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Química 'verde' pode perder força

Com o barril de petróleo cotado a US$ 30 ou abaixo disso, projetos petroquímicos baseados em fontes renováveis devem ser revistos

Foto do author Fernanda Guimarães
Por André Magnabosco , Antonio Pita , André Ítalo Rocha e Fernanda Guimarães
Atualização:

O preço do petróleo em um patamar próximo a US$ 30 por barril – ou abaixo disso – tem influência nos próximos anos não apenas nas estratégias de negócios das petroleiras, mas também em setores intensivos no uso da commodity e seus derivados, bem como em fornecedores da cadeia. O impacto é direto na área de pesquisa e desenvolvimento de energias alternativas, a despeito de o mundo mirar avanços rumo à sustentabilidade propostos na 21.ª Conferência do Clima (COP 21) no ano passado.

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Beneficiada pelo petróleo desvalorizado, a indústria petroquímica pode ser obrigada a repensar o avanço em direção à produção a partir de fontes renováveis. “A química verde não compete com o petróleo a US$ 30 o barril”, diz o diretor da consultoria MaxiQuim, Otávio Carvalho. Embora a produção renovável tenha apelo em nichos de mercado, o especialista destaca que, de maneira geral, “ninguém paga uma passagem mais cara porque o combustível da aeronave é verde”.

Por isso, a percepção de Carvalho é de que o fim da era do petróleo só ocorrerá quando a química verde ou outra fonte renovável for mais econômica que o petróleo. Mais do que isso, o especialista avalia que, se for vislumbrado um cenário em que petróleo permaneça baixo por muito tempo, “dentro de dois ou três anos, voltará a haver análises sobre investimentos em nafta, o que não ocorria desde o início dos anos 2000, na Arábia Saudita, quando esse derivado de petróleo era subsidiado”, relembra Carvalho.

Competitividade. Desde então, os principais projetos do mundo foram idealizados a partir da exploração do gás natural.

“Havia uma grande diferença de custo entre quem utilizava o gás natural e quem usava a nafta, e a margem do gás foi muito favorável durante algum tempo. Na medida em que o preço do petróleo cai, a diferença de preço relativo muda e as margens entre nafta e gás hoje são mais próximas”, comenta Carvalho. Como a química nacional tem a nafta como principal insumo, a nova relação de preços entre o petróleo e o gás torna a indústria nacional mais competitiva.

Os balanços da Braskem, única grande petroquímica brasileira, são mostra disso. A receita líquida da companhia entre janeiro e setembro de 2015 cresceu apenas 2%, para R$ 34,9 bilhões, porém o lucro saltou 265% em igual período, para R$ 2,7 bilhões. O número supera o lucro de R$ 2,1 bilhões acumulado pela Petrobrás, uma das controladoras da Braskem, no mesmo período.

Mesmo assim, a Braskem confronta a avaliação de que o desenvolvimento de tecnologia e processos para uma economia sustentável será interrompido. A empresa afirma que a estratégia de apostar na química verde “está mantida”.

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O esperado avanço na produção de resinas termoplásticas a partir da cana de açúcar, contudo, pouco se assemelhou ao que se vislumbrava no início desta década, após o início da produção de “polietileno verde”. A expectativa da Braskem de viabilizar novas linhas de produção “verde” não saiu do papel, assim como projetos idealizados pela norte-americana Dow Chemical e pela belga Solvay, todos com base na utilização da cana de açúcar. 

Carros. Na indústria automobilística, a disposição também é de manter os investimentos no desenvolvimento de energias renováveis no mesmo ritmo, segundo o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores, Luiz Moan. Há anos o setor empenha esforços para colocar no mercado carros elétricos, que possam competir com os modelos movidos a combustão. Mas o fato é que, hoje, a maioria das empresas não se arrisca mais a fazer previsões de quando esse objetivo será alcançado.

“Havia, entre as montadoras, uma onda de inovação que pode perder força, não só pela queda do preço do petróleo, mas também por causa da demanda por veículos enfraquecida no Brasil”, analisa o economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Rafael Cagnin. Ele concorda, no entanto, que o movimento em direção às energias alternativas permanecerá, ainda que em ritmo mais lento