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Proposta da OMC divide emergentes

Governos dos países em desenvolvimento não encontram ponto de convergência e revelam interesses opostos

Por Jamil Chade
Atualização:

As propostas da Organização Mundial do Comércio (OMC) sobre como deve ser um acordo para destravar a Rodada Doha marcam uma divisão entre os países em desenvolvimento. Um dia depois da apresentação das ofertas, os governos não acham um ponto de convergência e explicitam a existência de interesses opostos no bloco dos países emergentes. Em Genebra, técnicos do grupo de países emergentes se reuniram e as críticas contra a proposta de cortes de tarifas de bens industriais foram duras. O bloco de 11 economias de países emergentes, entre elas Brasil e Argentina, havia deixado claro que não aceitariam cortes acima de 50%. O governo da Venezuela, por exemplo, afirmou que não teria como aceitar o que foi proposto pela OMC. Em outra reunião que ocorria ao mesmo tempo, Chile, México, Peru e Costa Rica ganhavam apoios de pelo menos dez países em desenvolvimento em sua iniciativa de sair em defesa das propostas de abertura dos mercados de bens industrializados. Esses países apresentaram uma proposta similar ao que a OMC havia colocada sobre a mesa. Já entre os europeus, funcionários não escondiam a satisfação com as propostas da OMC. No setor industrial, a proposta pede um corte acima de 60% para os países emergentes, valores que os europeus queriam ver no acordo. ''''Essa é uma margem que consideramos possível de trabalhar'''', afirmou Peter Power, porta-voz de comércio da Comissão Européia. Para ele, a proposta de corte de tarifas de emergentes é ''''realista''''. Na conferência de Potsdam, há um mês, os europeus alegam que foi exatamente a recusa do Brasil e Índia de fazerem cortes acima de 50% que impossibilitou um acordo. Agora, ganharam como aliados as propostas da OMC e esperam que o Brasil siga as sugestões dos documentos. No setor agrícola, Bruxelas também comemora. ''''O texto reconhece e premia as flexibilidades que apresentamos nos últimos meses'''', afirmou Power. Pelas propostas os europeus teriam de cortar entre 66% e 73% suas tarifas mais altas de importação de bens agrícolas. Em Potsdam, Bruxelas já havia acenado com 70%. Quem não gostou da oferta agrícola foram os produtores europeus, que alegam que as regras para impedir os subsídios nos Estados Unidos não são suficientemente rígidas. Alguns países mais protecionistas, como a Irlanda, também atacaram a proposta agrícola, alegando que o mercado europeu não pode ser aberto acima dos níveis atuais. Para a ministra da Agricultura irlandesa, Mary Coughlan, os cortes propostos para a tarifa sobre carnes são ''''inaceitáveis''''. Para o diretor-geral da OMC, Pascal Lamy, os mediadores das negociações tiveram de se arriscar. ''''Eles optaram por arriscar para o lado mais ambicioso'''', afirmou Lamy a jornais australianos. Hoje, em Genebra, será a vez de o chanceler Celso Amorim se reunir com os membros do G-20 (grupo de países emergentes) para debater como deve ser a estratégia no setor agrícola.

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