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Recuperação vai exigir investimento público forte, dizem pesquisadores do Ibre/FGV

Em artigo, eles defendem, além do aumento do gasto público, que a agenda de reformas fique só para quem assumir o governo em 2023

Por Daniela Amorim (Broadcast)
Atualização:

RIO - O cenário de baixo crescimento da economia brasileira mesmo antes da chegada da pandemia de coronavírus coloca em xeque o discurso da equipe econômica de que as reformas e o ajuste fiscal dariam conta de atrair investimentos para um avanço pujante do Produto Interno Bruto (PIB). Essa agenda de reformas e contenção de gastos públicos teria de ser possivelmente retomada pelo presidente que assumir o mandato a partir de 2023. 

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Até lá, uma saída para a equipe econômica deveria ser “um programa de investimentos públicos vigoroso que fosse capaz de estimular o setor privado a investir e empregar fortemente mão de obra”, defende um artigo de pesquisadores do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), obtido com exclusividade pelo Estadão/Broadcast.

“Vai aumentar o gasto público? Vai. Vai aumentar a dívida pública? Vai. Meus filhos e meus netos vão pagar por ela, vai ter um aumento de imposto lá na frente, infelizmente. Mas vai ter emprego, o governo vai arrecadar mais e a gente vai saldando isso aos pouquinhos”, defendeu Claudio Considera, coordenador do Monitor do PIB da FGV, que assina o texto ao lado das pesquisadoras Juliana Trece e Elisa Andrade, também do Ibre/FGV.

Nesta quarta-feira, 22, o governo anunciou um programa de recuperação econômica para o pós-covid-19 que prevê um incremento de R$ 300 bilhões em concessões e parcerias público-privadas e outros R$ 50 bilhões de investimento públicos. Secretários da equipe Econômica, no entanto, defendem que a recuperação terá de vir pela mão do setor privado.

Grafite na região da Avenida Paulista pedem que a população fique em casa durante a pandemia. Foto: Foto: Alex Silva/Estadão - 19/4/2020

O artigo sugere a criação de um grupo para estudar e propor projetos de privatização e concessão de serviços públicos, quando seus preços já estivessem regularizados, alertando que qualquer reforma tributária ficaria para o próximo governo, de forma a retirar um pouco da incerteza do cálculo econômico. “Deveríamos ter feito isso desde meados do ano passado e estaríamos melhor preparados para enfrentar a situação atual”, diz o documento, assinado pelos pesquisadores do Ibre/FGV.

“Deu errado a ideia de que o setor público ia sair dos investimentos e o setor privado ia entrar. As empresas não vieram. Acharam que quando fizessem a reforma da Previdência, as contas do governo estariam equilibradas, e passariam rapidamente a reforma tributária, mas isso não aconteceu”, lamentou Claudio Considera.

Como consequência, a economia brasileira continuava crescendo lentamente por mais de três anos consecutivos, frustrando ao longo do ano expectativas mais otimistas do mercado financeiro, que reduziam suas projeções para o PIB conforme passavam-se os meses do ano. 

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Para os pesquisadores, dados do Monitor do PIB até fevereiro deste ano mostravam que a evolução da taxa de crescimento da economia acumulada em 12 meses sinalizava para um desempenho “tão medíocre como o dos três últimos anos”, mesmo antes da pandemia de coronavírus.

De acordo com cálculos do Monitor do PIB-FGV, a taxa de crescimento do PIB em 12 meses permanecia em torno de 1,0% desde junho do ano passado. Nessa mesma comparação, o PIB dos serviços também oscilava nesse patamar no período, chegando a 1,1% em fevereiro. A indústria de transformação ficou estagnada (0,0%) nos 12 meses encerrados em fevereiro deste ano.

“A grande vantagem de ter os dados mensais pelo Monitor do PIB é mostrar que a situação já estava ruim, que não ia ficar bom, que estavam erradas as contas mostrando que o PIB cresceria 3% este ano. Não é só culpa do coronavírus”,concluiu Considera.

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