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Quinze anos depois

Por Antonio P. Mendonça
Atualização:

Quinze anos atrás a atividade seguradora apresentava o maior prejuízo semestral de sua história. Em todas as linhas do balanço consolidado os números eram ruins e confirmavam o resultado pífio do final de 1993. Então, numa bela manhã de outono, veio o Plano Real. E com ele, uma das mudanças mais radicais sofridas por um segmento econômico. No final do segundo semestre de 1994, o setor de seguros despontava como um dos mais altos índices de crescimento da economia nacional, mantendo esta característica pelos anos seguintes até chegar aos dias de hoje, quando representa mais de 3,5% do PIB brasileiro, em contraste com os medíocres 0,7% do primeiro semestre de 94. Todo crescimento econômico tem uma explicação e quando ele é rápido e consistente, a explicação passa por uma série de fatores que se somam para criar o resultado. Com seguros não foi diferente. O primeiro fator altamente impactante foi a estabilidade da moeda. O segundo, a demanda reprimida pelos produtos da atividade. O terceiro, o enriquecimento da sociedade brasileira. E o quarto, o amadurecimento e a profissionalização do setor. O Plano Real, ao trazer a estabilidade da moeda, trouxe uma certeza para os executivos do setor: a inflação impedia a constituição de poupança em geral. Como seguro é baseado em fundos mútuos, vários deles de longo prazo, para fazer frente ao pagamento de indenizações futuras, num processo inflacionário não há como garantir o valor do dinheiro para repor o bem afetado, ainda que com a aplicação integral da correção monetária sobre o prêmio pago. E este quadro se agrava na medida em que a inflação acelera seu ritmo. Quanto mais inflação, menor a capacidade de manutenção do valor da moeda. Daí a atividade seguradora não crescer durante os tempos de inflação acelerada, na década de 1980 e nos primeiros anos da década seguinte. Com a estabilidade da moeda foi possível determinar valores reais para bens e indenizações. Com isso, o setor passou a sofrer uma forte demanda por produtos capazes de fazer frente às necessidades de proteção da sociedade. Do dia para a noite o brasileiro, com o final da correção monetária e da ciranda inflacionária, descobriu que a única maneira sensata de proteger seu patrimônio era por meio da contratação de apólices de seguros. E ele exigiu das seguradoras que suas reivindicações fossem atendidas. A atividade rapidamente foi além das demandas iniciais. Poucos meses após a implantação do Plano Real já eram lançados produtos completamente diferentes do que existia até alguns meses antes. As primeiras apólices desta nova fase foram seguros de veículos. E logo em seguida surgiram novos produtos de seguros de vida, planos de saúde privados, previdência complementar aberta e capitalização. Num universo de moeda estável e condições positivas no cenário internacional, o Brasil passou a crescer, ainda que em taxas baixas, se comparado com a China e outras nações que aproveitaram o boom econômico para se desenvolverem. Com o crescimento veio o aumento da riqueza social e o surgimento de demandas de proteção por pessoas e empresas que antes não tinham acesso ao mercado. Mais uma vez as seguradoras e os corretores de seguros reagiram com rapidez e competência e, ao atenderem esta demanda, trouxeram para a atividade milhões de brasileiros até ali desprotegidos ou sem programas de poupança de longo prazo, que passaram a contratar regularmente algum tipo de seguro. O resultado pode ser visto no salto impressionante do faturamento do setor. Em apenas quinze anos ele cresceu de 0,7% para 3,5% do PIB, sendo que, no final de 2008, sem computar o faturamento da previdência privada aberta e do seguro saúde, o total de prêmios chegou próximo de 65 bilhões de reais. É número para ninguém colocar defeito, que tem ainda mais um ponto a favor: hoje a mão de obra da atividade seguradora está atingindo um alto grau de profissionalismo, fruto das exigências de um mercado dinâmico e moderno. Antonio Penteado Mendonça é advogado e consultor, professor do Curso de Especialização em Seguros da FIA/FEA-USP e comentarista da Rádio Eldorado. E-mail: advocacia@penteadomendonca.com.br

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