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Queremos ver resultados reais no combate às queimadas, diz executiva de fundo norueguês

O KLP, maior fundo de pensão da Noruega, ameaça retirar investimentos em empresas brasileiras e multinacionais que operam no Brasil que não respeitam questões ambientais

Foto do author Altamiro Silva Junior
Por Altamiro Silva Junior (Broadcast)
Atualização:

O KLP, maior fundo de pensão da Noruega, com US$ 80 bilhões em ativos sob gestão, avalia como positiva a mudança de tom do governo brasileiro sobre o desmatamento na Amazônia. Mas, para além das conversas oficiais, a chefe da área de investimentos responsáveis do KLP, Jeanett Bergan, afirmou ao Estadão/Broadcast que o que mais interessa é ver resultados reais e a redução concreta das queimadas seria um deles.

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E, ao mesmo tempo que o KLP voltou a eleger a Petrobrás, nesta semana, como possível de receber seus investimentos, que haviam sido banidos por causa da corrupção na petroleira, o fundo ameaça não apenas retirar aportes de companhias brasileiras que desrespeitam o meio ambiente, mas também de multinacionais que operam no Brasil e não respeitam questões ambientais. Abaixo, os principais trechos da entrevista.

A senhora participou da reunião com o governo brasileiro para discutir o desmatamento na Amazônia na semana passada. O que achou das conversas?

Fiquei muito encorajada pela rápida resposta do governo Brasil à nossa carta (entregue no final de junho a embaixadas do Brasil alertando sobre a questão do desmatamento). Foi uma primeira reunião, que contou com o primeiro escalão. Foi bom ver que o governo divide nossa ambição de parar o desmatamento na Amazônia, de defender os direitos dos povos indígenas e os compromissos com normas e acordos.

A executiva Jeanett Bergan, do fundo de pensão norueguês KLP. Foto: KLP

Como resultado da reunião, o presidente Jair Bolsonaro anunciou uma parada temporária das queimadas na Amazônia. O que achou da decisão?

Vamos continuar avaliando o progresso daqui para a frente. Para nós, são os resultados reais que importam. Uma redução no número de incêndios seria uma desenvolvimento positivo.

O KLP anunciou que estava conversando com grandes empresas internacionais de commodities, como Archer Daniels Midland (ADM), Cargill e Bunge, que operam no Brasil, para ver se suas políticas ambientais são adequadas, pois caso não sejam, o fundo retiraria investimentos dessas companhias. Como estão essas conversas? Esse plano ainda está de pé?

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Sim. Tivemos vários diálogos com essas companhias e ainda estamos esperando pelas repostas. Atualmente, estamos avaliando se esses investimentos violam nossas diretrizes. Até agora, ainda não concluímos a avaliação.

No caso do KLP decidir desinvestir nessas multinacionais, você acha que outros fundos podem ter movimento semelhante?

Sim, quando a KLP desinveste de uma empresa, o faz de maneira transparente, com um raciocínio completo por trás de nossa decisão. Isso torna mais fácil para outros investidores usarem nossas informações e seguirem nossas decisões em seus aportes.

Quantas empresas brasileiras o KLP tem em sua carteira?

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(Temos) Investimentos em 58 companhias, um valor ao redor de 500 milhões coroas norueguesas (US$ 55 milhões).

O KLP já baniu empresas como Vale e Eletrobrás de sua carteira. Práticas de investimentos sustentáveis e boa governança (ESG, na sigla em inglês) são um fator decisivo para o fundo resolver comprar papéis de uma empresa?

De fato, estamos continuamente monitorando todos os nossos investimentos. Se houver algum risco inaceitável, de corrupção, de contribuição para violação de direitos humanos ou degradação do meio ambiente, tomamos a decisão de desinvestir dessas empresas. A Vale foi excluída por questões ambientas e de direitos humanos. A Eletrobrás, por risco de corrupção. Temos regras bem restritas de investimento e ao redor de 600 empresas estão excluídas de nosso investimento por diversas razões, incluindo critérios baseados na produção da companhias, como aquelas que fazem tabaco, carvão e armas controversas.

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O investimento baseado em critérios ESG está ainda no começo no Brasil. Como avalia a tendência entre investidores europeus e internacionais?

Essa é uma tendência que, daqui para a frente, definitivamente será mais forte. Há um forte compromisso internacional com o acordo climático de Paris e com os objetivos de desenvolvimento sustentável. Esses acordos não podem ser cumpridos sem integrar o ESG ao mundo do investimento. Além disso, a União Europeia está rapidamente integrando o ESG dentro de suas obrigações legais para os investidores. E isso vai dar impulso a esse tema. Felizmente, o ESG deve ajudar a tornar o mundo um lugar melhor.

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