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Queda do PIB reforça corte nos juros, defendem economistas

IPCA mostra aceleração devido a rejuste de mensalidades, mas IBGE diz que não há espaço para alta nos preços

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Por Redação
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A queda de 3,6% do Produto Interno Bruto (PIB) no quarto trimestre de 2008 ante o anterior reforçou a gravidade dos impactos da crise financeira internacional sobre o País e a importância de uma redução acentuada dos juros. Na véspera do anúncio da decis-ão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), o assunto dominou ontem (10) o lançamento do livro "Como reagir à crise - Políticas econômicas para o Brasil", da Imago Editora, organizado pelos economistas Edmar Bacha, um dos pais do Plano Real, e Ilan Goldfajn, ex-diretor do BC e novo economista-chefe do Itaú Unibanco. Veja também: Queda do PIB no quarto trimestre é a maior desde 1996 Educação acelera IPCA, mas preços devem ceder, diz IBGE  De olho nos sintomas da crise econômica  Dicionário da crise  Lições de 29 Como o mundo reage à crise  Para Goldfajn, a queda do PIB mostrou que o País vive "o momento mais agudo da crise". Ele afirmou acreditar que o dado influenciará a decisão do Copom de hoje, pois mostra que a atividade econômica caiu mais do que se imaginava. "É um período crítico", apontou, evitando fazer projeções para a queda da Selic. A contração do PIB no quarto trimestre impressionou até mesmo o BC, que ontem (10) consultou novamente o mercado sobre as apostas para o rumo da Selic. Essas sondagens são comuns, conforme apurou a Agência Estado, mas, geralmente, são realizadas até a sexta-feira que antecede a reunião do Copom. Desta vez, no entanto, a avaliação do BC, de acordo com as fontes, seria de que o PIB mais fraco do que o esperado teria tornado defasadas as estimativas anteriores de corte da Selic. Isso teria contribuído para a análise da autoridade monetária de que uma nova sondagem no mercado deveria ser feita. O ex-presidente do BC Gustavo Franco, autor de um dos capítulos da obra, ressaltou que, no passado, a instituição financeira não hesitou em elevar os juros, contrariando as pressões políticas, e que o momento presente representa uma oportunidade de cortá-los. "Nunca nos foi apresentada no passado uma oportunidade de fazer uma queda muito agressiva, que também enfrenta resistências relacionadas à reputação de conservadorismo que o BC construiu, cuidadosamente, ao longo do tempo", afirmou, durante debate realizado entre alguns dos autores do trabalho, na Livraria Cultura do Shopping Villa-Lobos, em São Paulo. Para Franco, o declínio dos juros deve levar a Selic para uma taxa de um dígito e será uma redução "irreversível", chamando atenção para o fato de o Brasil ter se "acostumado" com índices altos. Entretanto, ele evitou citar a previsão para a reunião do Copom, mas acrescentou: "Que o movimento tem de ser abrupto, tem." Franco disse ver espaço para a Selic cair para uma taxa de um algarismo ao longo deste ano. Na avaliação do ex-ministro da Fazenda Pedro Malan, que também participou da elaboração do livro, a caída dos juros seria mais eficiente se o afrouxamento fosse acompanhado de uma política fiscal mais restritiva. "Nós teríamos um espaço para acelerar ainda mais a desejada redução dos juros se nós tivéssemos uma política fiscal que tivesse uma clara percepção de que não existe uma resposta 'keynesiana' (relativa ao economista britânico John Maynard Keynes) da crise, o que significa aumento permanente, não transitório, de gastos correntes", afirmou. Para Malan, a política fiscal deve priorizar os investimentos públicos e evitar aumentos permanentes de gastos. Otimista, Bacha avaliou que, com o ajuste dos juros que ocorre atualmente, em 2010 tanto juros quanto câmbio estarão "no lugar" e abrirão espaço para discutir a questão fiscal. "Agora, fica claro que nós vamos chegar com câmbio e juros no lugar e vamos poder concentrar a discussão de política econômica no Brasil no que realmente interessa, que é a consolidação fiscal", opinou. Já o tesoureiro do Banco Safra, João César Tourinho, um dos autores da obra, a política monetária deve ser usada, "pois o nível de desaceleração da economia é preocupante". Tourinho disse acreditar que um corte de 1,50 ponto porcentual da Selic hoje seria "adequado". "A gente tem uma oportunidade única de sincronizar cambio e juros", destacou, chamando atenção para o impacto da crise econômica global sobre a economia real. O ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega também concorda que o comitê deve baixar os juros em 1,5 pp hoje. Segundo Nóbrega, o PIB do quarto trimestre foi "muito ruim", mas acrescentou: "O lado bom é que o espaço para a queda da Selic aumenta muito." De acordo com ele, a Selic deve terminar 2009 abaixo de um dígito, um fato histórico na política monetária do País.

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