Rede social vira espaço de ‘gurus’ em finanças

Produção de influenciadores cresce com chegada de novos investidores à Bolsa

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Por Renato Jakitas
Atualização:
3 min de leitura

Há quatro meses, o perfil do engenheiro Henrique Bredda se tornou o centro das atenções do FinTwit, nome informal que designa a comunidade do mercado financeiro presente na rede social. Com 170 mil seguidores, ele se estabeleceu como uma espécie de ‘guru virtual’ entre os investidores da Avenida Faria Lima. Mas, nos meses de março e abril, os fundos administrados por sua gestora, a Alaska, com R$ 10 bilhões em ativos, derretiam 70% e o esforço de Bredda era o de afastar os boatos de que iria quebrar. 

“Quem sempre me acompanhou no Twitter sabia já das minhas crenças e qual a minha estratégia de investimentos. Na verdade, eu uso o Twitter para isso mesmo, para deixar claro o que eu penso e para ninguém nunca ser pego de surpresa com momentos de queda como o que ocorreu”, conta o gestor, que desde 2018 mantém o perfil com posts diários – onde, além de falar de investimentos, comenta sobre cenários econômicos.

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Bredda, sócio da Alaska, publica posts diários com dicas de investimento Foto: Nilton Fukuda/Estadão

O FinTwit, ou #FinTwit, é oriundo das iniciais de Financial Twitter, um movimento nascido nos Estados Unidos e que, também aqui no Brasil, vem se popularizando desde 2018 e crescendo com o número de novos investidores na Bolsa. Ali, quase não há espaço para outro assunto a não ser ações e produtos derivados do mercado de capital. “Ninguém fala sobre renda fixa no Twitter”, afirma Roberto Indech, estrategista-chefe da Clear Corretora, braço da XP Investimentos para o mercado de renda variável.

O que nasceu como nicho, um clube entre gestores e analistas, hoje atrai também pessoas que começam a dar os primeiros passos no mercado financeiro. 

O estudante de administração Yan Rodrigues, de 25 anos, passou a recorrer ao Twitter desde que o Banco Central deu início ao ciclo de queda da taxa de juros – em julho do ano passado, quando a Selic estava em 6,5% ao ano. “Gosto de acompanhar links de vídeos e pesquisar muito material. Gosto particularmente de um professor que tem muita experiência de Bolsa e é sensacional. Ele fez com que eu entendesse o mercado financeiro e aprendesse a olhar os indicadores certos”, diz.

Para o professor de canais digitais da ESPM, Alexandre Bessa, a escolha da comunidade de investidores pelo Twitter deriva da rapidez da rede social, que se baseia em mensagens concisas e diretas – como as ordens de venda e compra de ações dos traders profissionais. “Funciona quase como uma rede com manchetes de notícias para tomadas de decisão”, afirma. 

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Segundo estudo interno da rede social, somente nos meses de janeiro a abril deste ano, foram 2,6 milhões de postagens sobre finanças relacionadas ao Brasil, um crescimento de 84% em relação ao mesmo período de 2019. Dos usuários da plataforma no País, 20% têm investimentos em títulos ou ações.

Vídeos. Para além do Twitter, o negócio de aconselhamento e educação financeira para jovens aprendizes de investidores se mostrou eficiente e rentável também no YouTube. Gestoras de fundos, como a Novus Capital, ou corretoras, como a Necton, têm investido na rede de vídeos para fixar suas marcas entre os novos investidores. 

Apesar de não gostar do rótulo de influenciador, Luiz Eduardo Portela, da Novus, faz vídeos semanais falando de investimentos e educação financeira. André Perfeito, economista-chefe da Necton, realiza lives quase diárias, entrevistando políticos com cargos de liderança e integrantes da equipe econômica do governo federal. “Nossa gestora nasceu digital para falar com esse novo público”, diz Portela.

Mas quem puxa a fila dos influenciadores no YouTube não é um economista, mas a empresária Nathalia Arcuri, do Canal Me Poupe. A ex-jornalista, que tem 5,3 milhões de seguidores e faturou R$ 20 milhões em 2019, dá dicas de finanças pessoais. Neste ano, ela projeta R$ 45 milhões de receita, dinheiro que será engrossado pela recente demanda por cursos sobre investimentos.

“Já temos cursos de independência financeira e, agora, com a procura para entender ações, vamos fazer um de renda variável”, diz. Os cursos são gravados e custam cerca de R$ 2 mil. 

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