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Reação veio antes mesmo da divulgação da alta

A reunião nem havia terminado e várias entidades já estavam criticando o aumento da Selic

Por Marcelo Rehder
Atualização:

Muito antes de terminar a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), numa reação inédita, várias entidades já haviam divulgado notas criticando a nova elevação dos juros, que já vinha sendo antecipada pelo mercado. A Central Única dos Trabalhadores (CUT, por exemplo, emitiu nota prometendo mobilizações de rua contra a política econômica. Na nota, o presidente da central, Artur Henrique, disse que diversas vezes a CUT protestou contra a política de altíssimas taxas básicas de juros e elevado superávit primário, por considerá-la "um ataque vil aos esforços por desenvolvimento sustentável com distribuição de renda e valorização dos trabalhadores e trabalhadoras". Sob a palavra de ordem "menos juros, mais desenvolvimento", os protestos serão realizados no dia 19 de junho, com mobilizações e atos públicos diante da sede do Banco Central, em Brasília, e de outros escritórios regionais da central. "Vamos manifestar nas ruas nossa indignação contra esse entulho neoliberal mantido pelo Copom, que tanto agrada aos especuladores e tanto prejudica o setor produtivo do Brasil", disse o presidente da CUT. O presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (SindusCon-SP), João Claudio Robusti, também se antecipou ao anúncio do Copom. Robusti comparou a alta dos juros à apreensão de bois na Amazônia. Ele criticou o fato de o governo usar somente o aumento dos juros como arma contra a inflação, sem ao mesmo tempo diminuir despesas correntes para poder investir mais e estimular o aumento da produção. "Na Amazônia, quando se ameaça apreender bois em terras desmatadas ilegalmente, tenta-se arrefecer as expectativas futuras de que a derrubada da floresta continuará impune", disse. "Com a alta dos juros é semelhante: espera-se estimular a poupança, refrear o consumo, esfriar a demanda e desacelerar a inflação." No entanto, observou, se medidas destinadas a incentivar a produção e baratear a oferta de bens e serviços não forem seriamente adotadas e obsessivamente perseguidas, a demanda voltará a aquecer, exigindo novos aumentos de juros e sufocando a atividade produtiva. O presidente da Associação dos Analistas e Profissionais de Investimentos do Mercado de Capitais em Minas Gerais (Apimec-MG), Paulo Ângelo Carvalho de Souza, também comentou a alta de juros antes mesmo de ter sido anunciada, citando até a taxa de aumento. "Mais uma vez o Banco Central desilude a sociedade recorrendo à política monetária e aumentando os juros para conter a inflação", disse. "Na reunião anterior, o Copom já havia elevado em 0,5 ponto percentual e agora repete a dose." Após o anúncio do Copom, o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, disse que a política atual é ineficaz. "Reduzir despesas é mais adequado do que, simplesmente, penalizar a sociedade e segurar o crescimento do País." Skaf argumentou que demanda produz progresso, enquanto gastos públicos desnecessários criam dívidas e, conseqüentemente, mais impostos. "Aumentar juros para conter a demanda é impedir o crescimento, é apequenar os horizontes do País limitando as oportunidades de seu povo", concluiu Skaf.

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