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Recessão: parece que Lula acordou

Por Alberto Tamer
Atualização:

Há um clamor correndo o mundo. Ou os governos começam a investir logo em produção e consumo ou a recessão será mais profunda e prolongada que se prevê, com custos sociais imprevisíveis. O apelo mais forte está vindo do presidente eleito dos Estados Unidos, Barack Obama, que vai receber em 20 de janeiro uma economia enfraquecida por uma crise financeira que seu próprio país criou. Os indicadores econômicos se deterioram dia a dia, o desemprego aumenta e não há um único sinal de reversão nos próximos meses. Existe ainda uma pequena margem de ação para se evitar o pior. Economistas aderem cada vez mais a essa tese. Ela ainda encontra resistência entre os mais ortodoxos, que temem o déficit fiscal e o endividamento público, como se estivéssemos em tempos normais. Querem que o governo continue guardando dinheiro, enquanto a recessão vai comendo empregos e destruindo riqueza, num cenário que temos de superar a qualquer custo. "É hora de gastá-los", exclama o Prêmio Nobel de Economia Paul Krugman, seguido por Lawrence Summers, economista e ex- secretário do Tesouro de Bill Clinton. Nos Estados Unidos, há um clima de quase angústia na equipe de Obama, diante da resistência de George W. Bush e de seu secretário do Tesouro, Henry Paulson, que se mostra cada vez mais perdido. Desde a eleição, Obama pede aos congressistas e a Bush que não aguardem por ele, pois a situação é de extrema gravidade; que começassem logo a injetar dinheiro na economia real, como fizeram com o mercado financeiro, sob a forma direcionada de redução de impostos, de investimentos imediatos em obras públicas, tratamento especial, tributário e financeiro, aos empreendimentos que que gerem produção e emprego. SE NÃO FIZEREM, EU FAÇO "Se nada for feito, este será o meu primeiro ato ao assumir o governo: incentivar fortemente os investimentos oficiais e a demanda interna", disse Obama. Alguns economistas ainda discordam dessa política, querem mais investimentos e não demanda, mas não apresentam alternativas viáveis, com os resultados que a recessão exige. Acham que é preciso seguir o manual e, atentos, mas com calma, esperar os resultados que virão no longo prazo. Eles se esquecem de Keynes, para quem "a longo prazo estaremos todos mortos". Lawrence Summers, ex-secretário do Tesouro de Clinton, onde fez belo trabalho, o mais indicado candidato para recuperar o posto, afirmou, no dia 17, que faria isso não só agora, mas por vários anos. "Estímulo fiscal, no estágio atual, substituiria alguma demanda que está sendo completamente destruída pela crise do crédito", declarou ele. E, para antecipar-se aos protestos dos mais ortodoxos (logo, neste tremendo fogaréu!) de que isso não evitaria a recessão, Summers respondeu: "Essa medida não previne a recessão, mas, sem ela, é certo que a recessão será bem pior." AQUI, LULA ACORDOU. SERÁ? No Brasil, parece que o governo vive ainda na ilusão dos indicadores de emprego e demanda positivos de outubro; são passageiros, pois ainda não refletiram os efeitos da escassez de crédito em novembro e desaceleração industrial. Até a próxima safra já está sendo afetada. Mas parece que deram um cutucão no presidente. Para discutir a crise, Lula convocou para amanhã uma reunião dos seus 38 ministros - sim, leitor, trinta e oito ministérios e trinta e oito ministros. E ainda dizem que pode não haver dinheiro para estimular a economia. Tudo indica que o presidente se assustou com os últimos números, com tantos economistas nacionais e estrangeiros repetindo que estamos melhor que os outros, sim, mas não estamos livres da recessão. Um dos méritos de Lula tem sido saber ouvir e deve ter ouvido que ou a demanda interna se mantém no nível atual ou o crescimento em 2009 poderá ser de apenas 3% ou menos. SEM GRANDE PROJETOS Tudo indica que Lula quer saber quanto os 38 ministérios têm para aplicar em obras que gerem demanda por matéria-prima, serviços e empregos. Esperamos que Lula diga aos 38 ministros que cortem gastos de custeio e destinem o dinheiro para essas obras. Não precisam grandes projetos, que demandam tempo - afinal, a eleição municipal já acabou, não? -, mas até mesmo pequenos, como construção de estradas vicinais, asfaltamento, pontes, pequenos açudes, poços, cacimbas no Nordeste, de novo ressequido, escolas, hospitais. Mas, presidente, que cada ministro saia da reunião com prazo de dez dias para informar oficialmente o que eles podem e vão fazer e - importantíssimo - quando começam e quando vão terminar. Neste momento de luta frontal contra a recessão, não há tempo a perder e não existe a palavra adiar. HORA DE RASPAR O COFRE Presidente, é a hora do aperto, de raspar o fundo dos cofres e até pegar dinheiro emprestado para gastar. Aí estão os dólares do FMI e do Banco Mundial. Não resolve? Pode ser, mas ajuda muito. Obras, obras, investimento oficial, estímulo ao setor privado, com menos impostos e mais financiamento do consumo interno. Ou isso ou corremos o risco, sim, de cair em recessão. Não é a coluna que diz, são economistas menos teóricos e mais realistas, que sentem o furacão que ruge lá fora, a se aproximar de nós. *Email: at@attglobal.net

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