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Recessão exige mais que juro menor

Por Alberto Tamer e E-mail: at@attglobal.net
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O Banco Central reduziu os juros em 1,5 ponto porcentual. A Fiesp, como sempre, reclamou, queria 2 pontos, mas a maioria dos economistas aprovou, mesmo afirmando que deveria ter vindo mais cedo. Mas resolve? Não, dizem eles. Ajuda só um pouco. Foi o atraso? Também não. Todos sabem que, com a crise que estamos enfrentando, com o mundo em recessão, a redução, até mesmo drástica de juros, não influi muito nas decisões de investimento e consumo. São lentos a chegar à economia real, levam meses, enquanto a desaceleração avança com rapidez. Veja o que ocorre nos Estados Unidos. Mesmo com juro real zero há meses, a economia continua mergulhando na recessão.Agora, eles estão no caminho certo: mais de US$ 1 trilhão para recuperar o ímpeto da demanda. É o que temos de fazer com mais empenho. É preciso mais para enfrentar a recessão. Então o BC errou? Nem tanto. Chegou atrasado. Ficou esperando uma inflação que não vinha porque não podia vir com uma economia em retirada. Mas e se tivesse agido antes? Teria ajudado um pouco, mas não de forma que alterasse muito o quadro que está aí. RECESSÃO COM JURO BAIXO O ex-presidente do Banco Central Affonso Celso Pastore, em entrevista a Leandro Modé, no Estado, na quinta-feira, apresentou uma análise imparcial e lúcida. Para ele, o relevante não é a redução atual em si, mas que o BC indica uma nova redução entre 0,75 e 1,5 ponto na próxima reunião de abril. A meta é de cair para menos de 10%. "A importância disso é que vai suavizar o efeito recessivo que a crise mundial vem produzindo no Brasil. A política monetária poderá compensar parte disso." VAI AFASTAR A RECESSÃO? "Não. A economia brasileira vai para a recessão com juros mais baixos.Não há política monetária que tire a economia brasileira da recessão porque o mundo inteiro está em recessão", afirma Pastore. No fundo, há dois consensos entre os economistas: a política monetária sozinha não evita recessão num cenário de crise das proporções atuais no Brasil e no mundo e o governo precisa intensificar mais a política fiscal. Mais investimentos, mais gastos produtivos que gerem empregos, mais estímulo ao consumo interno já que não se pode contar com as exportações. O mercado mundial deve recuar entre 15% e até 20% este ano, levando com ele a economia a economia que afunda. SOMOS TODOS HEREGES Se necessário que se reduza o superávit fiscal, dizem eles em todos os jornais. Os mais ousados aceitam até mesmo déficit por algum tempo, desde que seja para reanimar a atividade econômica, evitar ou tirar o País da recessão. Até pouco tempo atrás, defender déficit, desde que consciente, era heresia e levava à exclusão do clube dos melhores. Pecado mortal. Mas, felizmente, entre os economistas há mais honestidade e menos cinismo do que na Igreja Católica quando se trata de excomunhão. Nenhum economista foi condenado ao inferno do ostracismo, ao desemprego ou excomungado por aceitar os dois déficits gêmeos, fiscal e em conta corrente. Só temem o déficit comercial, que nos expõe mais à crise do sistema financeiro internacional. E o governo passa a ter mais apoio para agir e salvar a economia nacional. É PRECISO MAIS Há também consenso de que o governo precisa avançar na política fiscal, fazer mais do que vem fazendo, criar novos instrumentos para impedir que a economia afunda mais. Mais gastos produtivos, não supérfluos e ineficazes, mais investimento. Isso é urgente, isso tem sido feito, mas o desemprego e o recuo do PIB em 3,6% no último trimestre do ano passado mostram que a crise ganha proporções de grande risco. Exige mais. COMO O JURO AJUDA Antonio Correa de Lacerda, professor da PUC-SP, afirma à coluna que o Banco Central errou ao não ter reduzido o juro mais cedo, preocupado com a inflação, quando a ameaça era outra, iminente e grave. Concorda também que apenas redução do juro não a afasta a recessão, mas proporciona um instrumento para ajudar a atenuá-la. Juro menor reduz o custo da dívida pública e libera recursos que podem ser aplicados no fortalecimento da política fiscal. Cada ponto porcentual reduzido gera uma economia de R$ 9 bilhões no financiamento da dívida, que podem ser destinados a investimentos produtivos, atenuando os efeitos da recessão, conclui Lacerda. É a política monetária, basicamente juro menor, somando-se à política fiscal, investimentos, podendo evitar que pelo menos não se repita agora o que aconteceu no último trimestre do ano passado. E LÁ FORA Pouco ou nada a esperar. Os ministros das Finanças do G-20 estão reunidos neste fim de semana para preparar a agenda do encontro dos chefes de governo, no dia 2 de abril. Obama afirmou na sexta-feira que socorrer o sistema financeiro e restabelecer o crédito não impede que se invista maciçamente na criação de emprego e no aumento da demanda. Não se anulam ou colidem, ao contrário, se unem e se somam na luta para enfrentar a recessão. Mas pouco ou nada a esperar. França e Alemanha disseram que já fizeram tudo o que tinham de fazer nessa área. Mas tanto é pouco que ambos países mergulham mais fundo na recessão.

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