23 de dezembro de 2021 | 18h30
A surpresa econômica negativa de 2021 foi essa inflação que saltou em 12 meses de 4,5%, em dezembro de 2020, para algo acima dos 10%.
Mas é um impacto que tende a cair à metade ao longo de 2022. A evolução mais baixa do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) deste mês, saindo de 1,17% em novembro para 0,78% em dezembro, já parece indicação disso. As últimas projeções do Boletim Focus, do Banco Central (BC), para o índice oficial de inflação de 2022 foi de 5,03%, ainda fora do teto da meta do regulador.
Nos seus fundamentos, a alta de preços de 2021 não foi como a que prostrou o País nas décadas de 70 e 80. Não foi uma inflação de demanda, no sentido de que não foi produzida por aumento da procura por mercadorias e serviços acima da capacidade de oferta da economia. Os preços começaram a subir, empurrados pelo aumento de custos, que não atingiu apenas o Brasil, mas atacou todos os países ricos.
Essa inflação de custos aconteceu porque a pandemia desorganizou os fluxos globais de mercadorias e serviços. Navios cargueiros ficaram parados nos portos por conta das medidas de isolamento social. Com isso, foi rompida a prática just in time, que é a arrumação do setor produtivo que há décadas opera com estoques mínimos para receber peças, componentes e serviços apenas na linha de montagem. Quando a produção foi retomada, faltou de tudo. Os estoques, inclusive os de petróleo, tiveram de ser recompostos. Como fogo e vento morro acima, os preços dispararam.
A hipótese de que essa inflação deveria ser revertida rapidamente no Brasil, a partir da normalização dos fluxos de produção e distribuição, não levou em conta que bastou a estocada primária de preços para que velhos mecanismos de indexação (correção automática de preços e salários com base na inflação passada), que andavam adormecidos, voltassem a agir. A inflação mais forte colocou em movimento a corrida geral para restabelecer poder aquisitivo (conflito distributivo).
Em princípio, inflação de custos não se combate com alta dos juros, que nada mais é do que redução de moeda na economia para que menos crédito e menos meios de pagamento contenham a demanda.
Até março, o Banco Central não entendeu que deveria aumentar os juros básicos (Selic). Foi uma omissão fatal porque os mecanismos da indexação se espalharam. O Banco Central correu atrás do prejuízo, mas não a ponto de voltar a ancorar a expectativa dos fazedores de preços.
Os juros básicos, que podem atingir os 11,75% ao ano, devem brecar a atividade econômica, num ano delicado por causa das eleições.
Mas a inflação de dois dígitos parece com os dias contados. Os preços das commodities estão relativamente estáveis ou em queda forte, como é o caso do petróleo. O maior fator de incerteza sobre a produção e sobre os preços é o impacto da variante Ômicron.
*CELSO MING É COMENTARISTA DE ECONOMIA
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