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Protecionismo é o deles

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Por Redação
Atualização:

Antes mesmo de o governo cancelar a imposição de barreiras burocráticas às importações, o diretor de Relações Internacionais e Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Roberto Gianetti da Fonseca, confirmava que, por trás da ideia, estavam os dirigentes do setor, que ignoraram o discurso antiprotecionista de antes. (Advirto que o assunto desta coluna não são os equívocos da política de comércio do governo criticada ontem neste espaço, mas as contradições e o oportunismo dos dirigentes das entidades empresariais.) Os empresários representados na Confederação Nacional da Indústria (CNI) e na Fiesp são contra todas as barreiras impostas pelos outros. Aí eles mostram convicção, são homens de princípios. Mas são os primeiros a defender protecionismos de todo tipo quando seu produto sofre concorrência aqui e no exterior. Aí deixam de lado as convicções e se esquecem dos princípios. E nem sequer se perguntam se, com isso, não estão jogando fora o bebê com a água do banho. Quando a crise global se aprofunda, a concorrência externa se acirra porque o fornecedor externo está disposto a dar mais descontos na venda dos seus produtos. Nessa hora, não basta para esses dirigentes que o dólar já tenha subido 46% em reais nos últimos seis meses e, assim, garantido boa proteção cambial. Querem ação do governo, não importando as distorções e os gols contra que se possa provocar. Uma das maneiras como o governo poderia restabelecer, pelo menos em parte, a competitividade no comércio exterior é reduzir impostos. Mas, curiosamente, nem todos os dirigentes empresariais se batem por redução da carga tributária. E por quê? Porque muitos estão no jogo do descaminho ou, então, entendem que, com manobras do chamado planejamento tributário, podem evitar o recolhimento de certos impostos. Alguns ministros da área econômica de governos anteriores já confidenciaram, naturalmente em off, que alguns setores da indústria, como o da confecção ou de calçados, não se entusiasmam com medidas de redução de impostos porque corresponderiam a cortes sobre o que já não pagam. E tem a questão do foco errado. O presidente da Fiesp, Paulo Skaf, por exemplo, e seu alter ego de resultados, o Paulinho da Força Sindical, não passam um dia sequer sem atacar "os juros escorchantes do Banco Central". Armam batalhas campais e passeatas na Avenida Paulista para arrancar corte de meio pontinho no Copom, que define juros hoje de 12,75% ao ano, mas, estranhamente, mantêm silêncio sobre os juros cobrados pelos bancos no desconto de duplicatas (de 45% ao ano, em dezembro); nas operações de capital de giro (de 38% ao ano); ou no cheque especial (de 175% ao ano). Enfim, como diz o texto bíblico: denunciam o cisco no olho do outro, mas não enxergam a tora que carregam no próprio. Skaf passou meses criticando a TPC (tensão pré-Copom) e, por isso, defendeu o esticamento do prazo das reuniões do Copom mas, no dia 21 de janeiro, quando o Copom derrubou em 1 ponto os juros básicos, em vez de comemorar a maior agressividade do Banco Central na política monetária, saiu criticando o período excessivamente longo que permeia as reuniões do Copom, que ele no passado defendeu. CONFIRA Salto do PIB - A tabela mostra que, pelos cálculos do Banco Central, de dezembro a dezembro, o PIB do Brasil em reais cresceu 8,5% em 2008. Mas, ao final de dezembro, era só 1,0% superior ao do final do terceiro trimestre de 2008.

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