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Queda de produção derruba papéis da petroleira OGX para R$ 1,25

Por Beth Moreira , SERGIO TORRES e RIO
Atualização:

A queda de produção da petroleira OGX, de Eike Batista, derrubou em 10,71% o valor das ações da companhia no pregão de ontem da bolsa brasileira, o que aumentou o descrédito do mercado e de especialistas quanto à sua recuperação. Os papéis da empresa chegaram ao fim do dia valendo R$ 1,25. Além da queda produtiva registrada em março (informação que foi revelada anteontem à noite), a OGX enfrenta uma crise de confiança, centrada, sobretudo, na incapacidade de manter os níveis de produção compatíveis com a expectativa criada após o anúncio da descoberta de grandes reservas de óleo e gás. No mês passado, a empresa registrou uma produção 10,1% inferior à de fevereiro. O Credit Suisse calcula que as paradas por problemas técnicos em poços da OGX devem representar perda equivalente a US$ 42 milhões de receita, além de revelar a necessidade de investimentos adicionais de US$ 24 milhões. Em relatório intitulado "Lei de Murphy", os analistas Emerson Leite, Vinicius Canheu e Andre Sobreira destacam que, em meio a tantas incertezas, a última coisa que a empresa precisava nesse momento era ter problemas operacionais. O momento que atinge a OGX é muito similar ao de bancos que perdem a confiabilidade do correntista, afirma o economista Edmar de Almeida, especialista em energia e professor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). "Hoje a OGX vive um fenômeno parecido àquele que provoca uma corrida bancária. A empresa está no olho de um furacão financeiro. Não há mais confiança do mercado sobre a capacidade do grupo e de Eike", diz. Para o professor da UFRJ, a OGX se lançou com uma campanha de marketing "arrojada e arriscada demais", e agora paga por isso, já que os resultados da produção são bem mais baixos do que o previsto inicialmente."A companhia diz que está tendo problemas técnicos, que são problemas normais. Poço, às vezes, entope. Só que, no caso da OGX, isso acontece em um contexto em que já deu muita coisa errada. Repercute muito mais. Para sair disso, a empresa tem que surpreender o mercado", alertou o especialista.Problemas técnicos. O resultado ruim de março é consequência da queda da produção no campo de Tubarão Azul, na Bacia de Campos (norte do Estado do Rio e sul do Espírito Santo), onde a petroleira atua desde janeiro de 2012. O recuo foi de 26,5%: 8,3 mil barris diários em março contra 11,3 mil barris no mês anterior.O geólogo Carlos Jorge Abreu, da Universidade de Brasília (UnB), avalia que a queda de produção da OGX pode ser consequência de uma estimativa inicial equivocada das reservas de Tubarão Azul. "É provável que tenha havido uma superavaliação. Podem ter tentado supervalorizar a reserva", diz o geólogo.Mesmo com as incertezas da atividade, o especialista disse ser surpreendente uma queda produtiva tão expressiva. "Qualquer companhia só põe para produzir quando tem certeza que o campo é comercial. Com os estudos prévios, a incerteza diminui. O jogo não é para perder. Acontece de haver uma produção menor, mas não tão menor assim." Em nota, anteontem, a companhia creditou o decréscimo da produção a problemas operacionais e técnicos em poços de Tubarão Azul.

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