PUBLICIDADE

Recurso extra reduz impopularidade de plano, diz economista

Na tentativa de ampliar o apoio ao pacote anticrise dos EUA, custo do projeto teve aumento de US$ 150 bi

Por Giuliana Vallone
Atualização:

Os US$ 150 bilhões extras aprovados pelo Senado dos Estados Unidos como parte do pacote de resgate às instituições financeiras - que já previa outros US$ 700 milhões - foram a forma utilizada pelos congressistas de reduzir a impopularidade do plano frente aos contribuintes, analisou o professor da Fundação Instituto de Administração (FIA), Celso Grisi. Segundo ele, os recursos adicionais servirão para atender a três demandas: ampliar as garantias de depósitos públicos aos pequenos e médios bancos; garantir cortes de impostos e incentivos fiscais; e cobrir os prejuízos das pessoas que correm o risco de perder suas casas após a crise imobiliária que tomou conta do país.   Veja também: Pacote só será votado se tiver aprovação certa, diz Pelosi Crise afetará neoliberalismo, dizem analistas Especialistas dão dicas de como agir no meio da crise Entenda o pacote anticrise que passou no Senado dos EUA A cronologia da crise financeira  Veja como a crise econômica já afetou o Brasil Entenda a crise nos EUA    "O que aconteceu foi uma imensa dificuldade por parte da Câmara dos Deputados de explicar nos seus distritos como é que eles podem aprovar um pacote tão favorável aos banqueiros, esquecendo o seu eleitorado", explicou, comentando a rejeição da Casa ao antigo pacote. Para Grisi, o grande recado dessa reformulação do plano é que "você não socorre banqueiros, no sentido de salvar um sistema, às custas do contribuinte". "O contribuinte entende que vai ter que pagar essa conta, mas ele começa a impor condições também, ele não quer pagar essa conta indiscriminadamente", afirmou.   Na avaliação do economista, as mudanças no plano são boas porque aumentam sua credibilidade perante o povo norte-americano. Essas alterações, porém, não garantem uma redução na carga tributária para o contribuinte, que é quem está pagando a conta dos prejuízos. Grisi explicou que os incentivos fiscais previstos estão muito ligados a investimentos, em setores como desenvolvimento de fontes de energia alternativa e pesquisa. "A carga não há como baixar. O governo americano vai inclusive ter que cortar subsídios agrícolas, ele não vai ter dinheiro pra manter o mesmo subsídio. O país está num nível de endividamento extremamente elevado", disse.   Grisi negou que os novos recursos disponibilizados na alteração do pacote já estivessem previstos no Orçamento norte-americano. "Não só não estavam previstos como eles solicitam, por isso mesmo, a autorização do Senado para que o Banco Central e o Tesouro americanos aumentem a dívida nacional, que vai agora para US$ 11,5 bilhões. Isso provavelmente vai corresponder à emissão de dinheiro. Na medida em que não houver mais recursos, o Tesouro vai ter que mandar emitir mesmo. Não tem saída", disse.   Aprovação   O economista explicou também que as alterações reduzem a impopularidade do pacote, mas não a exterminam. "Impopular ele vai ser, mas ele vai garantir a aceitação. Vai ser aquela aprovação pela renúncia, 'já que tem que aprovar, então aprova. Mas pelo menos assim nós ficamos mais arrumados do ponto de vista da opinião pública'", disse. Na opinião dele, o novo plano acabou introduzindo elementos que permitem a sua aprovação pela população.   Sobre as declarações da presidente da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, de que o pacote só será colocado em votação nesta sexta-feira se sua vitória estiver assegurada, Grisi afirmou que há espaço para nisso. "Há dois candidatos à Presidência que concordam com ele, e a maioria das lideranças dos dois partidos norte-americanos também concordam. Há o reconhecimento de que teria que haver um certo espírito partidário para a aprovação do plano. O partido vai pegar o telefone, pedir para os grandes formadores de opinião tomarem a iniciativa de fazer o apelo em nome do presidente, em nome da imagem americana no mundo. O apelo vai ser forte", disse.   Mercado   O economista afirmou, porém, que o plano a ser votado na Câmara nesta sexta é um primeiro socorro, "mas ninguém acredita que esse buraco tenha só esse tamanho, todo mundo acredita que ele é um pouco maior". Isso explicaria a queda nas bolsas de valores mundiais na quinta-feira, mesmo depois da aprovação do pacote no Senado. "Tudo isso é um grande ajuste de preços. É um momento conturbado, difícil da economia", disse.   Para ele, se o plano passar na Câmara, vai criar um conforto imediato nas bolsas. A partir daí, porém, terá que convencer as pessoas de que vale a pena, de que é capaz de segurar o problema todo, de acordo com Grisi. "Quando os primeiros efeitos começarem a aparecer, não havendo mais grandes novidades no sentido de outros bancos quebrando fortemente, ele vai inspirar a confiança necessária em questão de um mês, um mês e pouco", disse.   A questão, porém, é a probabilidade de essas novidades cessarem. Na opinião de Grisi, ainda há notícias a serem divulgadas no futuro. "Há muitas empresas seguradoras, muitos fundos de pensão que investiram nesses papéis podres. Acho que ainda tem novidade para aparecer sim, e não é pouca novidade, não. E o plano vai ser testado nesses instantes", concluiu.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.