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Quem está com a razão?

Por Amir Khair
Atualização:

O maior destaque nos debates eleitorais no 1.º e 2.º turnos nas questões econômicas tem sido os temas ligados à inflação, que pesa no bolso de todos e, no crescimento, que ameaça o emprego. Vale trazer à reflexão o que ocorreu e vem ocorrendo sobre esses dois importantes temas que repercutem sobre a vida de todos nós. Os candidatos se acusam e comparam administrações nesses temas. Mas quem está com a razão? Vejamos.Inflação. A inflação no governo Dilma sempre esteve no entorno de 6% em cada ano e, se neste ano fechar em 6,3%, como preveem as análises, a média anual de seu governo será de 6,1% e em nenhum ano ultrapassou o teto da meta de 6,5%. Vale comparar com seus antecessores. No primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso (1995/1998), o Banco Central foi presidido sucessivamente por Pérsio Arida, Gustavo Loyola e Gustavo Franco, com inflação média anual de 9,7% e, em decorrência dos efeitos do Plano Real, vinha caindo a cada ano desde 22,4% em 1995 até chegar em 1,7% em 1998. No segundo mandato de FHC (1999/2002), com Arminio Fraga na presidência do BC, é adotado o regime de metas de inflação, interrompida a tendência de queda, voltando a subir até 12,5% em 2002, com média anual de 8,8%. O teto da meta de inflação foi rompido em 2001 e 2002. No primeiro mandato do governo Lula (2003/2006), a média foi de 6,4% e no segundo mandato (2007/2010) de 5,2%, em ambos sob a presidência de Henrique Meirelles. O teto da meta só foi ultrapassado em 2003. Assim, o governo Lula teve melhor desempenho tanto no primeiro quanto no segundo mandato aos correspondentes de FHC e, o governo Dilma o melhor desempenho que seus antecessores no primeiro mandato. Assim, quando o candidato Aécio critica a inflação do governo Dilma tem de tomar cuidado. Seu indicado para a pasta da Fazenda não se saiu bem, pois operou com inflação média 44% acima (8,8 dividido por 6,1) da prevista para o governo Dilma. Vale destacar, também, que na ocasião em que Arminio Fraga presidiu o Banco Central, a taxa de Serviços, que impacta 35% do IPCA, sempre ficou abaixo da inflação, com média anual de 3,7% contra 8,8% no governo Dilma.Crescimento. O calcanhar de aquiles do governo Dilma foi o baixo crescimento ocorrido e por ocorrer neste ano. Se fechar em 0,4%, a média anual desse governo será de 1,7% (!). O agravante desse mau desempenho foi a frustração sobre a meta prevista para cada ano, sempre bem acima da ocorrida, o que causou danos à credibilidade da política econômica. Vale comparar com seus antecessores. No primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso, a média anual foi de 2,5% e, no segundo mandato de FHC, recuou para 2,1%. No primeiro mandato do governo Lula, a média foi de 3,5% e, no segundo mandato, ocorrido sob forte impacto da crise internacional, em vez de cair, atingiu a média anual de 4,6%. Assim, o governo Lula teve melhor desempenho tanto no primeiro quanto no segundo mandato aos correspondentes de FHC e muito acima do governo Dilma, que teve o pior desempenho face a seus antecessores. O governo tem procurado se defender das críticas ao crescimento imputando a culpa à crise externa. Será? Certamente não. Quem poderia reclamar disso seria o ex-presidente Lula, que pegou o ápice da crise em 2009, que chegou a derrubar o crescimento para uma queda de 0,3%. Para avaliar o impacto externo, vale observar o que ocorreu nos países emergentes, na América Latina, nos países desenvolvidos e na média mundial, comparando os primeiros quatro anos que antecederam a crise (2005/2008) com os últimos quatro anos após o ápice da crise (2010/2013), usando como fonte de dados internacionais o Fundo Monetário Internacional (FMI). Entre esses dois períodos, ocorreu queda relativa generalizada de crescimento, sendo de 15% para a média mundial, 23% para os países emergentes, 21% para a América Latina, 18% para os países desenvolvidos e 25% para o Brasil, que registrou, portanto, queda maior do que seu grupo de países emergentes, embora não muito afastado deles. Sem dúvida, parte da falta de crescimento é devido ao fator externo, não tanto como declara o governo nem tanto quanto os que o criticam. O FMI atribui 60% de peso do fator externo no caso do Brasil. Mas há que aprofundar a discussão sobre as causas internas que atrapalham o crescimento. Infelizmente, o governo pouco informa o que pretende mudar e a candidatura oposicionista só fala em termos genéricos, preferindo focar na crítica ao que está sendo feito.Posição. Tenho defendido nesta coluna que enquanto não for praticado no País juros compatíveis com a realidade internacional, a economia continuará travada, com contas internas e externas fortemente deficitárias. O nível internacional para a taxa básica de juros é a inflação reinante no País e a diferença entre a taxa de juros cobrada no crediário é em média ao ano de 10% nos países emergentes e 3% nos países desenvolvidos. Por aqui, a taxa básica encontra-se 4,5 pontos acima da inflação e a taxa de juros do crediário está em 103% (!), sendo de longe a principal trava ao crescimento e responsável principal pelo nível elevado de preços no mercado. É lamentável que essa questão escape do debate econômico, e mais lamentável ainda é a absoluta falta de compromisso com políticas claras de desenvolvimento econômico desses dois candidatos. Os debates até agora se concentraram no ataque às políticas praticadas no governo Dilma e no governo FHC. Era de se esperar que, no mínimo, no segundo turno, as propostas aparecessem com maior detalhe, mas restou a frustração com o baixo nível dessa disputa eleitoral onde os escândalos tomaram o lugar do que se pretende para o futuro do País com compromissos estabelecidos.Delação. Finalmente, com as revelações das delações premiadas de Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef cabe punição rigorosa a todos, sem exceção, políticos, diretores e donos das empreiteiras que atuam em cartel há longa data em quase todas as grandes obras contratadas pelo setor público com o dinheiro de todos nós. Creio que temos importante oportunidade de passar a limpo o País. Vamos aguardar para ver se essas delações só terão efeito para a disputa eleitoral, ou podemos ter esperança de que a impunidade não prevaleça no País.* Mestre e finanças públicas pela FGV e consultor

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