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Projetos para europeus naufragam no Nordeste

Crise mostrou a falta de viabilidade de projetos anunciados com pompa

Por Marianna Aragão
Atualização:

Anunciados com estardalhaço por grupos europeus nos últimos cinco anos, projetos turísticos no Nordeste enfrentam problemas para sair do papel. O boom de empreendimentos na região foi interrompido pelo impacto da crise nas empresas investidoras - caso, por exemplo, do grupo espanhol Sánchez, que pediu concordata no ano passado. Em outro caso, os incorporadores chegaram a vender os imóveis no exterior, mas nunca iniciaram a construção no País. "Houve uma corrida ao mercado, o que trouxe muitos aventureiros e provocou um excesso de oferta", diz o presidente da Associação para o Desenvolvimento Imobiliário e Turístico do Nordeste Brasileiro (Adit), Felipe Cavalcante. Recentemente, o jornal inglês The Times relatou a história de compradores na Inglaterra e Espanha, vítimas de golpes de investidores imobiliários no Brasil. O empreendimento Lagoa do Coelho está no centro das denúncias. Lançado pelo empresário espanhol Luís Nicolas Mateos, do grupo Nicolas Mateos, previa a entrega de 13,5 mil apartamentos na cidade de Touros (RN), além de campos de golfe e parque aquático. Porém, no ano passado, Mateos foi preso na Espanha acusado de fraude. Os compradores, que chegaram a pagar até 75 mil por um flat no resort, estão agora acionando a Justiça em seus países. Estima-se que foram vendidas no exterior pelo menos 600 unidades do empreendimento de Mateos. No Brasil, não há notícias de compradores, uma vez que a lei brasileira proíbe a comercialização de imóveis sem o registro de sua documentação em cartório. Apesar da prisão do espanhol, sites na internet continuam divulgando o empreendimento, com fotos de praias da costa nordestina. A reportagem tentou localizar a empresa por meio do número que consta na lista telefônica, mas a linha estava desativada. NOVO SÓCIO Outro grande empreendimento da região, o Grand Natal Golf, no Rio Grande do Norte, está parado desde o ano passado por causa da concordata de seu principal acionista, o grupo espanhol Sánchez. Sem dinheiro e com problemas para obter as licenças ambientais, o projeto megalomaníaco - que incluía 30 mil casas, cinco campos de golfe, 14 hotéis, heliporto e até uma escola de futebol do jogador Ronaldo, um dos garotos-propaganda do negócio - busca um novo investidor para ser retomado. Segundo o representante do grupo no País, Airton Nelson, a empresa já está em negociações com um grupo holandês, que deve comprar mais da metade do empreendimento. Ainda assim, o projeto será modificado. A área inicialmente prevista, de 2,2 mil hectares, será reduzida para 145 hectares. "Estamos mudando para torná-lo viável", admite Nelson. Se confirmada a entrada de um novo sócio, a previsão é que a construção inicie no primeiro trimestre de 2010. Enquanto isso, as vendas permanecem suspensas. Para o presidente da Adit, casos como esses trazem prejuízos à imagem do País no exterior. "Isso faz com que as pessoas vejam o Brasil como um lugar arriscado", diz Cavalcante, que acredita que o boom de investimentos na região nos últimos anos acabou atraindo empresas sem experiência no mercado. Ele ressalta, porém, que muitos projetos viáveis foram prejudicados pela crise financeira. "É o caso do grupo Sánchez." Para José Ernesto Marino Neto, presidente da BSH International, empresa que presta consultoria e gestão estratégica de investimentos hoteleiros, o declínio do mercado imobiliário em países europeus, a partir de 2003, está na origem dos problemas surgidos agora no Nordeste. "Muitas empresas pequenas e médias saíram comprando terrenos e gastando com marketing, sem entender que fazer negócio no Brasil é diferente de fazer na Espanha ou em Portugal. Com a crise, problemas vieram à tona." O setor, porém, acredita que bons projetos surgidos nos últimos anos vão se sustentar. Para Cavalcante, a crise provocou uma mudança nas estratégias das empresas, que estão se voltando para o mercado doméstico. "Quem adotou essa estratégia está tendo sucesso."

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