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Quatro empresas brasileiras registram no 1º trimestre prejuízos entre os maiores da história 

Segundo levantamento da consultoria Economatica, o resultado ainda não foi causado pelo travamento da economia, com a pandemia, mas por seus efeitos colaterais, como a alta do dólar

Foto do author Fernanda Guimarães
Foto do author Circe Bonatelli
Foto do author Talita Nascimento
Por Fernanda Guimarães , Circe Bonatelli (Broadcast), Fabiana Holtz e Talita Nascimento
Atualização:

A pandemia de covid-19 afetou a economia brasileira apenas nas últimas duas semanas de março, mas, mesmo assim, quatro grandes empresas brasileiras - Petrobrás, Suzano, Azul e JBS - tiveram um trimestre que entrou para os 20 maiores prejuízos nominais da história, segundo a consultoria Economatica. O resultado ainda não foi causado pelo travamento da economia, mas sim por seus efeitos colaterais (como a valorização do dólar) e a antecipação do que pode vir a acontecer. 

Empresas com prejuízo em 2020 Foto: Petrobras Tiago Queiroz/Estadao / Azul Fabio Motta/ Estadao / JBS Ueslei Marceloino/Reuters / Papel e celulose Divulgacao

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Mais do que os números do trimestre em si, os balanços têm sido importantes para identificar os primeiros sinais da crise, segundo Betina Roxo, analista de ações da XP Investimentos. É um olhar menos para o passado e mais para o que virá pela frente. A temporada de balanços ainda não chegou ao fim, visto que o período legal para divulgação dos demonstrativos financeiros foi estendido pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) por conta da pandemia.

Pelos balanços das empresas de capital aberto divulgados até agora já é possível perceber que o impacto não chegou de maneira uniforme a todos os setores. Mas algumas iniciativas foram comum a todas: preservação de caixa e planejamento dos negócios para a atuação em modo de contingência. Isso envolveu corte de investimento, busca por linhas de crédito e renegociação de dívidas.

Empresas com endividamento em dólar sofreram com efeitos financeiros, mesmo que ainda não batendo no caixa, como a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), que viu sua dívida saltar 27%, para R$ 32,8 bilhões, acendendo o sinal amarelo de analistas de mercado.

Outras tiveram de revisar o preço de seus ativos, por meio de ajustes contábeis, caso da Petrobrás. O prejuízo da petroleira entre janeiro e março, de R$ 48,5 bilhões, foi o maior prejuízo nominal já registrado por uma empresa de capital aberto na história da Bolsa brasileira, segundo a Economatica.

Dentre os setores mais afetados até aqui, sem dúvida, está o aéreo, que enfrentou uma queda brusca no número de voos. As negociações passaram a envolver um pacote de socorro com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e bancos privados. No mesmo sentido, a fabricante de aeronaves Embraer sentiu a demanda minguar e teve, ainda, os planos de negócio com a Boeing frustrados pela rescisão por parte da norte-americana, aumentando os desafios no futuro.

Outro setor que viu os desafios crescerem foi o de varejo não alimentício. Grande parte das lojas foi fechada - e as que abriram viram poucos consumidores. A Via Varejo, por exemplo, que já vinha priorizando a estratégia digital, teve de acelerar seus planos. Em busca de caixa para atravessar o período, a empresa contratou bancos para lançar, ainda este mês, uma oferta subsequente de ações (follow on) de R$ 5 bilhões.

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Por outro lado, dentre os setores mais bem posicionados, estão aqueles com base na tecnologia e no comércio eletrônico, varejistas alimentares e as exportadoras, muito beneficiadas com o dólar beirando os R$ 6. Por ordem, casos de B2W, GPA e Carrefour e Vale.

"Os resultados mais desafiadores acontecerão ao longo dos próximos meses", afirma Lucas Carvalho, analista da Toro Investimentos. "O primeiro trimestre 'capta' parcialmente os efeitos da pandemia e seus consequentes impactos econômicos."

Busca por liquidez

Em comum entre os setores, esteve a busca por liquidez. A siderúrgica Gerdau, por exemplo, cortou 40% dos investimentos programados para este ano. Por ora, eles ficaram em R$ 1,6 bilhão. "Diante das incertezas, passamos a ser mais conservadores na aprovação de projetos e paralisamos obras", afirmou o presidente da Gerdau, Gustavo Werneck, em teleconferência, após a divulgação dos resultados.

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Até mesmo as redes de supermercados, que vivem momento positivo, decidiram reforçar o cofre. O GPA foi discreto e contratou nova linha de crédito no fim de abril, em um total de R$ 500 milhões, com vencimento em dois anos. O Carrefour contratou linha de R$ 1,5 bilhão em crédito logo no início da pandemia. "Se a crise piorar, temos dinheiro barato e não precisamos mais (tomar dinheiro emprestado) até o fim do ano", disse Sebastien Durchon, diretor financeiro da companhia.

Ainda no varejo, mas no setor de beleza e cosméticos, a Natura &CO aprovou um plano de aumento de capital de até R$ 2 bilhões. O objetivo também foi reforçar o caixa, mas a estratégia foi captar dinheiro mais barato, já que as condições de crédito no mercado estão menos favoráveis.

No setor de telecomunicações, os balanços de Telefônica, TIM e Claro mostraram que a pandemia do coronavírus afetou o faturamento com recarga de celulares pré-pagos e venda de aparelhos, atividades que dependem de lojas abertas. No entanto, esse efeito negativo começou a ser revertido ao longo de abril, com a reabertura do comércio em algumas regiões do País. 

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