
09 de dezembro de 2020 | 19h59
BRASÍLIA - Para os pequenos provedores, a melhora na qualidade da internet nas casas, aeroportos e shoppings depende da destinação da faixa de 6 GHz para o Wi-fi 6E. O presidente da Associação Brasileira das Prestadoras de Serviços de Telecomunicações Competitivas (Telcomp), João Moura, afirma que as atuais faixas de Wi-fi são altamente demandadas, inclusive nas periferias, o que degrada o serviço indoor (ambientes fechados).
“Vamos mudar de patamar com o 5G, mas precisamos ter uma comunicação fixa sem fio com qualidade equivalente. Quando o consumidor vier da rua, ele precisa encontrar algo compatível e complementar em casa, que é o Wi-fi 6E”, disse Moura.
A Telcomp é uma dos 19 membros da Coalizão Wi-fi 6E, que reúne entidades de pequenos provedores e empresas como Apple, Amazon, Cisco, Facebook, Google, HP, Intel, Microsoft, Qualcomm, e a operadora Oi, entre outras companhias.
A destinação integral da faixa de 6 GHz permite o uso de sete canais de 160 MHz, algo necessário para o pleno funcionamento da Internet das Coisas e aplicativos de realidade aumentada, diz Moura. Segundo ele, isso permite que centenas de usuários possam usar o mesmo ponto de acesso ao mesmo tempo com qualidade para todos.
O diretor-geral da Associação NEO, que reúne operadores de TV por assinatura, provedores e fornecedores, Alex Jucius, disse esperar que a Anatel tenha “coragem” para tomar uma decisão igual como a do FCC, órgão regulador norte-americano. “Com a destinação da faixa 6 GHz toda para o Wi-fi, será como dirigir numa estrada livre de sete faixas com uma Ferrari, sem limite de velocidade”, comparou.
O vice-presidente de Relações Governamentais da Qualcomm, Francisco Soares, afirma que a empresa já está pronta para fornecer os equipamentos necessários para a faixa. A companhia é fabricante de chips compatíveis com o Wi-fi 6E que serão usados em dispositivos como celulares, computadores e roteadores. Segundo ele, a frequência será essencial para redes corporativas e ambientes como shoppings , aeroportos e estádios.
“O Wi-fi 6E não compete com o 5G, são complementares. A Qualcomm tem tecnologia para ambas as tecnologias, mas o offload (descarga) de dados é feito em grande parte pelas redes de Wi-fi e precisamos de algo compatível com o 5G. Não podemos ter um gargalo no Wi-fi”, afirmou. “Prejudicar a experiência do usuário é algo que não tem sentido.”
Presidente da Federação de Associações de Provedores da América Latina e do Caribe (LAC-ISP), Basílio Perez afirma que o setor está chegando a locais que não eram atendidos pelas empresas de grande porte com velocidades de 100 a 500 mega, mas os roteadores não conseguem oferecer essa qualidade porque as atuais faixas de Wi-fi estão lotadas. “Temos interferências e dificuldades de acesso pela competição de espectro entre apartamentos vizinhos”, afirmou. Para ele, as grandes operadoras estão atuando contra o Wi-fi 6E para não perder mais mercado para os pequenos provedores.
O consultor de espectro da Câmara Brasileira de Economia Digital (Câmara-e.net), Amadeu Castro, afirma que pouco mais de 50% do tráfego de dados ocorre dentro das redes de wi-fi e há estimativas de que o nível atinja entre 60% e 70% no 5G. “Não há razão para esperar”, disse. “Na pandemia, as pessoas estão em casa e fazem grande uso da internet. Um Wi-fi mais rápido e amigável melhora a experiência do usuário nas lojas eletrônicas.”
Hugo Ramos, CTO (chefe de tecnologia) da CommScope para Caribe e América Latina, afirma que o avanço o Wi-fi 6E e do 5G trarão geração de riqueza para a sociedade. Fornecedora de infraestrutura de rede em escala global para operadoras, a empresa foi uma das responsáveis pelas instalações de 4G nos estádios durante a Copa do Mundo de 2014. “O momento é de criação de estradas e vias de conhecimento, não de limitá-los”, afirmou.
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09 de dezembro de 2020 | 19h59
BRASÍLIA - A disputa pelo uso de uma frequência que tem potencial de elevar a qualidade da internet fornecida por Wi-fi será decidida na próxima quinta-feira, 10, pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).
De um lado, estão as operadoras Claro, Tim e Vivo, que pedem para que metade da faixa seja reservada para outros fins. De outro, estão 19 pequenos provedores, fornecedores, empresas de tecnologia, associações e até a Oi, que se uniram através da Coalizão Wi-fi 6E.
