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Crônicas, seguros e um pouco de tudo

Opinião|Quando é importante contratar seguro

O seguro não evita o dano, mas repõe parte importante das perdas decorrentes dos sinistros cobertos

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Atualização:

Diz a voz do povo que a melhor forma de não se correr riscos é não fazer nada. Em princípio, ou melhor, parcialmente, é verdade. Veja o exemplo do homem que foi atingido por uma bala perdida dentro de um ônibus no Rio de Janeiro. Ele não estava fazendo nada e foi atingido por um tiro que não era destinado a ele. Alguém pode alegar que não é verdade que ele não estava fazendo nada. Estava dentro de um ônibus, sujeito não só a levar um tiro, como, muito mais razoável, ser vítima de um acidente de trânsito.

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Radicalizando, não fazer nada para não correr riscos seria ficar em casa, deitado na cama, com as portas e janelas fechadas. Mas, mesmo neste caso, não é verdade que não há risco e que não pode acontecer um evento que atinja a pessoa trancada no quarto. Seria possível um avião cair sobre o imóvel, ou um raio, ou outro morador causar uma explosão por causa de um vazamento de gás.

A verdade é que viver implica em riscos, tanto faz as medidas que adotemos para evitá-los ou minimizá-los. O risco é parte inerente da vida. O que varia são as chances de um determinado evento ocorrer e atingir uma determinada pessoa, seu patrimônio ou sua capacidade de ação.

Riobaldo Tatarana, o narrador de Grande Sertão: Veredas, no começo do livro afirma: “Viver é muito perigoso”. Com certeza, é. Que o diga o coronavírus e o estrago que está fazendo ao redor do mundo, pelo menos sob a ótica humana, na forma como ataca e contamina as pessoas. Que o digam os eventos de origem climática, causando danos estratosféricos cada vez com mais frequência em áreas onde eram completamente desconhecidos.

Desde antes de descer das árvores e começar a caminhar sobre dois pés, o ser humano é vítima de acidentes e incidentes que cobram seu preço em vidas, bens ou capacidade de ação. Mas ele não é apenas o agente passivo desses eventos. O ser humano também dá causa a acontecimentos que geram enormes prejuízos a ele próprio e a outros. Sem entrar em questões éticas, as explosões atômicas que atingiram o Japão no final da Segunda Guerra Mundial mostram isso com insofismável clareza. Da mesma forma que os desmandos de políticas econômicas implantadas sem competência e suas consequências também cobram um alto preço do cidadão comum. 

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Existem diferentes formas de proteção contra os riscos que ameaçam a humanidade. Mas nem todos eles podem ser completamente neutralizados. Ao contrário, boa parte causa perdas importantes, independentemente das ações adotadas.

O seguro é uma ferramenta de mitigação dos prejuízos gerados pela ocorrência desses eventos, seja com ou sem a participação humana. Mas o seguro não evita o dano. O seguro apenas repõe parte importante das perdas decorrentes dos sinistros cobertos. Não tem como a seguradora evitar a materialização do risco ou avocar para si sofrer suas perdas. Uma seguradora não tem o poder de evitar uma tempestade ou impedir um assassinato. 

O que ela faz é pagar a indenização prevista no contrato de seguro, que, se corretamente contratado, é suficiente para repor o patrimônio do segurado no mesmo patamar em que se encontrava no momento anterior à ocorrência do evento coberto.

Daí ser importante o segurado saber que seguros ele está contratando e se eles são apropriados para cobrir seus riscos. Seguro é um contrato com cláusulas e condições impostas pela seguradora, às quais o segurado adere. O segurado não tem o poder de impor as condições da apólice. O máximo que ele pode é, através de cláusulas especiais e particulares, também desenhadas pela seguradora, proteger com mais exatidão o objeto do seguro.

Assim, antes de contatar um seguro, o segurado deve perguntar se vale a pena comprar a proteção e se ele é a pessoa indicada para contratá-la. Se for, ele deve perguntar se o custo-benefício é satisfatório, se as coberturas são apropriadas para o risco, em que proporção as exclusões podem interferir nas garantias e quais as condições para ele receber a indenização. No final, ele pode descobrir que nem sempre qualquer seguro é a melhor solução.  *SÓCIO DE PENTEADO MENDONÇA E CHAR ADVOCACIA E SECRETÁRIO-GERAL DA ACADEMIA PAULISTA DE LETRAS

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Opinião por Antônio Penteado Mendonça
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