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Quarto trimestre menos ruim não salva o ano de 2015

Por Bráulio Borges
Atualização:
Bráulio Borges, economista-chefe da LCA Consultores 

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelou que o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro seguiu em contração no terceiro trimestre deste ano, transformando a recessão atual – iniciada no segundo trimestre de 2014, segundo o Codace/FGV – na mais prolongada desde aquela observada entre o primeiro trimestre de 1998 e o primeiro trimestre de 1999.

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Embora em sua gênese a recessão atual tenha sido suave comparativamente aos outros episódios, a evolução observada da atividade até agora aponta que o ciclo recessivo corrente passa longe de mimetizar o padrão médio dos oito episódios identificados pelo Codace desde 1980: a recessão “representativa” durou cerca de quatro trimestres, com o PIB per capita acumulando uma retração de 2% a 4% na fase recessiva e retornando ao pico observado previamente ao início da recessão em cerca de oito trimestres. No episódio atual, a queda acumulada desde o pico chega a quase 7%, em seis trimestres.

Por outro lado, a dinâmica da atividade na recessão atual também parece algo distante, ao menos até agora, daquela verificada nas recessões mais prolongadas – que também foram as mais severas, associadas a crises agudas do balanço de pagamentos.

De fato, a evolução do PIB per capita brasileiro no ciclo recessivo atual se assemelha bastante ao padrão médio observado em recessões que aconteceram concomitantemente a quadros políticos bastante conturbados – como é o caso corrente, não custa lembrar.

A história brasileira mostra que crises “gêmeas” (econômicas e políticas) são mais severas e difíceis de superar do que crises “puro-sangue” (ou econômicas ou políticas).

Há sinais, ainda incipientes, de que a atividade, em termos agregados, pode ter encontrado o fundo do poço no trimestre passado.

É o que sugere o comportamento do consumo de energia elétrica expurgado das oscilações de temperatura (variável para a qual estão disponíveis dados diários), bem como de alguns outros indicadores.

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Nosso indicador de probabilidade de recessão apontou, em novembro, uma leitura abaixo da marca de 50% pelo segundo mês consecutivo, reforçando a possibilidade de que a atividade pare de encolher no quarto trimestre.

Isso, contudo, não será suficiente para salvar o ano de 2015 – que deverá ter uma retração em torno de 3,5%, a maior desde 1990. Mas, caso essa estabilização no final de 2015 se confirme, o cenário para 2016 pode ficar menos tenebroso.

É economista-chefe da LCA Consultores e pesquisador associado do Ibre/FGV

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