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''Reduz o juro de 6% ou deixa flutuante''

Para o economista, tributação proposta pelo governo não resolve o problema de haver um piso para a taxa de juros

Por Adriana Chiarini
Atualização:

A tributação do rendimento da caderneta de poupança a partir de 2010, para valores acima de R$ 50 mil, e a redução do imposto dos fundos de investimento no curtíssimo prazo abrem espaço para a redução de juros, mas não resolvem o problema de haver um piso para a taxa de juros, avalia o ex-presidente do Banco Central e sócio da Tendências Consultoria, Gustavo Loyola. Ele destaca que a taxa da poupança é fixa em 6% ao ano mais a taxa referencial de juros (TR). "Ou reduz esses 6% fixos ou deixa a taxa de juros flutuante", diz ele. Loyola foi um dos criadores da TR e, mesmo antes de ocupar a diretoria do Banco Central, cuidou diretamente de temas como poupança e financiamento imobiliário como funcionário do Departamento de Normas do BC. "As medidas resolvem no curto prazo o espaço para baixar juros, mas fica tudo meio torto", disse o ex-presidente do BC. A seguir, os principais trechos da entrevista. O que o sr. achou das medidas anunciadas para a poupança? No curtíssimo prazo, abrem espaço para redução dos juros, mas não resolvem o problema de ter um piso para a taxa de juros. A poupança tem rentabilidade de TR mais 6% ao ano. Ou se reduz esses 6% fixos ou se deixa a taxa de juros flutuante. E se abre espaço para a redução de juros a partir do ano que vem, que é quando a poupança vai ser tributada. Este ano, o governo pode é reduzir a tributação sobre os fundos. O sr. acha que há risco de o governo reduzir a tributação sobre os fundos este ano e subir de novo em 2010? Acho que sim. O que estão sinalizando é que o que se quer é a tributação da poupança a partir de 2010, mas, se este ano a poupança ficar muito atraente, então se evita a migração pela redução do tributo para os fundos. É um sistema de tributação muito complexo e que muda a lógica de tributação, que atualmente é por instituição financeira e será por CPF. Vai ser difícil controlar. As medidas resolvem no curto prazo o espaço para baixar juros, mas fica tudo meio torto. Por que o sr. acha que o governo deveria ter alterado a rentabilidade da poupança, de TR mais 6%? Na prática, continua tendo um piso para os juros. Suponha que a taxa Selic caia a 5%. Pode me chamar de sonhador, mas isso não é uma coisa que esteja totalmente fora de cogitação e o governo tem que se antecipar ao futuro. E aí? Vai ter TR negativa? Na sua opinião, por que o governo não optou por uma mudança diretamente nos juros da poupança? Acho que havia pessoas no governo dispostas a fazer uma reformulação mais profunda, mas o governo ficou incomodado com críticas. O próprio Lula teve de aparecer e dizer que não ia prejudicar os pequenos poupadores. Lamentavelmente, por questões políticas e eleitorais, empurraram o problema com a barriga. Se o governo tivesse atacado diretamente a questão dos juros, poderia beneficiar os mutuários. Como ficam os juros dos financiamentos imobiliários feitos com base nos recursos da poupança? Todo mundo só se preocupa com os poupadores. Mas e os tomadores de crédito imobiliário? Por que eles não são beneficiados com a redução de juros? Isso precisa ser visto. Não é fácil, mas terá de se encontrar solução. Era o momento de alterar a TR? Talvez fosse o momento de mexer na TR. E também de pensar em mudar a própria filosofia do crédito habitacional.

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