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Querer juros baixos, todos querem, diz Palocci, após Copom

O ministro participou de debate com Horácio Lafer Piva, da Fiesp, e Armínio Fraga, ex-BC no governo FHC; os três mais concordaram que discordaram.

Por Agencia Estado
Atualização:

include "$DOCUMENT_ROOT/ext/politica/tickersobataque.inc"; ?>Num encontro marcado pela cordialidade, levado ao ar no programa Diálogo Brasil, transmitido pela TVE, RBN e TV Cultura, Antonio Palocci, Armínio Fraga e Horácio Lafer Piva mais concordaram do que discordaram sobre os rumos da economia brasileira, mesmo quando as questões eram mais polêmicas, como a política de rumos. O presidente da Fiesp foi o primeiro a usar da palavra, quando falou sobre a decisão de ontem do Copom, que manteve inalterada a taxa de juros de 16% ao ano. Piva e a decisão do Copom "Eu não vejo nenhuma razão para não haver um pouco mais de ousadia, se não devemos usar um pouco mais o nosso intervalo de metas (inflacionárias) para criar uma percepção mais positiva? Essa questão da redução da Selic não afeta diretamente o resultado. Para o investidor, ou o captador, a taxa que vale é aquela que tem um spread substantivo, enfim... Mas isso cria um impacto psicológico positivo ou negativo, a depender da sua decisão (do Copom). Na minha opinião, não havia nenhuma razão para que não tivéssemos uma pequena redução de 0,25%, para que o próprio governo mostrasse confiança nos seus fundamentos. Eu acho muito difícil nós continuarmos falando em ´espetáculo do crescimento´, com uma taxa de juros real no nível em que estamos. O que me assusta, de uma maneira bastante forte, é que a sociedade brasileira está começando a se acostumar com o fato de a possibilidade de o País crescer 3%, 3,5% nos próximos anos, o que é muito pouco. Basta lembrar que este País coloca 1,5 milhão de pessoas no mercado de trabalho todos os anos, e que se não voltarmos a uma taxa de crescimento da ordem de 4,5, 5%, se não fizermos uma redução substantiva na taxa de juros que possa, de alguma maneira, atrair investimentos, que é a única forma de entrarmos numa quadra de desenvolvimento sustentado, eu tenho a impressão de que o fôlego será curto." Fraga e a ação do BC "Isso (os efeitos das turbulências externas na decisão do Copom), nós vamos saber daqui a uma semana (quando da divulgação da ata da reunião de ontem). O comunicado do Banco Central de fato privilegiou o tema incertezas e turbulências, sem especificar muito, mas é necessário olhar a coisa de uma forma mais ampla. Eu acredito que o método que o Banco Central usa é bom. É difícil, sem estar lá, avaliar com muita precisão como eles estão vendo as coisas. Nós temos de trabalhar para construir condições de ter uma taxa de juros real mais baixa. Às vezes a gente não se dá conta, mas a taxa de juros de 10 anos aqui no Brasil, a taxa indexada aos títulos públicos, está em 8%, que é a taxa mais baixa em muito tempo. O caminho de queda dos juros começou a ser trilhado há pouco tempo, mas hoje nós temos de lidar com o choque do petróleo, com preços altos de commodities... É possível que o Banco Central, em algum momento, comece a levar isso em conta. Eu tendo a ter uma postura um pouco mais de médio prazo com relação ao que está acontecendo. Eu acredito que é bom ter inflação baixa, o Banco Central tem de achar esse caminho. Não é um caminho fácil, mas eu confio no trabalho que eles vêm desenvolvendo, especialmente porque tem hoje apoio numa política fiscal extremamente sólida, difícil e ousada, porque não é fácil não ceder às tentações do curto prazo, e tratar esse assunto sem cairmos nos desafios e precipícios que nós conhecemos tão bem. Então, resumindo: a decisão (do Copom) foi 6 a 3, não foi 9 a zero, o que sinaliza que o próprio Copom entende que há espaço, sim, para continuar com a redução, só que achou que, neste momento, não é conveniente. E sobre isso não há muito também o que dizer. O que é preciso é trabalhar mesmo, para que essa trajetória de queda continue." Palocci e a agenda de 2004 "A equipe econômica do governo, agentes dos mercados, da indústria, da área econômica toda, todos desejam que, no longo prazo, o País busque taxas de juros cada vez menores. Hoje, como já ressaltou aí (o Armínio Fraga), nós já trabalhamos com taxas de juros de longo prazo bem menores. Isso se dá porque o Brasil melhorou nos últimos anos e faz agora um compromisso fiscal bastante sólido. (...) Crescimento econômico não depende só de taxa de juros. A redução da taxa de juros, que teve um patamar alto por causa da crise que tivemos no passado, ela é importante para ajudar a retomar a atividade econômica. Mas crescimento econômico de longo prazo vem se nós conseguirmos completar a nossa agenda este ano." Elogios e conselhos de Fraga "Eu creio que este governo fez muito para melhorar o clima de confiança no futuro do País, até porque hoje nós podemos olhar para trás e