O caso envolve o espectro de 6 gigahertz (GHz), faixa que é considerada auxiliar do 5G. Quando os consumidores chegarem em suas casas, em vez das redes 5G das operadoras, eles usarão a internet que contrataram para uso residencial. O Wi-fi 6E (em inglês, o “e” vem de enhanced, ou seja, melhorado) promete alta velocidade e baixa latência (tempo entre dar um comando em um site ou app e sua execução). A expectativa é que não haja diferença entre as experiências em casa, com a rede de internet residencial, e as feitas na rua.
O uso integral para redes de Wi-fi foi aprovado pela Anatel em maio. Pela decisão, a utilização foi liberada para uso não-licenciado, o que, em outras palavras, significa gratuito – não será preciso comprar lotes, como ocorre em leilões do 4G, em 2012 e 2014, e 5G, previsto para 2021.
A definição do uso de cada faixa segue padrões internacionais. A Federal Communications Comission (FCC), órgão regulador dos EUA, aprovou o uso de toda a faixa para o Wi-fi 6E, mesmo caminho escolhido pela Coréia do Sul e Chile. A faixa tem um total de 1.200 MHz, que pode ser dividido em sete canais de 160 MHz – como se fosse uma rodovia com sete pistas.
É a primeira vez em 20 anos que uma faixa é liberada para Wi-fi no mundo. As atuais, de 2.4 GHz e de 5 GHz, estão sobrecarregadas. Quem vive em apartamento sabe disso: quando busca uma rede, encontra também as de seus vizinhos. Por causa desse congestionamento, quando um consumidor contrata um pacote de internet de 200 mega, o roteador de Wi-fi oferece uma velocidade bem inferior. É como se fosse um funil: muito sinal para pouca vazão.
Com a aprovação da Anatel em maio, os pequenos provedores se animaram. Juntos, eles são líderes no fornecimento de banda larga fixa residencial, com 30% de participação, e buscam aumentar essa presença com o Wi-fi 6E a partir de 2021. Ainda falta a definição de detalhes técnicos pela Anatel para que novos celulares e computadores possam ser homologados, mas os fabricantes afirmam que os chips para essa tecnologia já estão prontos.
Três operadoras, no entanto, querem reservar metade da faixa para outros fins e recorreram da decisão da Anatel. O caso será analisado novamente pelo Conselho Diretor do órgão regulador nesta quinta-feira, 10, sob relatoria do conselheiro Emmanoel Campelo. As teles argumentam que a agência precisa aguardar, antes de tomar uma decisão, a definição do uso da faixa pela World Radiocommunication Conferences (WRC), o que ocorrerá apenas em 2023.
A coalização Wi-fi 6E reagiu e enviou carta cobrando a manutenção da decisão pela Anatel. “Uma destinação robusta de espectro não licenciado, que leve em consideração as necessidades futuras do País, contribuirá para adoção, pela Anatel, de medidas voltadas a superar o abismo digital existente entre centros urbanos e zonas rurais, e em áreas urbanas mal atendidas. Diversos estudos apontam o enorme potencial do Wi-fi 6E para expandir a conectividade em cidades inteligentes, assim como em áreas mais remotas e carentes”, dizem as entidades.
Muitas vezes alinhada com as maiores operadoras, a Oi se manifestou contra a proposta das teles e pela manutenção da destinação da faixa de 6GHz integralmente para o Wi-fi 6E. Para a empresa, a rediscussão do tema na Anatel é uma tentativa de criar uma “agenda artificial” para o País.
“Esta agenda artificial fará com que este recurso esteja sem uso durante mais de cinco anos até que se tenha terminais e redes, com o gravame da incerteza na adoção desta banda pelo mercado. Portanto, a medida nega à nossa sociedade o acesso imediato de uma tecnologia de banda larga mais barata e acessível, já que hoje há dispositivos, soluções e aplicações com o wi-fi 6E que permitem o uso imediato da faixa”, disse a empresa ao Estadão/Broadcast.
“Atualmente as redes móveis são projetadas para cobertura outdoor (fora de casa). Entretanto, 80% de todas as sessões de dados se dão em ambientes indoor (fechados). A experiência 5G poderá ser degradada pela baixa penetração indoor do espectro destinado ao 5G, sacrificando a experiência do usuário”, acrescentou.
Claro, Vivo e Tim defendem a reserva de metade da faixa para outros fins que não o Wi-fi 6E. Em carta à Anatel, a Vivo diz se tratar de “medida estratégica, que demonstraria o planejamento de médio e longo prazo da Anatel para o tema de espectro, e que permitirá a adaptação do mercado brasileiro de telecomunicações aos futuros cenários”.
Documento da Tim enviado ao órgão regulador cita estudo da chinesa Huawei “no qual há expressa sinalização de que a banda de 6 GHz é essencial para o desenvolvimento sustentável do 5G nos próximos dez anos”. A Claro também apoia a proposta da Vivo e da Tim, mas procurada, não comentou.
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