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Promover a resiliência das empresas

Por Sérgio Amad Costa
Atualização:

Neste começo de 2015, o baixo astral se instalou de forma generalizada em todos os agentes econômicos do País. Isso é péssimo para o Brasil, pois, quanto mais se observa a situação somente pelo seu lado negativo, mais negativa ela vai ficando. As notícias são realmente alarmantes: o varejo teve o pior resultado desde 2003, a indústria apresentou maior queda de venda, a "estagflação" mostra sua cara com o aumento da inflação e a ausência de crescimento econômico, o dólar indo às alturas, a Petrobrás envolta com a corrupção, o PIB definhou em 2014 e poderá andar para trás neste ano, os empregos que surgem são de baixa qualidade, falta água e há crise de energia. Tenho muito mais dados para serem lastimados, mas prefiro parar por aqui. Este ambiente de agenda negativa faz o tempo ficar permanentemente nublado. A ansiedade, o desalento, o medo, o imobilismo provocados nos empresários e nos empregados em geral, pelo carregamento estatístico muito ruim, reduz sensivelmente a capacidade competitiva e produtiva das nossas empresas. É óbvio que, para sair desta crise, se esperam medidas condizentes, adotadas pelo governo, mesmo sendo ele o principal responsável pelo estado de penúria econômica em que se encontra o País. Mas como os empresários e os empregados podem contribuir, evoluindo em sua capacidade competitiva e produtiva, num clima de tantas incertezas? Usando, entre outras, a competência de resiliência. Desde o século 17 se estuda a resiliência mediante os corpos elásticos na Física. Os estudiosos do comportamento humano, nos fins do século 20, usaram esse conceito para observar, no mundo corporativo, a capacidade de profissionais, submetidos a condições às vezes extremamente adversas, de superar os obstáculos e voltar a exercer sua rotina com melhor rendimento. Um dos fatores que compõem o ser resiliente é o otimismo, mas não aquele ausente de realismo. Escrevo, aqui, sobre a forma de enxergar, sim, as dificuldades, mas ciente de que elas são temporárias, não se eternizam. Há a possibilidade de superação. Pode-se observar isso na economia quando conhecemos a nossa história recente. Ela diz muito sobre a capacidade de resiliência de muitas de nossas empresas. Caso o Brasil tenha um PIB negativo este ano, não será a primeira vez. O País, de 1970 para cá, teve seis anos de retração econômica: 1981 (-4,3%); 1983 (-2,9%); 1988 (-0,1%); 1990 (-4,3%); 1992 (-0,5%); e 2009 (-0,3%). Em todas essas situações, o País teve de se reorganizar para sair do atoleiro econômico. Quanto à inflação, agora em alta, mais cedo ou mais tarde ela vai ter de cair. Vale lembrar 1989, com uma taxa anual de inflação acumulada no patamar de 1.764,83%, atingindo a casa dos 2.477% em 1993. Mesmo naquele contexto recessivo e de total descontrole da economia, muitas companhias foram altamente resilientes, disseminando novas práticas para superar a crise do momento e as ineficiências herdadas do ambiente dos anos 80. Aplicaram-se, na época, a Gerência de Qualidade Total (TQM), experiências com minifábricas e "células de produção" e soluções de tipo Kan Ban, todas de acordo com a demanda associada a sistemas "just in time". Iniciaram-se, também, a busca de certificação das normas ISO, a utilização intensiva de indicadores operacionais para gestão e os esforços voltados para o treinamento de pessoal. A história recente do País está repleta de exemplos que mostram essa competência de resiliência da economia, das empresas em geral e de seus profissionais. Citei apenas um, para lembrar que as crises não se eternizam e que há capacidade de enfrentamento e aprendizado. É necessário, assim, trocar o baixo astral generalizado por uma agenda mais positiva da economia. Não sou ingênuo ou louco para estar vendo motivos para euforia. Mas sei que é possível enxergar essas adversidades, que citei no início deste artigo, não só como ameaças, mas também como desafios que podemos superar.*Sérgio Amad Costa é professor de Recursos Humanos e Relações Trabalhistas da FGV-SP 

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