A crescente introdução de lançamentos no mercado de veículos, aliada à velocidade das inovações tecnológicas dos produtos, é uma das principais causas do aumento do número de recalls nos últimos anos. O motivo é apontado por executivos de montadoras que atribuem também à maior transparência e à legislação a onda de convocações registrada pelo setor. "Antigamente, os lançamentos ocorriam a cada dois ou três anos; hoje, os modelos chegam ao mercado com uma velocidade muito grande e com mais inovações", diz o presidente da Ford, Antônio Maciel Neto. A qualidade dos veículos e a eficiência do processo produtivo melhorou nos últimos anos, de acordo com Maciel, principalmente em relação à segurança. Mas ele admite que a pressão provocada pela concorrência pode levar ao lançamento de tecnologias "não totalmente consolidadas". O diretor de Assuntos Governamentais da Mercedes-Benz, Luiz Adelar Scheuer, também aponta a rapidez do processo produtivo como uma das possíveis causas para o aumento de recalls. "Antes da década de 90 havia praticamente um único fornecedor e os mesmos componentes nos veículos. Agora a produção envolve um grande número de componentes de alta tecnologia e um processo bastante rápido", diz. "Com isso, pode ser que algum sistema apresente problemas", admite. Na opinião dos executivos, a introdução do Código de Defesa do Consumidor, que estabeleceu regras para o recall, proporcionou uma maior transparência para o público. "Hoje a decisão de se fazer o recall é tomada de maneira muito mais rápida e a partir de um menor número de casos de defeitos evidenciados na prática", diz Maciel. Na avaliação de Scheuer, a tentativa de adiar ou omitir a necessidade da convocação seria "um tiro no pé". Ele acredita que os atrasos no anúncio dos recalls podem acarretar prejuízos maiores para as empresas no futuro.