Publicidade

Quando o sonho da imigração vira pesadelo

Na Austrália, metade dos trabalhadores estrangeiros recebe menos de US$ 12 por hora

Por Jacqueline Williamson
Atualização:

Como muitos jovens sul-coreanos, Gabi Cho mudou-se para a Austrália para aprender inglês, respirar um ar mais puro e ganhar algum dinheiro. Há dois anos, conseguiu um emprego de cabeleireira em Lidcombe, em Sydney, com salário de US$ 9 por hora. Para conseguir a vaga teve de desembolsar US$ 380, que seriam devolvidos se não chegasse atrasada nem faltasse ao trabalho. Ela não sabia, na época, que tudo isso era ilegal. 

Gabi Cho abriu ação contra patrão na Austrália por exploração de trabalho Foto: Matthew Abbott|The New York Times

PUBLICIDADE

Hoje, Gabi Cho move uma ação contra o salão de beleza, que lhe deve US$ 30 mil. Ela está entre os milhares de trabalhadores estrangeiros temporários na Austrália que vivem de subempregos, de acordo com um relatório divulgado este mês. O levantamento aumenta as evidências de que a Austrália abriga uma subclasse enorme, mas silenciosa, de trabalhadores imigrantes que são vítimas de abusos no mercado de trabalho. "O patrão explorou o fato de eu não saber bem inglês e minha falta de conhecimento da lei e dos direitos do trabalhador”, disse Gabi. 

Com uma economia desenvolvida, um ambiente saudável e com os mercados de trabalho em penúria em muitos lugares, a Austrália se tornou uma opção atraente – o que levou à discussão sobre o número de trabalhadores estrangeiros que o país deve admitir e se podem ter permissão para viver ali permanentemente. Para o primeiro-ministro Malcolm Turnbull, muitos desses trabalhadores ocupam o lugar de australianos que estão em busca de emprego.

A pesquisa divulgada no dia 14, chamada Wage Theft in Australia, abrange um número estimado de 900 mil migrantes com direito de trabalhar no país. E conclui que cerca de um quarto dos estudantes internacionais recebe menos de 12 dólares australianos, ou US$ 9, por hora, e a metade consegue 15 dólares australianos (US$ 11,25), ou menos. Os empregos mais mal pagos estão na área de colheita de legumes e frutas e trabalho agrícola. “Sabemos que isso já está enraizado e é generalizado”, disse Bassina Farbenblum, coautora do estudo e professora de Direito na Universidade de New South Wales. 

As conclusões são parecidas com as do governo australiano. Jovens e imigrantes podem estar mais suscetíveis à exploração no mercado de trabalho, disse Mark Lee, porta-voz da Fair Work Ombudsman, agência do governo que investiga as queixas trabalhistas. Os trabalhadores de países asiáticos são particularmente suscetíveis, segundo o estudo. Os que vêm da China, Taiwan e Vietnã recebem salários menores do que os da América do Norte, Irlanda e Grã-Bretanha. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.