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Queda nas ações da Petrobrás é desafio para estratégia de venda de ativos do BNDES

Ministro Paulo Guedes quer acelerar as vendas, mas os papéis da petroleira encerraram agosto em baixa; fatia do banco de fomento na Petrobrás é de 13,9%

Por Vinicius Neder
Atualização:

RIO - Principal ativo da carteira de participações societárias do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), as ações da Petrobrás passaram por turbulências na Bolsa nos últimos meses, o que aumenta o desafio dos novos gestores da instituição de fomento para cumprir uma das determinações do ministro da Economia, Paulo Guedes: acelerar as vendas de ativos. As ações da petroleira terminaram agosto com queda de 1,2% nas ordinárias (ONs, com direito a voto) e de 1,6% nas preferenciais (PNs, sem voto), após as quedas de 4,1% e 4,8%, respectivamente, em julho.

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A fatia de 13,9% do BNDES na petroleira encerrou o segundo trimestre avaliada em R$ 51,582 bilhões, respondendo por pouco menos da metade da carteira total, avaliada em R$ 105,465 bilhões. No primeiro trimestre do ano, o BNDES já vendeu R$ 3,6 bilhões em ações da Petrobrás. Desde que Gustavo Montezano assumiu como presidente do BNDES, no início de julho, os contatos com bancos de investimento se intensificaram e criaram expectativas em relação aos próximos movimentos do gigante estatal.

Segundo Régis Chinchila, analista da Terra Investimentos, as turbulências nos mercados internacionais, por causa da escalada da disputa comercial entre China e Estados Unidos e dos riscos de desaceleração mais forte na economia global, são o principal motivo por trás da queda das ações da Petrobrás em julho e agosto. Esses dois problemas não estão resolvidos e o quadro poderá se agravar nos próximos meses.

Do ponto de vista do BNDES, isso poderia atrapalhar os planos de acelerar as vendas das participações. No primeiro trimestre do ano, quando o banco vendeu a fatia bilionária no dia a dia do mercado, as ações da Petrobrás fecharam em forte alta - 22,6% nas PNs e 23,8% nas ONs. Só em janeiro, as altas foram de 16,3% e 12,8%, respectivamente. No segundo trimestre, quando os papéis fecharam em queda (3,3% e 1,9%, respectivamente), o BNDES não vendeu nada.

No ano passado, o banco de fomento vendeu R$ 4,5 bilhões em ações da estatal, mas as cotações oscilaram muito. Em meados de junho, na esteira da greve dos caminhoneiros, de medidas de controle do preço do diesel e da renúncia do então presidente da estatal Pedro Parente, os papéis ON fecharam abaixo de R$ 17 - hoje estão na casa de R$ 28. Segundo duas fontes que pediram para não se identificar, naquela ocasião, os gestores do BNDES chegaram a suspender as vendas, porque as cotações estavam abaixo do mínimo.

Uma das fontes explicou que, a partir da gestão de Maria Silvia Bastos Marques à frente do BNDES, iniciada em junho de 2016, quando a redução da carteira de ações foi colocada como meta, o banco definiu critérios, incluindo preços mínimos de venda, para orientar o movimento. Em seus últimos dias na diretoria do banco, Eliane Lustosa, que comandou a carteira de participações desde a chegada de Maria Silvia, disse em evento no Rio que, com essa política de investimentos, a nova gestão do BNDES estaria pronta para pisar no acelerador na venda de ações.

Entrada da sede do BNDES no centro do Rio. Foto: Wilton Junior/Estadão

Na semana passada, em suas primeiras declarações públicas, o novo diretor responsável por gerir a carteira, André Laloni, confirmou em entrevista coletiva a meta de reduzir a carteira do BNDES, mas evitou dar estimativas de valores ou ativos que poderão ser vendidos, cronograma de operações, ou definição sobre um modelo de atuação. Ainda assim, sinalizou que a carteira do BNDES já está “performada”, o que sigfnifica que já deu o ganho que se esperava dela, e, para vender, basta que os ativos estejam “gerando valor”, ou seja, não sejam vendidos com prejuízo. “Maximizar” os ganhos não é um objetivo, frisou.

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Para acelerar as vendas, o BNDES pode continuar operando no dia a dia da Bolsa, como fez no ano passado e no início deste, mas poderá lançar mão de ofertas públicas, como fez a Caixa. Em junho, o banco estatal vendeu R$ 7,3 bilhões em ações da Petrobrás numa oferta - Laloni, então vice-presidente financeiro da Caixa, trabalhou na operação. Os contatos com bancos de investimentos, confirmados na entrevista coletiva da semana passada, sugerem que o BNDES dará o tom das ofertas até o fim do ano.

Na opinião de Chinchila, da Terra Investimentos, as ofertas são um modelo mais adequado para atrair grandes investidores estrangeiros. Esse tipo de investidor não tem atuado muito no dia a dia da Bolsa, lembrou o analista. Somente até o último dia 19, os estrangeiros acumulavam retirada de R$ 19,5 bilhões neste ano, segundo a B3, a Bolsa de São Paulo. 

As ofertas são vistas como oportunidades para esses grandes investidores fazerem operações maiores. Em julho, quando houve ofertas de duas estatais privatizadas, a resseguradora IRB Brasil e de uma fatia da Petrobrás na BR Distribuidora, os estrangeiros entraram com US$ 4,879 bilhões, segundo o Banco Central (BC).

Embora Montezano e Laloni tenham confirmado os contatos com bancos de investimento, evitaram dizer qual o melhor modelo para acelerar as vendas. De acordo com Laloni, o formato da venda será analisado caso a caso. O executivo disse ainda que não há consenso no BNDES sobre como essas operações serão comunicadas ao mercado e que um plano com cronograma não deverá ser anunciado.