
15 de julho de 2020 | 13h03
O KLP, maior fundo de pensão da Noruega, com US$ 80 bilhões em ativos sob gestão, avalia como positiva a mudança de tom do governo brasileiro sobre o desmatamento na Amazônia. Mas, para além das conversas oficiais, a chefe da área de investimentos responsáveis do KLP, Jeanett Bergan, afirmou ao Estadão/Broadcast que o que mais interessa é ver resultados reais e a redução concreta das queimadas seria um deles.
E, ao mesmo tempo que o KLP voltou a eleger a Petrobrás, nesta semana, como possível de receber seus investimentos, que haviam sido banidos por causa da corrupção na petroleira, o fundo ameaça não apenas retirar aportes de companhias brasileiras que desrespeitam o meio ambiente, mas também de multinacionais que operam no Brasil e não respeitam questões ambientais. Abaixo, os principais trechos da entrevista.
Fiquei muito encorajada pela rápida resposta do governo Brasil à nossa carta (entregue no final de junho a embaixadas do Brasil alertando sobre a questão do desmatamento). Foi uma primeira reunião, que contou com o primeiro escalão. Foi bom ver que o governo divide nossa ambição de parar o desmatamento na Amazônia, de defender os direitos dos povos indígenas e os compromissos com normas e acordos.
Vamos continuar avaliando o progresso daqui para a frente. Para nós, são os resultados reais que importam. Uma redução no número de incêndios seria uma desenvolvimento positivo.
Sim. Tivemos vários diálogos com essas companhias e ainda estamos esperando pelas repostas. Atualmente, estamos avaliando se esses investimentos violam nossas diretrizes. Até agora, ainda não concluímos a avaliação.
Sim, quando a KLP desinveste de uma empresa, o faz de maneira transparente, com um raciocínio completo por trás de nossa decisão. Isso torna mais fácil para outros investidores usarem nossas informações e seguirem nossas decisões em seus aportes.
(Temos) Investimentos em 58 companhias, um valor ao redor de 500 milhões coroas norueguesas (US$ 55 milhões).
De fato, estamos continuamente monitorando todos os nossos investimentos. Se houver algum risco inaceitável, de corrupção, de contribuição para violação de direitos humanos ou degradação do meio ambiente, tomamos a decisão de desinvestir dessas empresas. A Vale foi excluída por questões ambientas e de direitos humanos. A Eletrobrás, por risco de corrupção. Temos regras bem restritas de investimento e ao redor de 600 empresas estão excluídas de nosso investimento por diversas razões, incluindo critérios baseados na produção da companhias, como aquelas que fazem tabaco, carvão e armas controversas.
Essa é uma tendência que, daqui para a frente, definitivamente será mais forte. Há um forte compromisso internacional com o acordo climático de Paris e com os objetivos de desenvolvimento sustentável. Esses acordos não podem ser cumpridos sem integrar o ESG ao mundo do investimento. Além disso, a União Europeia está rapidamente integrando o ESG dentro de suas obrigações legais para os investidores. E isso vai dar impulso a esse tema. Felizmente, o ESG deve ajudar a tornar o mundo um lugar melhor.
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