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Quando teremos uma Macy's brasileira?

Por MAXIMILIANO TOZZINI BAVARESCO e SÓCIO DIRETOR DA SONNE BRANDING
Atualização:

Por que todos querem vir ao Brasil para vender, enquanto os brasileiros continuam querendo sair do País para comprar? Em uma análise superficial, esses dois movimentos podem parecer antagônicos. Mas, se analisarmos de forma mais profunda este cenário, chegaremos à mesma origem que torna esses movimentos sinérgicos: o Brasil não tem muitas marcas notórias.Nesse contexto, fica fácil entender por que cada vez mais brasileiros peregrinam pelo mundo derretendo seus cartões de crédito e transferindo riquezas do Brasil para diversos países, em especial os Estados Unidos. É necessário conscientizar empresários e profissionais envolvidos na cadeia de valor de bens de consumo - especialmente de roupas, acessórios, sapatos, produtos de beleza e cuidado pessoal -, de que o trabalho de branding precisa ser difundido e valorizado no País, para que dentro de 20 anos possamos reverter o cenário atual e atrair brasileiros e também estrangeiros a comprar nossas marcas em uma rede brasileira de lojas de departamento.Nota-se um ainda tímido movimento nesse sentido, que alguns magazines como C&A, Riachuelo e Renner fizeram nos últimos anos, ao replicar a tática dos seus similares internacionais, associando-se a renomados estilistas brasileiros para lançar coleções especiais. Tais atitudes são capazes de atrair o mesmo público que compra nas lojas de departamento americanas, como a Macy's. Essas lojas transformaram um gap em oportunidade de negócio ao perceberem a falta de marcas nacionais renomadas e fortes. Independentemente de questões cambiais, publicitárias, tributárias, de relações exteriores, etc., a invasão de marcas internacionais e as compras de brasileiros no exterior - feitas em lojas de departamentos como a Macy's, Sacks Fifth Avenue e Bloomingdale's-, se deve ao fato de não termos marcas de prestígio.O exemplo mais contundente foi retratado no primeiro semestre deste ano pela campanha de varejo promovida pela Macy's, que é a maior e uma das mais tradicionais redes de lojas de departamento do mundo. A campanha não foi concebida para atrair o público americano, mas totalmente focada em se conectar ainda mais com os já considerados clientes cativos - os brasileiros. A fachada da loja apresentava um imenso outdoor com os dizeres: "A magical Journey - Brazil". Dentro dela, em todos os andares era possível se deparar com ilhas de visual merchandising com looks e produtos teoricamente inspirados no País, somados a diversos outros elementos que reforçavam o conceito de brasilidade.Os brasileiros, por sua vez, não estavam na Macy's em virtude da campanha, mas para comprar produtos Calvin Klein, Hugo Boss, Diesel, Lacoste, Anne Klein, Armani, Michael Kors, Carolina Herrera, Kenzo, Adidas, Nike, Dolce Gabbana, Puma, Polo Ralph Lauren, entre outros. A única marca brasileira dentre as citadas era a Havaianas, que, por sinal, é um dos raros cases de sucesso do poder de uma marca notória nacional além das nossas fronteiras.É mandatório instilar a cultura da inovação no Brasil, por meio da produção de conhecimento e da valorização da nossa capacidade criativa, que, aos poucos, substituirá as práticas com foco no curto prazo e no retorno financeiro rápido.Para isso, precisamos compreender que o processo de construção de uma marca forte envolve questões fundamentais de qualquer negócio que transcendem o desenvolvimento de uma coleção e o apreçamento de seus produtos nas prateleiras e vitrines. Construir uma marca forte e notória envolve muito mais que questões de marketing e comunicação, e demanda muitos anos. Uma estratégia empresarial focada na gestão de marca, implica em manter-se fiel ao propósito que fez nascer cada uma das empresas, equalizando de forma planejada questões operacionais e financeiras com outras intangíveis e emocionais, motivadas pelo desejo verdadeiro de perpetuar uma marca e um conceito no mercado.É necessário, inclusive, conscientizar nossos governantes de que as questões de branding podem ajudar o País a crescer de forma sustentável com a valorização das marcas brasileiras, pelo que elas podem representar para cada segmento de consumidores, e não pelo aumento das alíquotas de impostos, que deveriam ser substituídas por programas de incentivo à profissionalização das empresas locais, contemplando o financiamento para contratação de consultorias e empresas especializadas na construção e desenvolvimento de negócios e marcas nacionais.Assim, dentro de duas ou três décadas, poderemos nos tornar uma potência econômica capaz de exportar marcas brasileiras para o mundo.

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