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Proposta da OMC ameaçada de veto

Grupo de emergentes tenta impedir que liberalização do setor industrial se torne base das negociações

Por Jamil Chade
Atualização:

Um grupo de países emergentes composto por Brasil, Argentina, Venezuela, Índia, África do Sul e outros tenta impedir que a proposta de abertura dos mercados de bens industriais feita pela Organização Mundial do Comércio (OMC) se torne a base das negociações da Rodada Doha. Ontem, a OMC voltou a negociar os cortes em tarifas agrícolas, subsídios e bens manufaturados. Apesar de fazer parte do grupo, o Brasil adota um tom mais conciliatório. Pelas propostas apresentadas na semana passada, os países emergentes precisariam cortar em cerca de 60% suas tarifas de importação. O governo de Hugo Chávez promete até usar o veto para bloquear a tentativa de usar o documento como base de uma futura liberalização. ''''Se necessário, bloquearemos sozinhos as propostas da OMC'''', disse o embaixador da Venezuela na OMC, Oscar Carvallo. Pelas regras da entidade, basta o veto de um dos 150 países membros para que uma proposta não seja aprovada. O temor de alguns governos é de que o texto proposto pelos mediadores acabe sendo evocado como base do debate nos próximos meses. Mas o governo da Índia garantiu que há uma ofensiva diplomática para impedir que isso ocorra. Para mostrar apoio político, os países emergentes farão uma declaração conjunta com os 90 países mais pobres em repúdio à proposta. A declaração chega a dizer que a OMC estaria exigindo que os países emergentes ''''paguem primeiro'''' para depois receber algum benefício na agricultura. Parte dessa reação foi sentida ontem, quando a OMC se reunia para falar de temas agrícolas. O representante da Europa atacou os emergentes e anunciou que apenas poderia aceitar a liberalização no setor agrícola como base se o mesmo ocorresse nos produtos industriais. O embaixador da Argentina, Alberto Dumont, não se conteve: ''''Podem esperar sentados, então''''. Segundo Dumont, a proposta tenta impor os resultados no setor industrial ''''sem levar em conta as diferenças entre os membros''''. Tentando equilibrar os interesses dos sócios e a necessidade de manter a Rodada, o embaixador brasileiro na OMC, Clodoaldo Hugueney, adotou um tom conciliador: ''''O objetivo do debate é apenas discutir preliminarmente cada texto. Somente negociaremos qualquer coisa a partir de setembro''''. Ontem, a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e sindicatos da América Latina pediram que os países não aceitem o projeto de liberalização do setor industrial. Segundo as entidades, a proposta reduzirá os espaço para que países ''''promovam uma diversificação industrial''''. DESUNIÃO Para diplomatas experientes, apesar do ataque desse grupo de países emergentes, poucas vezes nos últimos dez anos os países em desenvolvimento estiveram tão desunidos como agora. Isso porque cresce também o número de governos dispostos a introduzir a liberalização proposta pela OMC. O grupo liderado por México, Chile, Costa Rica, Colômbia, Peru e Cingapura ganha adeptos na América Latina, Ásia e países árabes. A situação é tão delicada que os governos sequer trocam informações sobre a participação em algum grupo. Ontem, por exemplo, o representante do Uruguai garantiu ao Brasil que não foi à reunião do grupo mais moderado no setor industrial: ''''Somos independentes''''. Mas o Estado confirmou que diplomatas uruguaios haviam estado um dia antes nessa reunião.

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