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Reajuste da bandeira vermelha na conta de luz já eleva projeções do IPCA

Segundo economistas, inflação pode chegar a 6,50% no fim do ano, acima do teto da meta, de 5,25%; aumento na tarifa extra deve ser definido este mês pela Aneel e pode ser maior que os 21% propostos em consulta pública 

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Por Thaís Barcellos (Broadcast)
Atualização:

Mesmo que ainda indefinido, o reajuste dos valores das bandeiras tarifárias de energia elétrica já tem provocado elevações nas projeções para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que chegam a 6,5%, mais de 1 ponto acima do teto da meta (5,25%). 

Hoje, a bandeira vermelha 2 tem custo adicional de R$ 6,243 Foto: Ueslei Marcelino/Reuters

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A bandeira vermelha patamar 2 está em vigor hoje e pode vigorar até dezembro em meio à maior crise hídrica dos últimos 90 anos. Novos valores das bandeiras devem ser anunciados ainda este mês, segundo o diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), André Pepitone. 

Ele indicou que o reajuste da vermelha 2, que é a mais cara do sistema criado em 2015, poderia superar o aumento de 21% que foi proposto em consulta pública, em março. O mercado já leva em conta possível alta de 60%, o que levaria a cobrança extra a R$ 10 a cada 100 quilowatt-hora (kWh) consumidos, como citado em reportagem do jornal O Globo.

Hoje, a bandeira vermelha 2 tem custo adicional de R$ 6,243 e iria a R$ 7,571 caso fosse adotada a proposta da consulta pública. A bandeira vermelha 1 subiria 10,3%, de R$ 4,169 a R$ 4,599. Por outro lado, a proposta era de redução do valor da bandeira amarela, de R$ R$ 1,343 a cada 100 kWh consumidos para R$ 0,996 - queda de 25,8%.

Diante das notícias, o economista João Fernandes, sócio da Quantitas Asset, passou a considerar o aumento de 60% da bandeira vermelha 2 no cenário de 2021, mas atribuindo uma probabilidade de 70% de ser essa taxa vigente em dezembro e 30% de ser bandeira vermelha 1. Assim, sua projeção para o IPCA subiu de 6,40% para 6,50%. Nas contas dele, o impacto de um aumento a R$ 7,57 sobre o IPCA seria de 0,10 ponto porcentual. Caso vá a R$ 10, o efeito é de 0,27 ponto porcentual.

Na LCA Consultores, o economista Fábio Romão trabalha desde a semana passada com um aumento da taxa extra da bandeira vermelha 2 para R$ 7,57, com impacto de 0,10 ponto sobre o IPCA, o que provocou uma elevação de 6,13% para 6,23% em sua estimativa para 2021. "Ganhou força a hipótese de passar de R$ 6,24 para R$ 10,00. Caso isso aconteça, nosso IPCA iria para 6,38%", adianta, destacando que a bandeira vermelha 2 deve vigorar até o fim do ano.

O economista Leonardo França Costa, do ASA Investments, considera um aumento de 21% da bandeira vermelha 2, com impacto de 0,07 ponto sobre o IPCA de julho. Caso o aumento seja de 60%, o efeito seria de 0,21 ponto no sétimo mês.

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A meta para a inflação deste ano é de 3,75%, com margem de tolerância de 1,5 ponto (de 2,25% a 5,25%). Para 2022, a meta foi fixada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) em 3,50%, também com margem de tolerância de 1,5 ponto (de 2,00% a 5,00%).

Alívio

França Costa pondera que, mesmo se a Aneel anunciar um reajuste de 60% da bandeira vermelha 2, há chance de a projeção para 2021 ficar inalterada em 6%, uma vez que os preços de alimentos mostram algum alívio, com a reversão das commodities no mercado internacional e também taxas mais brandas no atacado. "E o clima mais seco pode estar favorecendo os (produtos) in natura. Não é um grande alívio, mas pode ajudar a compensar a parte da bandeira."

Segundo o economista, o cenário de curto prazo está bastante pressionado. Os riscos para cima em 2021 são veículos, em industriais, e os serviços ligados à reabertura econômica, além de combustíveis. Para baixo, plano de saúde pode ajudar com a chance de reajuste negativo.

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Para 2022, Romão, da LCA, explica que manteve a estimativa em 3,80% depois de incorporar o aumento da bandeira vermelha 2 a R$ 7,57, já que a inércia maior deste ano compensaria o alívio com a bandeira amarela projetada para o encerramento do próximo ano.

Estimativas para 2022

"Contudo, a coisa muda de figura se o diferencial entre a bandeira vermelha 2, na hipótese de R$ 10,00 por 100 kWh, e a amarela ficar bem maior. Ou seja, nesse caso, e ainda mantendo bandeira amarela ao final de 2022, a LCA teria que retirar alguns pontos-base da expectativa de IPCA para 2022. A princípio, mudaria de 3,8% para perto de 3,6%", explica.

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Na Quantitas, a estimativa para 2022 também não sofreu mudanças. "Eu já tenho um viés para cima para o ano que vem, então preferi manter a projeção em 4,0%", diz Fernandes, acrescentando que considera probabilidade de 50% para bandeira vermelha 1 no fim de 2022 e de 50% para amarela. Segundo o economista, a projeção de Selic a 8,25% no ano que vem também ajuda a deixar a projeção estável.

O economista afirma que há também preocupação com a energia no ano que vem. "Se não chover o suficiente no período úmido (novembro a abril), teremos um ponto de partida muito ruim para os reservatórios no ano que vem, mantendo as pressões sobre as bandeiras. Mas temos que aguardar o desenrolar das chuvas para ter mais clareza sobre esse risco."