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Redução de taxas é única forma de ampliar vendas para UE

A avaliação é do presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), Marcus Vinicius Pratini de Moraes

Por Agencia Estado
Atualização:

Apesar da competitividade da carne bovina brasileira, a redução das tarifas de importação é a única forma de o Brasil ampliar as vendas do produto para a União Européia (UE), disse nesta terça-feira o presidente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), Marcus Vinicius Pratini de Moraes, em entrevista ao vivo para o AE-Agronegócios. Em conjunto, os 25 países que formam a União Européia (UE) são hoje o maior mercado para o Brasil. "O problema com a Europa são os tributos. Nós vendemos em torno de 240 mil toneladas por ano. Desse total, apenas 2% entram com impostos de 20%; 32% da carne pagam 98,2% de imposto e dois terços (66%) pagam 176,7% de imposto. É isso que impede o crescimento de nossas exportações", diz Pratini. Ele contou que na segunda, durante um almoço, questionou o comissário europeu Peter Mandelson sobre o assunto. "Perguntei como é possível que um Rolls Royce entre no Brasil pagando 35% de imposto e nossa carne chega a pagar 176% quando entra na Europa. Há uma assimetria que precisa ser corrigida", defende. Segundo o executivo, o Brasil cada vez mais vende cortes que podem suportar essa taxação como filé mignon, picanha e contra filé. "A única forma de ampliarmos nossa oferta é com uma redução dessas taxas", disse. Consumo O ex-ministro da Agricultura disse também que mesmo com o aumento das exportações de carne bovina do Brasil para os países emergentes, ainda há espaço para continuar crescendo nesses mercados. Segundo ele, o crescimento desses países fez com que houvesse uma melhoria nos padrões alimentares e que isso significa consumo de proteína animal. "Mesmo que algumas populações sejam vegetarianas, a tendência é que o mundo emergente cresça cada vez mais no consumo de carne, particularmente carne bovina", disse Pratini. Apesar da tendência de crescimento do mercado nos países emergentes, o presidente da Abiec diz que o mercado europeu também está na mira dos frigoríficos brasileiros. Segundo Pratini, o Brasil participará, em Paris, da Sial, uma das maiores feiras de alimentos da Europa, onde será preparado o já tradicional churrasco para os principais importadores de carne de Europa e do mundo. "O churrasco é o grande instrumento de promoção de venda da carne brasileira no exterior", disse. A estratégia da Abiec é mostrar aos importadores o sistema de criação bovina no Brasil, a situação sanitária, principalmente em relação à febre aftosa, além da estrutura de comercialização e exportação de carne. "Com isso nós mostramos que nossa cadeia da carne é uma cadeia cada vez mais moderna e bem estruturada", disse. EUA A retomada das exportações americanas de carne bovina não vai atrapalhar o Brasil, líder do mercado internacional, defendeu Pratini. Nas últimas semanas Coréia do Sul e Japão retomaram as compras de carne dos Estados Unidos depois de um período de embargo provocado pela descoberta de dois casos de vaca louca no rebanho americano. Estes países são dois dos maiores compradores mundiais do produto. Na avaliação de Pratini, os preços da carne americana são muito mais elevados que os do Brasil e, portanto, carecem de competitividade na maioria dos mercados. Outros fornecedores, como a Austrália, também não representam ameaça. "A Austrália não tem volume de produção, nem tem como aumentar sua produção para atender outros mercados que não sejam seus mercados tradicionais, ou seja, Japão Taiwan, Coréia do Sul, Cingapura, Hong Kong", afirma. A lição que o Brasil tem que fazer agora é agregar volume, mas agregar valor. "Exportamos mais do que Austrália, Argentina e Uruguai juntos. Nosso problema é renda. Nós precisamos acessar 60% do mercado que estamos afastados, ou seja, Estados Unidos, Taiwan, Coréia e Japão que não compram nossa carne argumentando questões sanitárias, que servem para proteger interesses comerciais", afirma. Para Pratini, o desafio dos próximos três anos será a abertura do mercado americano de carne fresca. Os EUA já são os maiores compradores de carne industrializada do Brasil. Pratini está descrente das negociações comerciais no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC). "Não acredito que vá existir algum avanço importante". Mas ressalta ser importante manter o cenário das negociações multilaterais aberta. "O fracasso total de Doha não seria bom para nós". Cartel O ex-ministro afirmou que acha difícil existir um cartel da indústria de carnes no Brasil. Segundo ele, no País, existem mais de 600 frigoríficos e que por esse motivo seria muito difícil controlar os preços do mercado. "Eu tenho a impressão que existem problemas localizados mas que não justificam esse tipo de questão. Espero que isso tenha uma solução satisfatória", disse Pratini, ao garantir que a acusação de formação de cartel não fere a imagem das indústrias brasileiras no exterior. Defesa sanitária Para Pratini, o governo brasileiro deveria voltar a priorizar a defesa sanitária, cujas falhas resultaram no embargo de dezenas de países às exportações de carne do País. "O Brasil já teve um status sanitário melhor e não faz tanto tempo. A prioridade para sanidade animal precisa ser revigorada. É preciso que haja recursos." Embora reconheça as falhas no sistema de defesa brasileiro, o ex-ministro argumenta que o País não deve admitir o uso "abusivo" de normas sanitárias como forma de protecionismo. "É evidente que nos últimos anos houve um descaso, particularmente nos estados onde surgiu esse problema, principalmente no Mato Grosso do Sul, mas tudo isso pode ser corrigido", afirma. O presidente da Abiec lembra ainda que toda a carne vendida para a Europa, por exemplo, é desossada e maturada e que, portanto, não há condições físicas desse produto "carregar" o vírus da febre aftosa. Matéria alterada às 16h11 para acréscimo de informações

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