Publicidade

Real cai 16,6% ante o dólar na pandemia, enquanto demais moedas emergentes sobem 1,7%

Antes da covid, no entanto, moedas emergentes tinham comportamento semelhante; ambiente político conturbado do País, alto risco fiscal e taxas de juros baixas são alguns dos motivos que explicam a queda, diz especialista

Por Letícia Simionato
Atualização:

O real tem apresentado desde o início da crise da covid-19 comportamento descolado ante as demais principais moedas emergentes. Enquanto a divisa brasileira cede 16,6% ante o dólar desde março do ano passado, uma cesta que representa 16 dessas nações registra avanço de 1,7%. Entre janeiro de 2018 e fevereiro de 2020 - antes, portanto, da pandemia - essas divisas tinham comportamento semelhante. A conclusão é de um estudo realizado pela Austin Rating, a qual o Estadão/Broadcast teve acesso.

No estudo, as moedas de 16 países emergentes - China, Índia, Rússia, Indonésia, México, Arábia Saudita, Polônia, Tailândia, Filipinas, Malásia, Bangladesh, África do Sul, Colômbia, Romênia, Chile e Peru - formam um índice de referência ponderado pelo PIB de cada um dos países. Esse indicador tem base 100 em 2 de janeiro de 2018.

Desde o começo da pandemia, dólar tem levado a melhor ante o real. Foto: José Patrício/Estadão

PUBLICIDADE

Dessa data até fevereiro de 2020, a Austin constatou que o real acompanhou efetivamente o comportamento das demais moedas emergentes. A partir de 2 de março de 2020, contudo, a covid-19 começou a ganhar força pelo globo e o descolamento teve início.

São apresentados dois cenários: o primeiro mostrando a cotação nominal do real e o segundo o quanto estaria cotada a moeda brasileira se ela tivesse acompanhado os emergentes. Desta forma, pelas contas da Austin, caso mantivesse o mesmo ritmo que os pares, a moeda americana teria fechado a R$ 4,40 no mercado à vista na última sexta-feira. Na data, a divisa encerrou a R$ 5,39.

Para o economista-chefe da Austin Rating, Alex Agostini, além de fatores globais, como a pandemia, o Brasil tem um conjunto de condições internas que causa esse descolamento. "Podemos citar como principais fatores a taxa de juros baixa, o alto risco fiscal, a saída de investidores do País, o ambiente político conturbado e a demora na aprovação de medidas econômicas importantes", destaca.

Agostini lembra que, em março, com a pandemia, todos os países tiveram de aumentar os gastos para conter a crise da covid, que paralisou a economia mundial. Gradualmente, contudo, os emergentes da lista tiveram uma volta mais rápida das atividades e, consequentemente, suas moedas se valorizaram ante o dólar. Embora o Brasil tenha tido recuperação também, a situação fiscal tornou-se mais delicada.

O economista aponta que, embora com endividamento em alta, os países emergentes dessa lista têm uma perspectiva de equilíbrio da dívida ao longo do tempo, honrando compromissos e gerando confiança para os investidores.

Publicidade

"Esse cenário é diferente do Brasil, que, com toda a crise fiscal, gera dúvidas. Desde o início da pandemia, surgiu a preocupação de quais planos o governo brasileiro teria para combater o aumento de gastos e, no fim, não existe nada. Então, os investidores ajustam sua posição e desvalorizam o real", afirma Agostini.

Panorama

Agostini evita fazer projeção de quando a taxa de câmbio brasileira vai se reaproximar das dos demais emergentes. Mas ele pondera que, se as reformas forem aprovadas no Congresso, entre o final de 2021 e começo de 2022, o real voltará a se valorizar internacionalmente.

PUBLICIDADE

"É impossível projetar o comportamento do câmbio, que depende de inúmeras variáveis. Mas nós sabemos quais são os fatores que causaram essa desvalorização. Dessa forma, podemos concluir que, na medida que esses fatores forem mitigados, com a aprovação de pautas econômicas importantes, como a PEC Emergencial e a reforma tributária, há grande expectativa de que o real se valorize e se aproxime da curva dos países emergentes", explica Agostini.

Além do cenário político, o economista aponta que os juros também são um fator importante. Em janeiro, o Copom 'adotou um tom mais duro', dando brecha para um aumento em breve da taxa Selic, o que revela a possibilidade de um cenário mais positivo para o real.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.