ver que houve uma importantíssima transição política, sem sobressaltos, administrada de uma maneira sóbria, segura. O ministro Palocci, o presidente Lula, a equipe, enfim, merecem todo o nosso apoio e o nosso aplauso. Para sair desse patamar de crescimento de 3,5% e chegar a 5%, que é o que me parece possível, nós vamos realmente de ter de construir condições mais amplas de confiança. E isso inclui aprofundar a reforma tributária, como disse o ministro, cuidar das questões regulatórias, porque o Estado não tem recursos para investir em todos o setores que necessitam de investimentos. No mais, eu diria acalmar um pouco o ambiente. Nós hoje estamos vivendo uma situação externa complicada, embora ainda exibindo um padrão de crescimento bom, tem algumas nuvens aí no céu, e aqui dentro também existe no ar a sensação de que nós temos ainda dúvidas com relação a qual o caminho que nós queremos para o nosso País. Se o governo vai investir em infra-estrutura, em educação, como é que o investimento vai surgir nas áreas de energia, de saneamento, de estradas... Essas questões é que fazem parte da agenda que o ministro mencionou e que precisam ser resolvidas com muita serenidade. Quer dizer, o País não tem condições de aumentar a carga tributária mais, é uma carga elevadíssima para um país da nossa renda, o gasto público cresce de maneira muito rígida... E esses temas, no ambiente que nós vivemos, ainda não recebem o tratamento sereno, de longo prazo que eles merecem. Sei que o ministro tem lutado por isso, e eu espero que ele consiga, ao longo dos próximos meses, o apoio necessário para levar adiante essa agenda, que é uma agenda muito boa para fazer o País crescer, e que virá junto com a queda dos juros, também. Acho que essas coisas andam juntas, e não se pode fazer uma sem a outra." Palocci e a geração de empregos "Um sinal muito positivo vem justamente do ajuste externo. O Brasil apresenta contas externas muito positivas. É a maneira que as empresas, que o País tem para se aproveitar dos ganhos da política macroeconômica. Quando você consegue trazer a inflação para baixo, deixa o câmbio flutuar e o País tem energia para se desenvolver, ele se ajusta. (...) Eu concordo com o Horácio e o Armínio que nós devemos buscar taxas de crescimento de longo prazo mais altas, que não devem depender apenas das exportações. (...) Quase todos os países de economia avançada do mundo têm na construção civil um instrumento de incentivo muito grande de retomada de atividades, de geração de empregos... E o Brasil, nas últimas duas décadas, perdeu muito na construção civil." Piva o emprego e a informalidade "Acho que o governo deve fugir dessa idéia de abrir frentes de trabalho, como alguém (do governo) já disse. (...). Eu acho que a saída está por exemplo em saneamento, em portos, em sistemas viários, enfim são áreas da construção (civil) que demandam muita mão-de-obra e podem ser feitas através de investimentos do governo, obviamente desde que haja um pouco mais de folga, e também dos investimentos privados, você tem aí as PPPs, precisamos ter marcos regulatórios mais definidos. (...) Uma outra questão que me preocupa muito é o fato de que nós estamos convivendo com um grande informalidade na economia brasileira, que é realmente dramática." Fraga e a carga fiscal "A curto prazo não dá para fazer milagre (reduzir a carga tributária). Acredito que o problema tem que ser tratado de forma abrangente, e isso tem se mostrado muito difícil. Exige melhorar a estrutura, a qualidade dos nossos impostos; exige casar isso com os aspectos previdenciários e trabalhistas que oneram a folha de trabalho, mas ao mesmo tempo nós também não podemos abrir mão da receita. Então, qual é a solução? É, primeiro, crescer; segundo, reduzir o grau de informalidade de tal maneira que se possa distribuir melhor essa carga. Essa é a teoria. Na prática, essas propostas de reforma esbarram em imensas resistências. Eu acredito que o nosso governo vai ter mais uma chance de apresentar propostas ousadas nessas áreas, e eu diria que nós temos agora seis meses para preparar alguma coisa que possa ser o tema para 2005. Não é fácil, nós temos de ser realistas, mas é algo que, hoje, é uma demanda unânime da sociedade." Palocci e a carga tributária "Os compromissos do País hoje não permitem fazer promessas populistas neste caso. Você diz: ´podemos reduzir a carga no curto prazo´. Não pode, não pode. É preciso que se crie condições. Primeiro, melhorar a qualidade dos impostos e simplificá-los. Isso reduz a carga de cada empresa. (...) Essa complexidade de carga faz com que a cobrança do imposto (no caso o ICMS) fique difícil, que as empresas invistam muito mais em planejamento tributário do que no simples pagamento do seu imposto, e que uma grande parte da base de tributação deixe de pagar imposto pela complicação, por sonegação ou pela informalidade."

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