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Reabertura do mercado argentino e inflação preocupam mercado

Por Agencia Estado
Atualização:

O mercado tem tudo para viver mais um dia tenso nesta sexta-feira, preferindo adotar posições defensivas antes do fim de semana. Na Argentina, que voltou a afetar com mais intensidade o mercado brasileiro nos dois últimos dias, há grande expectativa para a reabertura dos bancos ao público, prevista para as 10 horas (11 horas em Brasília), que vai inaugurar, na prática, o novo regime cambial do país, que prevê um câmbio fixo com dólar valendo 1,40 peso e outro flutuante. Depois de vários adiamentos consecutivos, o governo argentino confirmou na noite de ontem o fim do feriado bancário. E a reabertura ocorre num ambiente altamente delicado. Segundo informa a correspondente Marina Guimarães, de Buenos Aires, os bancos travaram uma verdadeira batalha com o governo para que o feriado fosse prolongado até a próxima segunda-feira. Eles argumentaram que precisavam instrumentar-se, detalhadamente, durante o fim de semana para o atendimento ao público. Com a reabertura "forçada", temem uma avalanche de clientes nas agências para sacar recursos. O presidente Duhalde, que denunciou manobras das oposições contra seu governo e foi obrigado a negar rumores de que poderia renunciar ontem, teria reafirmado a abertura bancária hoje por temer a ira da população, que aumentou ontem com as medidas que impõem um longo cronograma para a devolução dos depósitos retidos. Ninguém pode prever o que acontecerá na Argentina após este dia "D" do novo sistema cambial. Há o temor de corrida bancária e de overshooting do peso (ontem o dólar era cotado no black a até 1,70 peso), ainda que a baixa liquidez acarretada pelo bloqueio de depósitos possa inibir maiores pressões. Mas o clima social também preocupa, pois os panelaços e aglomerações na célebre Praça de Maio, que culminaram no fim dos governos de De la Rúa e Rodrigues Saá, voltaram ontem na capital argentina. O medo do contágio No Brasil, a tese do descolamento entre os riscos argentinos voltou a ser testada ontem com a forte alta do dólar, de 2%. A bolsa, também prejudicada pelas medidas do setor elétrico e pela alta das projeções de juro, despencou mais de 3%. Na avaliação do contágio sobre o Brasil, uma questão relevante é o prejuízo das empresas e bancos europeus com a pesificação de contratos, a desvalorização e o default da Argentina. A Europa, com a Espanha à frente, vinha se destacando como origem de grande parte dos investimentos diretos no Brasil. Diante dos prejuízos com a Argentina, deve diminuir a boa vontade dos acionistas europeus para autorizar a colocação de mais dinheiro na América Latina. Alguns analistas ponderam que a melhora dos fundamentos brasileiros tende a gerar uma diferenciação de risco e impedir uma maior queda das entradas. "O medo de contágio existe, mas pode se repetir em 2002, quando os investimentos surpreenderam para cima mesmo com o Brasil exposto a choques, pois não há muitas alternativas de investimentos entre os emergentes e os juros americanos estão baixíssimos", comentou um profissional. De qualquer forma, o receio é real. E, se a Argentina já seria motivo suficiente de preocupação, os indicadores brasileiros também teimam em contrariar as expectativas mais otimistas do mercado. IPC superou expectativa do mercado Depois da ducha de água fria do IGP-M de anteontem, hoje foi a vez de o IPC-Fipe da primeira quadrissemana de janeiro, divulgado na manhã de hoje, superar as expectativas do mercado. O índice subiu para 0,46%, contra 0,25% no fechamento de dezembro. Os analistas, consultados ontem pela Agência Estado, esperavam um resultado bem menor, entre 0,20% e 0,30%. O IPCA de dezembro registrou variação de 0,65% ante 0,71% em novembro, segundo dados divulgados hoje pelo IBGE. O IPCA de dezembro superou a expectativa do mercado de 0,3% a 0,5%. Espera-se agora a reação do mercado para avaliar melhor as expectativas dos juros. Porém, alguns operadores já consideram que o IPC da Fipe foi uma pá de cal sobre as apostas em queda de juros já na próxima reunião do Copom, dias 22 e 23. "Com a Argentina em convulsão, a inflação brasileira tinha que estar muito baixa para encorajar o BC a aliviar a política monetária, mas isto não está se confirmando", comentou um profissional, acrescentando que, se no IGP-M houve a "desculpa da chuva", na Fipe os aumentos foram generalizados. Apesar do clima de tensão com a Argentina, alguns analistas ainda não acreditam num contágio forte no Brasil, pelo menos no nível vigente até outubro do ano passado. "O mercado está fazendo um ajuste e poderia se estabilizar num nível mais conservador, mas tudo depende do que vai realmente vai acontecer na Argentina, sobretudo no lado social e político", comentou um analista. Leia o especial

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