liderança no mercado de multiusos com a marca Veja, cuja participação de mercado ultrapassa a casa dos 70%, foi a primeira estrangeira a colocar no mercado brasileiro uma versão de álcool em gel. A norte-americana Clorox, ao contrário, deixa claro seu otimismo quanto ao impulso de seus negócios por conta da resolução do governo. O gerente de produtos da companhia no País, Fabio Cury, destaca que 70% do consumo atual do álcool doméstico é voltado para a limpeza. "Diante desse fato, prevemos que pelo menos 35% desse mercado seja absorvido pela categoria de multiusos", diz. Demissões A decisão do governo de proibir a comercialização de álcool líquido no varejo a partir de agosto promoveu um rebuliço no pulverizado mercado de engarrafadores do produto, que, além de queda significativa no faturamento, prevê demissões em massa. Segundo portaria do Ministério da Saúde, o produto somente poderá ser comercializado na forma líquida em farmácias, ainda assim em embalagens de 50 ml (a mesma utilizada para removedores de esmalte). No mais, o consumidor terá acesso ao álcool somente na apresentação coloidal, ou seja, em gel. Para produzi-lo e envasá-lo nesta nova forma, as cerca de 80 pequenas e médias companhias que compõem o setor terão de promover investimentos estimados entre R$ 150 mil e R$ 500 mil, somente em equipamentos. Isso porque todo o maquinário atualmente utilizado para envasar em forma líquida será praticamente perdido. Sugestão As engarrafadoras de álcool líquido ouvidas pela Agência Estado foram unânimes ao reclamar do que consideram como descaso do Ministério da Saúde em relação às soluções que o setor apresentou para os problemas na comercialização do produto. Para reduzir o número de acidentes ocorridos pelo mau uso do álcool líquido, principalmente em crianças, o setor propôs reduzir o teor alcóolico da solução de 92,8% para 70% - o que o igualaria à concentração do gel, reduzindo sua inflamabilidade. A adição de um elemento desnaturante de cor e odor, o acréscimo de um alerta de segurança nas embalagens, além de uma trava de segurança à prova de crianças na tampa do produto - como as utilizadas pela indústria farmacêutica - foram outras soluções apresentadas pelo setor. Contraponto A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), por sua vez, informou que a área técnica do Ministério da Saúde levou em consideração todas as sugestões que lhes foram enviadas. Contudo, em parceria com diversas instituições - como a Sociedade Brasileira de Queimaduras -, decidiu pela extinção da forma líquida do álcool no mercado brasileiro. Segundo a agência, a redução da inflamabilidade para níveis semelhantes ao do gel não resolve o problema do espalhamento do produto. A justificativa é de que, devido a essa propriedade do álcool líquido, há crianças com mais de 80% do corpo comprometido por queimaduras. Mais caro As engarrafadoras de álcool líquido apontam como principal entrave para o sucesso do produto em gel o seu preço, elevado em parte pela matéria-prima importada. Segundo elas, ao preço médio de R$ 3, calculado para a forma de gel ?o dobro do produto líquido, em embalagem de conteúdo equivalente - o produto deixará de ser consumido pela grande massa da população brasileira que hoje já não dispõe de recursos para fazer uso de outros produtos de limpeza. "O maior prejudicado com a resolução, sem dúvida, é o consumidor de baixa renda. É ele quem usava o álcool como produto de limpeza", comenta o presidente da União da Agroindústria Canavieira de São Paulo (Unica), Eduardo Pereira de Carvalho. Para ler a reportagem completa, visite o setor de Química do AE Setorial, o serviço da Agência Estado voltado para o segmento empresarial.

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