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Real forte leva empresas a investir

Dólar em queda deixa máquinas e equipamentos importados mais acessíveis e estimula inovações tecnológicas

Por Marcelo Rehder
Atualização:

Empurrada pelo dólar na cotação mais baixa dos últimos sete anos, a indústria brasileira recorre cada vez mais à importação de máquinas , matérias-primas e componentes para compensar parte da perda de competitividade do produto brasileiro. Com o dólar na casa de R$ 1,8, empresas de diferentes setores, como a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), Coteminas e Indústria Brasileira de Televisores (IBT), desembolsam menos reais para ter acesso a inovações tecnológicas que garantem saltos de produtividade e eficiência em suas fábricas. De janeiro a agosto deste ano, a importação de máquinas e equipamentos já passou a representar 42,1% do consumo nacional, ante 39,9% em igual período de 2006. Enquanto a venda de máquinas nacionais aumentou12,7%, as importações deram um salto de 34,3% em relação ao mesmo período do ano passado. Elas passaram de US$ 7,207 bilhões para US$ 9,681bilhões, informa a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq). ''''Temos projetos grandes e estamos importando parte das máquinas, mas esse é um benefício aparente'''', diz Benjamin Steinbruch, dono da CSN. Sua empresa planeja investir US$ 9 bilhões até 2011, incluindo a construção de três novas usinas no País. Para Steinbruch, o benefício que o dólar barato pode trazer no curtíssimo prazo, no sentido de reduzir os custos de importação, é muito pequeno quando comparado com seus efeitos negativos no médio e longo prazos. ''''É impossível R$ 1,83 valer 1 dólar'''', diz o empresário. ''''Mantidas as condições atuais, esse desequilíbrio terá reflexos fatais no crescimento da economia, emprego e renda, coisas que um país de 200 milhões de habitantes e com a extensão do Brasil não pode abrir mão.'''' Para ele, o País não pode contar apenas com o mercado interno para se desenvolver. ''''Esse dólar barato tem provocado uma concorrência que eu considero até desleal.'''' INTERNACIONALIZAÇÃO A Coteminas, um dos maiores grupos têxteis nacionais, vai investir este ano mais de R$ 100 milhões para eliminar gargalos e aumentar a produção de suas fábricas no País. ''''Estamos comprando muitos equipamentos estrangeiros, e nacionais também'''', conta Josué Gomes da Silva, presidente do grupo. No ano que vem, quando os investimentos estiverem concluídos, a capacidade de produção da Coteminas será 15% maior do que em 2006. Gomes da Silva, que também é presidente do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), afirma que o crescimento dos investimentos no setor demonstra que o País pode manter o ritmo de queda da taxa básica de juros. Segundo ele, o consumo tem crescido num ritmo menor que o do investimento, o que significa que o aquecimento da economia não é inflacionário, porque haverá capacidade de oferta de produtos maior do que a demanda. ''''Gostaríamos que, na medida do possível, todos esses investimentos fossem feitos com equipamentos produzidos no País.'''' O grupo mineiro prepara ainda uma nova etapa da internacionalização da sua produção. Os planos incluem uma fábrica na Ásia e outra no Caribe a partir de 2009 para produzir artigos de cama, mesa e banho. ''''Estamos terminando os estudos, mas uma indústria têxtil integrada que tenha escala competitiva exige investimento de, no mínimo, US$ 100 milhões.'''' A Indústria Brasileira de Televisores, dona da marca Cineral, investiu US$ 280 mil na compra de maquinário japonês que permitirá à empresa produzir TVs em LCD na sua fábrica em Manaus. De acordo com Abdo Antonio Hadad, presidente da empresa, os modelos de 32 e 42 polegadas estarão no mercado a partir de novembro. Depois de ter reduzido em um terço a sua produção de TVs no ano passado, a IBT agora se prepara para voltar aos níveis normais no próximo mês. ''''O mercado está se reequilibrando e, ainda que não esteja dando rentabilidade, acreditamos que não vamos perder dinheiro'''', diz Hadad. Segundo ele, a redução de custos obtida com a importação de peças e componentes mais baratos em reais tem dado fôlego para os fabricantes instalados no País fazerem frente à invasão dos importador. ''''Os ganhos vêm sendo totalmente repassados para os preços.'''' O presidente da IBT lembra que vários produtos eletroeletrônicos deixaram de ser fabricados localmente e passaram a ser importados, principalmente da Ásia. Um exemplo são os aparelhos para reproduzir DVD, que também eram produzidos pela sua empresa. O grupo Amazonas, maior fabricante de componentes de plásticos para a indústria calçadista do País, e uma dos quatro maiores do mundo, já importa quase 30% das matérias-primas que usa em seus produtos. ''''Além da diferença de preços, os prazos para pagamento lá fora são mais longos que aqui, e isso contribui bastante para que nossos preços continuem competitivos'''', observa o diretor Saulo Pucci Bueno.

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