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Qual o impacto da queda do desemprego na campanha de Bolsonaro? Leia análise

Taxa ficou abaixo dos 10% pela primeira vez desde 2016; reflexo para a reeleição, no entanto, deve ser pequeno

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Por Alexandre Calais
Atualização:

Há mais de seis anos não se via uma notícia dessas: a taxa de desemprego ficou abaixo dos dois dígitos. A última vez havia sido em janeiro de 2016, quando estava em 9,6%. Depois disso, em meio à recessão, impeachment de presidente, crises internas e externas, pandemia, notícias ruins para todos os lados, o número só cresceu. Chegou a espantosos 14,9% no trimestre encerrado em março do ano passado. Mas, a partir daí, engatou uma sequência de quedas, até chegar aos 9,8% agora em maio. Uma boa notícia em meio a tantas outras ruins na economia, como a inflação persistentemente acima dos dois dígitos (hoje rodando na casa dos 12%) e a taxa de juros que não para de subir.

Claro, o número frio mostra apenas um pedaço da história. Boa parte desses empregos vem do setor informal, que bateu recorde em maio, com 39,13 milhões de pessoas nessa situação. Até por conta disso, a renda média caiu 7,2% em relação a maio do ano passado. E a população desempregada, embora tenha caído 11,5% em relação ao ano anterior, ainda é de 10,6 milhões de pessoas, um número alto.

Pessoas em busca de emprego; IBGE divulgouos resultados da Pnad referentes ao trimestre encerrado em maio Foto: Nilton Fukuda/Estadão

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Os números do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), que mostram apenas os dados de contratações e demissões formais - ou seja, com carteira assinada -, já vêm há tempos apontando para uma melhora no emprego, a despeito das dificuldades da economia. De janeiro a maio, foram mais de um milhão de empregos formais criados, e a previsão do ministro do Trabalho e Previdência, José Carlos Oliveira, é de o País chegar ao fim do ano com 1,5 milhão de novas vagas.

São números a serem explorados pelo presidente Jair Bolsonaro na campanha à reeleição. Mas será que têm o poder de angariar votos? Difícil. O problema aqui é que, apesar da melhora nos indicadores, a sensação geral não tem sido positiva, especialmente porque a inflação muito alta por um tempo tão prolongado corroeu o poder de compra de quem já estava empregado. Ou seja, a impressão é de empobrecimento.

Recentemente, Ben Bernanke, ex-presidente do Fed (o banco central americano), falou sobre essa questão, referindo-se aos Estados Unidos. “A diferença entre a inflação e o desemprego é que a inflação afeta exatamente todo mundo”, disse, em entrevista ao "New York Times". “O desemprego afeta muito a alguns, mas a maioria das pessoas não reage muito ao desemprego porque não está desempregada. A inflação tem um tipo de amplo impacto social.”

Nesse cenário, a queda do desemprego, que é mais do que bem-vinda, acaba não sendo tão efetiva do ponto de vista eleitoral. O que importa mesmo para as pessoas é ter mais dinheiro no bolso para poder voltar a consumir o que se acostumou a ter e acabou tendo de abrir mão. Daí o desespero do governo em aumentar os repasses diretos de recursos para a população, nos projetos feitos de forma atabalhoada, desrespeitando regra acima de regra, que aumentam o Auxílio Brasil de R$ 400 para R$ 600 e criam uma bolsa-caminhoneiro de R$ 1 mil, entre outros benefícios.

No final das contas, tudo que se espera nesse momento é que o desemprego continue caindo, como vem acontecendo. Mas, do ponto de vista eleitoral, o reflexo dessa notícia não deve ser tão grande assim. 

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*Editor-coordenador de Economia

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