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Trabalhadores passam ao desalento mais rápido, aponta Ipea

País registrou 4,818 milhões de pessoas em situação de desalento no trimestre encerrado em julho

Por Vinicius Neder
Atualização:

Vem crescendo a proporção de trabalhadores que, pouco após perder o emprego, passam ao desalento, mesmo sem ficar desempregado por longo período, mostra estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Tipicamente, a permanência no desemprego está associada ao desalento - nessa condição, o trabalhador desiste de procurar emprego pela dificuldade de acessar o mercado, por não possuir experiência, ser muito jovem ou idoso, ou não encontrar trabalho na localidade.

No trimestre encerrado em julho, o País registrou 4,818 milhões de pessoas em situação de desalento, o maior patamar da série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) iniciada em 2012 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Entre aqueles que transitaram do emprego para a inatividade, a proporção dos desalentados subiu de 11,2%, no início de 2016, para 16,7%, no segundo trimestre de 2018 Foto: Sergio Castro/Estadão

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O estudo do Ipea parte dos microdados da Pnad Contínua referentes ao segundo trimestre para sustentar que há uma mudança no comportamento dos indivíduos, "constatada pelos dados de transição no mercado de trabalho".

"Vem crescendo a proporção de pessoas que, entre dois trimestres consecutivos, transitaram da atividade para a inatividade e se declararam desalentadas, mesmo não tendo ficado desempregadas, ou tendo permanecido muito pouco tempo nessa condição", diz um trecho da Seção VII da Carta de Conjuntura número 40, publicada nesta quinta-feira no site do Ipea.

Conforme os dados analisados pelos pesquisadores Maria Andréia Parente Lameiras, Sandro Sacchet de Carvalho, Carlos Henrique Corseuil e Lauro Ramos, entre o quarto trimestre de 2015 e o primeiro trimestre de 2016, pouco mais de 14% daqueles que transitavam para a inatividade eram provenientes do desemprego e faziam parte do subgrupo de inativos desalentados. No segundo trimestre de 2018, entretanto, essa proporção havia subido para 22,4%.

Entre aqueles que transitaram do emprego para a inatividade, a proporção dos desalentados subiu de 11,2%, no início de 2016, para 16,7%, no segundo trimestre de 2018. "Portanto, o desalento aumentou não só entre os que se encontram desocupados durante muito tempo, mas também entre os que perderam sua ocupação recentemente", diz outro trecho do estudo.

Ao analisar o perfil do trabalhador desalentado, o estudo constata o que já era esperado: o desalento é proporcionalmente mais alto entre os trabalhadores que possuem maior dificuldade de inserção no mercado, ou seja, os jovens, os não chefes de família e os indivíduos com ensino fundamental incompleto. Também é mais elevado no Nordeste e "ligeiramente" maior entre as mulheres.

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Embora esse perfil seja esperado, o estudo alerta que o desalento tem crescido também entre os trabalhadores mais velhos, homens e chefes de família.

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