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Protesto contra imposto para Argentina

Concentrada na paralisação do transporte público, manifestação realizada em ano eleitoral inviabilizou que a população se locomovesse

Por Rodrigo Cavalheiro e correspondente
Atualização:

A Avenida 9 de Julho vazia, os ciclistas com roupas de trabalho, sem opção de ônibus, trens e metrô, e o lixo transbordando dos coletores de Buenos Aires foram os sinais mais claros do impacto da paralisação organizada nesta terça-feira, 31, por sindicatos argentinos contra um imposto sobre o salário. A repercussão deixou a presidente Cristina Kirchner sob pressão e sob ameaça de uma greve semelhante, mas de três dias, nos próximos meses. Haverá eleição no país em outubro.

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Nem mesmo em domingos ou feriados há tão pouca gente nas ruas de Buenos Aires. A greve geral teve impacto semelhante nas principais capitais das províncias, embora tenha sido total apenas na região metropolitana, com aproximadamente 12 milhões de habitantes, 30% do país. De acordo com Martín Polo, economista da consultoria Analytica, o “custo” da mobilização para o país foi de aproximadamente US$ 340 milhões.

O eixo da greve foi a mobilização no setor de transporte. O bloqueio do sistema de trens, metrô e ônibus tornou inviável a milhões que vivem na região metropolitana chegar ao centro da capital, apoiassem ou não o motivo do ato. Caminhoneiros pararam e cortes esporádicos foram feitos no anel rodoviário da capital, o que inibiu ainda mais a locomoção.

O resultado foram ruas vazias e um moderado congestionamento na rede de ciclovias. “Nunca uso a bicicleta, tenho preguiça. Mas hoje foi o único jeito”, afirmou a editora de livros Adriana Monzani, de 56 anos, que pedalou seis quilômetros até o trabalho. 

Esse foi o terceiro e mais abrangente ato organizado nos últimos anos contra o tributo que desconta entre 9% a 35% da renda, de acordo com a faixa salarial. Está isento quem ganha menos de 15 mil pesos (R$ 5,5 mil). Como os salários são corrigidos pela inflação (23% por ano segundo o governo, 38% de acordo com consultorias independentes), o grupo de pagantes cresce. Segundo o governo, ele representa apenas 11% do total de trabalhadores.

O eixo da greve foi o setor de transportes, o que dificultou a vida de muitos trabalhadores. A maioria optou pela bicicleta para chegar até o centro de Buenos Aires Foto: REUTERS/Marcos Brindicci

A maior parte dos taxistas, que poderiam amenizar a dificuldade de locomoção, ficou em casa por medo de repressão nos piquetes. E também porque a maioria dos veículos é abastecida a gás, o que dá uma autonomia menor, de cerca de sete horas. “Eu não peguei um passageiro argentino hoje”, disse o taxista Pedro Luis Cepeda, explicando que uma viagem da região metropolitana ao centro da capital, feita pela maioria dos operários, pode custar 150 pesos (R$ 54).

Reações. O sindicalista Hugo Moyano, aliado do kirchnerismo até 2011, o principal do país, considerou a greve bem sucedida por ter “sabido interpretar a vontade da população”. 

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A reação da presidente foi a convocação de um discurso em rede nacional, no fim da tarde. Na inauguração de um ginásio na cidade de La Matanza, de forte eleitorado peronista, ela contestou a adesão a greve. “Sabemos que todos teriam ido trabalhar se não fosse a falta de transporte”, afirmou. A presidente disse ter vergonha de que um ato assim ocorra no país, “impedindo os trabalhadores de chegar ao emprego”. 

Ao seu lado, estava o governador Daniel Scioli, um peronista moderado que lidera com pequena vantagem (30%), a corrida pela presidência. Na segunda-feira, o prefeito de Buenos Aires, Mauricio Macri, segundo colocado conforme as sondagens de opinião (29%), se disse contrario a paralisação porque “agrava a crise argentina”. O terceiro pré candidato, o ex-kirchnerista Sergio Massa (15%), prometeu ontem que em seu governo o imposto será extinto.

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